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O meu grande vencedor do Oscar 2020 seria o “Bacoringa”, com o coreano Parasita papando também várias estatuetas. Nada mais justo. Bacoringa, óbvio, seria a mistura do pernambucano Bacurau com o norte-americano Coringa. Já pensou o Lunga (Silvero Pereira) e o Joker (Joaquin Phoenix) juntos? Uma dupla capaz de revolucionar a humanidade.
Infelizmente, a fita nacional dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles – vencedora do festival de Cannes e sem dúvida o melhor filme de 2019 – não foi indicado para o prêmio da Academia. Fazer o quê nesse mundo injusto e sem porteira?
Reservo agora toda a minha torcida para a categoria documentário, com o representante brasileiro Democracia em Vertigem, da diretora mineira Petra Costa. A contrapropaganda oficial do Palácio do Planalto deu até uma mãozinha na reta final da disputa. A tomar pelo filme queimado de Bolsonaro no estrangeiro, temos chance, sim, senhor.
Ao contrário dos secadores e invejosos, coloquei a cerveja para gelar e reservei a pipoca. Parcial como os melhores documentários desde os primórdios do cinema, o olhar de Petra incomoda muita gente – e repare que a sua narrativa contempla o jogo sujo das alianças do PT e a corrupção das empreiteiras, inclusive da construtora da família, a Andrade Gutierrez.
Talvez o que pegue, nesse caso, seja a palavra golpe, esse vocábulo proibidão para todos os envolvidos com o impeachment da ex-presidente Dilma. Não pega bem para a maior parte da mídia, o Congresso e o poder judiciário – todos contaram uma outra história e ninguém aprecia uma carapuça.
Ninguém há de negar, no entanto, que as mãozinhas nervosas de Michel Temer na rampa do Planalto – imagem fabulosa de Democracia em Vertigem – poderiam render ao vice um Oscar especial de vilão. Atuação espetacular. Só o Bacoringa daria um jeito nessa parada.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.