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Novelas ajudam as pessoas a sentirem empatia pelas causas LGBT

Não ia escrever sobre a “Força do Querer” agora, mas um encontro no final de semana me trouxe para a frente do computador

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TV Globo/Divulgação
ivana força do querer Carol Duarte
1 de 1 ivana força do querer Carol Duarte - Foto: TV Globo/Divulgação

Eu pensei que não ia escrever sobre este assunto agora, mas um encontro no final de semana me trouxe para a frente do computador. Uma mulher de 70 anos descobriu que eu escrevia uma coluna LGBT e aproveitou a oportunidade para fazer todas as perguntas que sempre quis sobre o assunto. No final do papo, ela me disse:

– Eu sei que ser gay é difícil, mas pior é ser transexual, igual a menina da novela. Eu fico tão emocionada quando vejo as cenas dela. É por isso que eu tive que mudar minha cabeça. Eu tenho netos, já pensou se um deles é? Eu não vou deixar ele sofrer.

Eu fiquei tanto chocado, quanto enternecido. Imagino que essas sejam as palavras que todo mundo deseja ouvir quando vai lidar com a família sobre ser LGBT. E ela fez o dever de casa direitinho e se antecipou aos fatos.

Para quem está vendo “A Força do Querer”, os dramas de Ivana (o garoto trans) e de Nonato (que na verdade é a travesti Elis) estão levando o público a se olhar no espelho. E parece que as pessoas estão se vendo da mesma forma que Ivana: a imagem não agrada e por isso sofrem sem entender.

Para os mais violentos, pode ser mais prático quebrar o espelho, como se a janela tivesse culpa pela vista (leia-se: matar o que é diferente).

Claro que a garota branca e rica enfrenta de cara uma opressão psicológica, enquanto que a travesti mestiça, pobre e nordestina, apanha na rua e é expulsa de casa, chamada de vergonha da família.

Será que o pai do Fiuk, casado com um ícone da moda, não encheria seu filho trans de porrada para ele aprender a ser mulher? Esse é um clichê de novela que, infelizmente, vai demorar a ser quebrado. O de que os ricos lidam com suas questões no psicólogo, sem violência física, e os pobres não sabem conversar, partem logo para a ignorância.

Mas isso não é o mais importante. O que importa é que a produção cultural e de entretenimento podem não ter essa função, mas tem o poder de ajudar as pessoas a terem compaixão por circunstâncias que outrora seriam apenas rejeitadas veementemente. Afinal, empatia é uma das importantes ligas sociais que nos mantém em sociedade.

É só lembrar que nas novelas filhos bastardos, divórcios, relacionamentos não monogâmicos e várias outras situações que nas ruas se torceria o nariz, na ficção são aceitas e ganham torcida. Algumas vezes, esse é o primeiro passo para a mudança de postura da sociedade, ou até mesmo da lei que a regulamenta.

Como disse Bárbara Heliodora, a arte nunca apresenta a verdade em si, mas a verdade de uma imagem. “Então você, espectador, pode não saber o que que é, mas quando essa ‘imagem de’ é bem feita, você reage àquilo”.

No final da minha conversa com a mulher do começo do texto, quando eu achei que ela não poderia mais me dar rasteiras, ela guardou a maior para o final:

– E eu revi minha postura depois que minha mãe, de 92 anos, me disse que assistiu naquele “Casos de Família” a história de uma mãe que expulsou seu filho porque ele era gay. Ela estava indignada, dizendo que aquilo não era motivo. O mundo mudou e hoje isso é natural e a gente tem que evoluir junto com ele.

Só conheço um termo técnico para isso que ela acabou de fazer: QUE PISÃO!

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