metropoles.com

Juiz Dredd, o maior personagem dos quadrinhos ingleses, faz 40 anos

O super-policial foi adaptado a diversas mídias e teve dois filmes

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
juiz_dredd_Brian_Bolland_capa
1 de 1 juiz_dredd_Brian_Bolland_capa - Foto: null

Em uma das edições do livro “1001 Comics You Must Read Before You Die” (um precioso volume da série “1001” que, lamentavelmente, não saiu no Brasil), quem estampa a capa, para o estupor dos fãs de quadrinhos, não é o Super-Homem ou Snoopy, e sim uma espécie de policial hiper-paramentado vindo de um futuro distópico. Seu nome: Juiz Dredd. Seu bordão: “Eu sou a lei”.

 

Mas o que tem de especial nesse personagem
para ilustrar a capa dos “1001 Quadrinhos Para Ler Antes de Morrer”? Ora, Dredd é a figura dos quadrinhos britânicos mais popular do mundo. Sua imagem (a armadura urbana; o capacete que nunca revela seu rosto; a insígnia com seu nome) resplandece em bonecos, camisetas, pôsteres, videogames, cards, RPGs, etc., além de estrelar dois caros longas-metragens com seu nome (o primeiro um fiasco com Stallone). A famosa banda de thrash metal Anthrax tem um de seus maiores hits inspirado no clássico bordão “I am the Law“.

Em 2017, esta sumidade do universo ficcional dos quadrinhos completa 40 anos de estreia. Não é pouca coisa para um personagem, no mínimo, polêmico. No conceito original de Dredd estão os “juízes”, espécie truculenta de super-policiais fortemente armados e bestificantemente obedientes às leis.

Eles devem impor ordem ao caótico mundo cyberpunk da über-megalópole Mega-City One (800 milhões de habitantes), uma gigantesca conurbação na América do Norte tomada por assassinos, traficantes, mutantes, psiônicos e todo tipo de escroques. O início da jornada de Dredd é no ano de 2099. Os juízes possuem a famosa premissa do “juiz, júri e executor”, e os personagens envelhecem anualmente junto com a série.

Dredd fazia muito sentido em 1977. Criado pelo roteirista John Wagner (que se tornou espécie de embaixador do personagem até hoje) e desenvolvido visualmente por Carlos Ezquerra, ele tinha em suas ideias iniciais uma virulência essencialmente punk, típica do ambiente desiludido da Inglaterra do final dos anos 1970, quando uma estética de agressão tomava conta das utopias.

À sombra da guerra nuclear, do poder das corporações e da mídia corrupta, a estética punk cristaliza um mundo pós-moderno. O próprio punk rock inglês data também desta época: os discos de estreia de Sex Pistols e The Clash também são de 1977.

A polêmica em torno de Dredd reside em seu próprio conceito: muita autoridade nas mãos de poucas pessoas gera um espectro de fascismo. A inflexibilidade do juiz, sua atitude cega diante da lei e a resposta através da violência o tornam espécie de anti-herói aos olhos politicamente corretos de hoje.

A questão é que o “Juiz Dredd” nunca pretendeu ser um quadrinho moralista, e seu contexto dentro do ambiente das HQs britânicas é elucidador. O personagem surgiu junto com a semanal “2000 AD”, uma das mais longevas e revolucionárias publicações britânicas de quadrinhos. Focada no gênero da ficção científica, a revista ajudou a ditar o zeitgeist do cyberpunk de 1977 — ao apresentar personagens alucinados e maníacos como Halo Jones, o Renegado e o próprio Dredd.

Autores de quadrinhos célebres como Alan Moore, Neil Gaiman, Dave Gibbons, Brian Bolland e Grant Morrison publicaram na revista. Podemos dizer, sem exageros, que a influência de Dredd se estende desde ao romance-síntese da estética cyberpunk (“Neuromancer”, de Gibson) até a coisas como Robocop e Mad Max.
O mundo distorcido de “2000 AD”, espelho nefasto de cada época recente do nosso, não pertence à utopia capitalista dos super-heróis americanos.

A desproporção e os extremismos de Dredd não são, sem hipocrisia, menores do que as assimetrias do nosso próprio mundo, cada vez mais assustadoramente cyberpunk.

Ao longo dos anos, o aspecto mais radical de Dredd foi sendo suavizado para que ele se tornasse mais próximo de um super-herói americano. O debate ético em torno do personagem fez com que ele tivesse de questionar seu próprio autoritarismo. Como o personagem envelhece junto com a revista, Dredd é hoje um veterano com mais de 70 anos. Isso o torna um dos mais durões dos quadrinhos, talvez ainda com vigor para mais 40 anos de história.

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?