Ninguém solta a mão de ninguém: a internet pode ajudar LGBTs em risco
Uma simples thread no Twitter fortalece quem precisa de acolhimento e serve como espaço para a troca de experiências
atualizado
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Para quem não sabe o que significa “ninguém solta a mão de ninguém”, eu vou dar um exemplo concreto.
Durante uma viagem para fora do país, no dia seguinte ao resultado da eleição para primeiro turno no Brasil, a escritora e roteirista Daniela Abade viu o tuíte de um seguidor seu que chamou atenção pelo tom triste. Viu que no, perfil do garoto, ele falava em suicídio.
Ela então acionou seus amigos do Além das Sombras – grupo que pretende formar uma coalizão antifascista. Eles o “bombardearam” de mensagens positivas e de carinho, lembrando que ele não está sozinho. Até mesmo a jornalista Milly Lacombe se manifestou, enviando um texto seu intitulado Uma Sapatão em Família Bolsonarista. Dessa forma, conseguiram evitar o pior.
Mas, na semana passada, Daniela soube de uma garota que teria cometido suicídio por ser lésbica. Logo após a posse do novo presidente, sua família a teria ameaçado, dizendo que “as coisas agora seriam diferentes” e que ela iria acabar com essa coisa de ela ser gay. A garota se matou usando a arma do pai.
Daniela não é lésbica, mas, como ela me disse, é humana e, portanto, capaz de empatia com a dor do outro. Foi por isso que promoveu uma thread no Twitter pedindo para seus seguidores postarem locais, em todo o Brasil, que apoiem LGBTs em situação de risco. O resultado é um excelente catálogo de onde buscar ajuda.
São locais de apoio psicológico, casas de acolhimento, locais de denúncia, páginas em redes sociais e telefones. Servem para atender tanto pessoas em depressão que estão em dificuldade para lidar com a atual situação quanto quem está sendo ameaçado pela família, vizinhos ou em locais de trabalho. A thread tem sido compartilhada para que essas informações cheguem a quem precisa.
Durante a escrita deste texto, recebemos a notícia da morte da garota trans Victoria Jugnet, filha de uma participante do grupo Mães pela Diversidade. É importante mencioná-la, pois mesmo os que têm apoio dentro de casa estão precisando de carinho e atenção. Todo o nosso sentimento à mãe de Vic, e esta coluna é para que a gente não perca mais ninguém que a gente ame.
É desse tipo de apoio que estamos precisando neste momento. Mulheres apoiando LGBTs, que apoiam negros, que apoiam índios, que apoiam portadores de deficiências e assim vai. É isso que quer dizer “ninguém solta a mão de ninguém”!
E se você acha que não precisa segurar a mão de ninguém, parabéns por este seu privilégio. Mas cuidado, porque, enquanto as minorias se dão as mãos, quando alguém da maioria se vir precisando de apoio, essa pessoa pode se perceber sozinha.
Especial
O filme Na Barriga da Baleia pede ajuda para ser realizado. Gravado por uma equipe feminina e com vários membros queer, propõe uma experiência sensível a partir de um roteiro elaborado em colaboração com os atores e a interferência de suas jornadas pessoais na busca por uma proposta de família para identidades não hegemônicas.
A sinopse: “Antônia é uma mulher de 19 anos, moradora da periferia, que se encontra sem lar após ser expulsa de casa. Ela busca abrigo com seu primo, que a surpreende de madrugada ao receber um garoto em casa. O outro garoto se revela um velho conhecido dela, Eli”.
Quem quiser ajudar o filme, é só clicar aqui.
Aqui vai o link para baixar a cartilha sobre a saúde de homens trans que antes ficava no site do Ministério da Saúde e foi retirada pelo novo ministro.