No interior do Nordeste, a liberdade sexual dá os seus ares
A representatividade LGBT na cultura de massa aumentou o debate sobre tolerância e respeito
atualizado
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As circunstâncias me levaram a passar novamente o Carnaval na cidade natal de minha mãe. Na adolescência, lá era um ponto de liberdade, mas, com o passar dos anos, tornou-se um lugar de expectativa e tensão. E, agora, eu descubro um bloco LGBT justamente ali.
A cidade tem só 20 mil habitantes e parece um cenário dessas novelas de realismo fantástico da Globo. Aqui a gente sabe que não pode vacilar, senão todo mundo vai saber. Mas, se daqui eu esperava medo e ameaças violentas, encontrei um bloco em que é todo mundo “fly”. O mascote é um ícone de desenhos animados. O hino, composto a cada ano, fala sobre liberdade.
Uma mulher me disse: “Na música deles, falam que ‘todo mundo é fly'”. E eu fiquei pensando, sabe que é mesmo? (E a Regina Navarro Lins escrevendo livros tentando explicar isso para as pessoas todos esses anos…)
A fantasia predominante é dos homens vestidos com roupas femininas, maquiagem e peruca.Trata-se também de um espaço que, como nunca vi na cidade, acontecem abertamente paqueras entre pessoas do mesmo sexo.
Lembrando dos últimos acontecimentos em Brasília no bloco Quem Chupou Vai Chupar Mais, a gente imaginaria que num lugar menor, no interior do Nordeste brasileiro, a coisa seria muito pior. Talvez não seja pela sensibilização promovida na cultura de massa (a novela A Força do Querer, Malhação Viva a Diferença, ou a presença da Pabllo Vittar). Nos locais mais afastados dos grandes centros do nosso país, essa ainda é a fonte de informação e de pauta dos debates e comportamentos.
Não consigo nem descrever a alegria em ver meninos e meninas, que antes precisavam se segurar para não serem expostos, dançarem livremente em um bloco de rua. Pode até ser que a mensagem se apague na Quarta-feira de Cinzas, ou, como glliter, a sensação de liberdade se entranhe na gente e, se não cuidarmos, ela brilhará no resto do ano.