Poesia e vida:
100 anos de Clarice Lispector
por Ranyelle Andrade
Chaya Pinkhasovna Lispector nasceu há 100 anos, no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, uma aldeia da Ucrânia pertencente à Rússia
Seus pais eram judeus que emigraram para o Brasil em 1922, devido à violência e à constante perseguição antissemita. No país ocidental, eles mudam de nome e Chaya passa a se chamar Clarice
Na juventude, ela foi professora particular de português e matemática, estudou direito e trabalhou como repórter.
Esta última experiência foi um ponto de partida para seu reconhecimento como escritora
Pertencente à terceira fase do movimento modernista, ela imprimiu em suas obras uma literatura intimista, de sondagem psicológica e introspectiva, com reflexões sobre o pensamento e a condição humana
Seu primeiro livro,
Perto do Coração Selvagem,
foi lançado em 1943 e foi bem recebido pela crítica brasileira. Na época, ela chegou a ser comparada a escritores como James Joyce e Virgínia Woolf
Sua forma de escrever representava uma inovação no romance brasileiro, por dispensar uma linearidade discursiva e adotar o ponto de vista do narrador não-onisciente para contar a história
Outra marca de Clarice é o uso da epifania – momento em que as personagens, no geral, mulheres, passam por uma revelação ou uma tomada de consciência diante de um fato do cotidiano
Entre suas principais obras, estão Laços de Família (1960), A Paixão Segundo G.H. (1964), Água Viva (1973) e A Hora da Estrela (1977)
A escritora dizia que escrevia para se entender e para "dizer o indizível". A partir de A paixão segundo G.H, seu trabalho passa a ser analisado com questões da filosofia e conceitos metafísicos
Chamada pela imprensa muitas vezes de "misteriosa", "exótica" e "bruxa", ela chegou a participar da Conferência Mundial das Bruxas, na Colômbia, como convidada. Desconcertada e sem saber muito o que palestrar no evento, leu o conto O Ovo e a Galinha e foi muito aplaudida
Em paralelo, Clarice trabalhou como jornalista até 1975, passando por revistas e jornais, escrevendo crônicas e colunas para o público feminino
Ela faleceu de câncer em 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, um dia antes de completar 57 anos. Durante o período da doença, continuou escrevendo A Hora da Estrela, último livro publicado em vida.
Nele está Macabéa, uma anti-heroína discriminada por todos que a cercam e que só descobre sua Hora de Estrela ao se deparar com a morte. “Assim é que experimentei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e gran finale”, diz um trecho
O legado de Clarice continua vivo, sendo compartilhado por novas gerações. The Complete Stories, coletânea de contos dela, publicada em 2015 nos Estados Unidos, por Benjamin Moser, chegou a ser eleito pelo The New York Times como um dos melhores livros daquele ano
Foi a primeira vez que um autor brasileiro ganhou capa no suplemento literário mais influente dos EUA, o The New York Times Books Review
TEXTO:
Ranyelle Andrade
IMAGENS:
Google
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