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Não vale ser livre no carnaval e misógino e homofóbico o resto do ano

Estamos em um momento em que esta mensagem precisa ser repetida ainda muitas vezes até virar ato concreto

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Carnaval
1 de 1 Carnaval - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Há um ano eu escrevi um dos posts de maior repercussão aqui na coluna: Não vale ser transfóbico e se vestir de mulher no carnaval. De repente, o texto voltou a reaparecer na minha timeline. As pessoas voltaram a interagir com ele, digamos assim. E algo que aconteceu esta semana, num bloco de carnaval, me fez ver porquê.

Quando o escrevi, eu estava começando a produzir minhas primeiras reflexões sobre transfobia, que acabou me levando a ler mais sobre misoginia, feminismos e todas as questões de gênero que ganharam espaço na “tela da TV, no meio desse povo”. Tanto é que eu incorri em um erro naquele texto.

Ao relatar a opressão sofrida por uma drag queen, o classifiquei como “transfobia”, pois na época ainda entendia que a letra T da sigla LGBT incluiria todas as categorias que não eram nem L, nem G, nem B. Então um garoto trans, nos comentários, me esclareceu que drag é um personagem e se monta quando quiser. Trans é uma identidade, ela não tem esta escolha. Ela é.

Agora, o que me motivou de verdade a trazer este texto de volta foi o relato de um conhecido que esteve domingo no bloco Virgens da Asa Norte. Foi este bloco que me inspirou o texto do ano passado ao ver tantas fotos de homens fantasiados de “mulher” e ouvir relatos de agressões homofóbicas e machistas.

Neste ano, ao longo da festa, a orquestra foi interrompida várias vezes para ser anunciado que “não vale ser Virgem da Asa Norte um dia, se você é misógino e homofóbico o resto do ano”. Parece que a mensagem chegou lá! (Faltou falar transfóbico, mas estamos em tempo de acrescentá-lo para o carnaval).

Estamos em um momento em que esta mensagem precisa ser repetida ainda muitas vezes até virar ato concreto, sendo o primeiro passo verbalizá-la. E principalmente que se saiba que não há lugares onde ela cabe ser expressa e outros não. A violência tem que ser extirpada em todos os lugares.

Há quem defenda que o carnaval é diversão e que estraga a festa se falar em mulheres que apanham, gays xingados e travestis e transgêneros assassinados. Enquanto houver este espaço onde o assunto não pode ser falado, ainda será necessária a nossa luta.

Quando se coloca que o carnaval é tempo de liberdade maior, inclusive de sexualidades, nunca significou o abuso do outro (ou pelo menos nunca deveria significar). É da tua liberdade que estamos falando, aquela mesma que termina onde se esbarra na liberdade do outro. É esse o verdadeiro espírito da festa de Momo.

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