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Na batalha que se anuncia em 2019, minha arma é a palavra

Por isso, pretendo recorrer aos livros e me apegar à cultura

atualizado

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Decidi fazer de 2019 o ano do livro. Talvez não do objeto em si, mas da leitura. Pretendo fazer o maior número de pessoas lerem. Não convencê-las, mas despertar seus interesses em redescobrir o prazer da atividade. Portanto, dedico minha primeira coluna do ano ao primeiro escritor gay que eu li por essa razão: Oscar Wilde.

Li Wilde porque ele era gay. Li Wilde porque eu sou gay. Não houve outra razão além dessa. Mas os motivos de eu ter chegado até a última página de O Retrato de Dorian Gray são incontáveis. Posso citar ser superbem escrito, engraçadíssimo, embebido de cultura LGBT e uma aula de como tirar onda de uma sociedade intolerante e, dessa forma, ser bem-sucedido nela.

Wilde era uma sumidade de inteligente e, por isso, personificou o conceito de Chico Anysio do que é engraçado – o humor é o filé-mignon da inteligência. Assim, era tão adorado quanto desconfiado pelos seus fãs. Ele era genial o suficiente para falar de todos os assuntos sérios por meio de piadas, no limiar da blasfêmia. Mas era um tempo onde as pessoas ainda pensavam “ele não teria coragem de falar a sério isso”. E, assim, ia passando incólume pelos riscos ao redor.

Dorian Gray é seu único romance. Nele, acompanhamos os desdobramentos do encontro de três homens num estúdio de pintura: o romântico Basil, o indecoroso Lord Arthur e o belo Dorian Gray. Basil é apaixonado por Dorian – uma paixão estética – e por isso pinta um quadro seu. Mas ele mantém escondido o muso de Lorde Arthur, pois teme que o seu olhar conspurque ambos.

Por uma infelicidade do destino, é exatamente o que acontece. Nesse encontro, o lorde de língua ferina avisa a Dorian que a única lembrança de sua beleza deslumbrante será aquele quadro. Dorian acaba conseguindo trocar com o quadro, que envelhece em seu lugar e traz à tona as mais terríveis partes da sua personalidade.

Wilde também escreveu contos, poemas, histórias infantis e, sua principal marca, peças de teatro. Uma delas, Salomé, só estreou em Paris, pois foi proibida na Inglaterra pelo seu conteúdo.

Há versões dos escritos de Oscar Wilde desde a época da criação do cinema e eu sou adepto de que um bom filme pode despertar o interesse em ler o livro. Também indico pelo menos duas cinebiografias dele: Wilde, O Primeiro Homem Moderno e, mais recentemente, O Príncipe Feliz.

Na batalha que se anuncia neste ano, minha trincheira é a cultura e minha arma, a palavra. Tem quem lance mão do salto, do coturno, do batom, do beijo ou simplesmente do afeto. Porém todos somos guerreiros da mesma luta pelos nossos direitos. E que a gente nunca esqueça: ninguém solta a mão de ninguém!

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