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– Perdeu, a gente sabe que você está aí! Joga a arma para fora –, deu a ordem um dos 75 policiais da caçada a um dos bandidos mais procurados do país.
De dentro da casa, em Esplanada (BA), a resposta veio em forma de bala, segundo os comandantes da caçada. A polícia então invadiu a residência e alvejou, com dois tiros de fuzil, o ex-policial carioca Adriano da Nóbrega, miliciano ligado ao senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República.
A versão oficial das polícias da Bahia e do Rio deixou uma série de perguntas e uma suspeita elementar, meu caro Watson, de queima de arquivo. Desaparecido havia um ano, o facínora leva para o túmulo a memória de um rastro de assassinatos, negociatas mafiosas com o Jogo do Bicho e até possíveis segredos da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
O homem que sabia demais teria muito a explicar sobre o gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia fluminense. Era amigo íntimo de Fabrício Queiroz, o ex-assessor envolvido no episódio das “Rachadinhas”. Um roteiro, longe de ser fechado, que renderia um filme digno de Oscar.
Pena que não se trata de ficção. É o cenário político e policial do Brasil 2020. Na vida real, a trama continua. O facínora abatido no litoral norte da Bahia deixou 13 celulares na cena do crime. Quem sabe aí estejam as respostas que o Ministério Público tanto espera no caótico verão carioca.
O resto é silêncio. Da família Bolsonaro e do ministro da Justiça, Sergio Moro, que não viu motivos para listar o miliciano na sua tabuleta de “Procurados”. Arquivo bom é arquivo morto?, como indagou o jornalista Bruno Torturra (canal Fluxo)? O faroeste continua, e hoje o assassinato de Marielle completa 700 dias no calendário das barbáries sem solução.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.