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O Fim de Eddy: livro conta a superação de uma infância homofóbica

Obra de autoficção escrita pelo francês Èdouard Louis debate os impactos de um ambiente pouco inclusivo

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Existe um gênero literário que eu gosto muito: a autoficção de artistas entre 18 e 24 anos. Nessas obras, há um distanciamento dos traumas infantojuvenis e, ao mesmo tempo, um olhar sobre feridas ainda sensíveis. É o caso dos filmes Eu Matei Minha Mãe, de Xavier Dolan, Correndo com Tesouras, de Augusten Burroughs, e do livro O Fim de Eddy, de Èdouard Louis.

Na obra literária, lançada quando o autor tinha 21 anos, acompanhamos as suas agruras numa sociedade de extrema pobreza, machista e homofóbica do norte da França. Já a partir do seu batismo, Eddy nos coloca a par da pressão que é feita sobre os homens daquele lugar: seu pai o batizou com esse nome para homenagear os durões protagonistas dos filmes de aventura norte-americanos.

O batismo, por si só, é quase uma metáfora da vida ali. O autor nos apresenta dois pilares da masculinidade da sua casa, a “dureza” e o reinado da TV.

Dureza, nesse contexto, significa beber muito, brigar na rua, ser violento com a esposa, considerar qualquer cuidado consigo mesmo uma frescura. O ambiente da sua casa e da vizinhança lembram outro filme que permeia a mesma questão: Billy Elliot.

E Eddy vai sofrendo agressões ao longo das 173 páginas do livro: do pai, com pavor de ter um filho “fresco”; da mãe, disposta a “consertá-lo”; das outras crianças, de quem ouve xingamentos. Por meio de suas palavras, somos capazes de ouvir onde o murro lhe doeu ou por onde a escarrada deslizou no seu rosto. E a sorte – pois não há nenhum motivo concreto aparente – para ele ter conseguido virar Èdouard Louis.

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Na época do lançamento, o livro foi parar no meio de um enorme debate político. Ele foi acusado de ser exagerado, pois não era concebível tal nível de pobreza, ignorância e conservadorismo num país como a França. Tais opiniões só mudaram quando, por volta de 2016, Marine Le Pen (candidata da extrema-direita francesa à presidência do país) teve sérias chances de ganhar, expondo as veias abertas de uma sociedade retrógrada e transformando Èdouard em uma voz a ser ouvida.

Hoje, o jovem tem 25 anos e mais um livro publicado: Todas As Formas de Violência – ainda sem edição no Brasil.

Agenda especial
De 18 a 24 de junho, acontece o 3º Festival Internacional de Cinema LGBTI. Haverá a apresentação de 18 filmes de diversos países. Em destaque, a exibição de Tom of Finland abrindo o festival e, no dia 23, Diferente dos Outros, um dos primeiros filmes alemães sobre homossexualidade. As exibições acontecem no SESC Presidente Dutra (SCS Qd. 2, Bl. C, nº 227).

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