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Sem perdão para Bolsonaro na folia das ruas

Mas nas cinzas da vida real, até a oposição pega leve. E a democracia segue em risco: “Besteira, deixa pra lá de novo”

atualizado

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E lá vem a turma do Grêmio Recreativo Escola de Samba “As Instituições Estão Funcionando” para amaciar mais uma vez. Nada grave, o presidente da República foi flagrado apenas espalhando um vídeo de uma manifestação a favor do fechamento do Congresso e do STF. Besteira, deixa pra lá de novo, vamos normalizar o monstro que a democracia agradece.

Diante da passada de pano federal, só me resta rebobinar a folia na memória. Foi bonita a festa, pá, fiquei contente. O bolsonarismo levou uma surra de crítica, sátira, gozação, como deve ser um Carnaval para extravasar, ufa, em um período de arrocho econômico, destruição na cultura, estragos amazônicos e trevas nos costumes. 

Do luxo da Sapucaí aos ursos de Pernambuco, no Galo da Madrugada ou no Pacotão de Brasília – bloco clássico que surgiu ainda nos anos 1970 e fez fuzarca em momento barra pesada da Ditadura dos generais. O enredo deste ano repicou, sem arrodeios: “O Pacotão vai escrachar no Carnaval/ Essa milícia e também o laranjal/ Ô seu Queiroz que vida boa/ Só engordando a rachadinha da patroa”.

Até no desfile oficial de SP, que costuma ser mais recatado, o educador Paulo Freire triunfou com a escola Águia de Ouro, para infernizar a ressaca dos bolsominions nesta Quarta-feira ingrata. 

E se na vida real o presidente se refugiou nas padocas de tiozões da Baixada Santista, como vimos na sua passagem pelo Guarujá, o seu boneco gigante sofreu nas ladeiras de Olinda. Coitado do folião que o conduzia, mais uma vez precisou de esquema especial de segurança. 

Óbvio que Carnaval não ganha eleição, mas dá um belo sacode na realidade e lava a alma. Tudo que o Brasil carece neste momento. Um banho de sátira e erotismo. E na peleja de Eros (instituto de vida) contra Thanatos (o instinto de morte, segundo o doutor Freud), venceu o prazer. Não é pouco. Evoé, Baco!

Agora basta seguir a dica da rainha maior, a majestade Elza Soares: a peleja com o traste é nas ruas. A folia momesca ensinou o caminho. Muito chá de boldo e até a próxima. 

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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