Você prefere que o seu artista favorito viva um casamento em segredo?
Infelizmente este tipo de circunstância é muito comum até hoje entre artistas e poucos enfrentam a questão ainda quando vivos
atualizado
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Na semana passada morreu Kid Vinil, representante da galera que deu o tom divertido da música dos anos 1980. No seu velório, os corações se derreteram por conta de Kosmo, o golden retriever que ficou o tempo todo perto do caixão. Até que alguém perguntou: mas quem trouxe o cachorro para cá? E foi assim que o público descobriu Jaime Gaeta, o homem com quem Kid viveu por quase 30 anos.
Kid Vinil, na verdade Antônio Carlos Senofonte (Kid era apenas sua persona artística) achava que revelar sua sexualidade – que o público já intuía – poderia atrapalhar a carreira, disse seu companheiro ao “Fantástico” de domingo. Aliás, o tema da matéria foi a dor do cachorro. O fato do seu relacionamento secreto foi apenas mencionado e justificado.
Infelizmente este tipo de circunstância é muito comum até hoje entre artistas e poucos enfrentam a questão ainda quando vivos ou antes de uma idade em que a sexualidade parece já estar dormente.
Dentre os que não conseguiram, passam na minha cabeça agora Cauby Peixoto; o ator Rock Hudson; o músico Liberace, que ganhou uma cinebiografia que vale ser vista a respeito do assunto, “Behind the Candelabra”; e tem o… (quase esqueci que este ainda não morreu, então melhor calar).
Pensando agora com a cabeça de fã que ama um ídolo, já fui a shows do Kid aqui em Brasília e tem uma galera que o curte: se você gosta de um artista, vai mesmo querer que ele viva um relacionamento em segredo para não te magoar? Quer condená-lo a amar em cárcere privado? Ou você admira a pessoa e, em nome dos momentos mágicos que só a arte te proporciona, você seria capaz de dar toda a força para ele amar com liberdade e ser tão feliz quanto você se sentiu ao curtir sua obra?Mas eu deixo claro aqui que este texto não é para criticar o Kid Vinil, nem o seu companheiro. Eu jamais me colocarei ao lado de quem os oprimia enquanto vivos. Não podemos misturar a crueldade da opressão com o instinto de sobrevivência do oprimido. Precisamos lembrar que ele vem de uma época em que, para muitos, ser artista era sinônimo de homossexualidade e também de Aids, ou uma condenação à morte.
Ainda assim, lamento a falta de atitude dele. Lamento que alguém pode estar dizendo agora: mas para mim não faria diferença, eu o admiro da mesma forma. Lamento que talvez ele não tenha se sentido apoiado por seus pares (tanto LGBTs, quanto artistas) para assumir seu amor. Lamento pelo luto de Kosmo. Lamento que sua história de amor precisou ficar no armário por 30 anos.
Lamento ainda que, mais uma vez, a chave do armário de alguém precisou ser a pá de um coveiro.