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Mulher heterossexual: pare de pensar que sua amiga lésbica te paquera

Se antes o toque entre amigas é algo natural e permitido, as lésbicas sentem que, após se assumirem, a interpretação do toque feminino muda para as mulheres heterossexuais

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Numa casa de chás, conversando com um casal de amigas lésbicas, eu falei para elas que precisava encontrar um tema relacionado a elas para a minha coluna. Por mais que haja sensibilidade e imaginação, eu – um homem – jamais seria capaz de ver a totalidade da vida de uma mulher lésbica e pedi uma sugestão. Acabei encontrando uma situação tanto injusta, quanto dolorosa.

Uma delas me falou sobre a questão de como muda a interpretação do toque feminino quando você é lésbica. E me explicou que, entre as mulheres, o toque é algo natural e permitido, mais do que no meio masculino. Você pode ser carinhosa e passar a mão no cabelo das suas amigas, consertar a alça do sutiã, verificar a costura de uma calça próxima da bunda sem que nada disso seja visto em contexto sexual.

No entanto, as duas me disseram que quando se assumiram lésbicas, as amigas heterossexuais mudaram de comportamento. Algumas evitam serem tocadas por elas nas situações mais comuns, muitas vezes num ato reflexo mais forte do que teriam se a ação fosse feita por um homem hétero, o que acaba gerando situações bem embaraçosas.

“Na universidade, quando eu conheço alguma menina, ela se mostra super aberta à amizade e, muitas vezes, faz questão de dizer que não tem preconceito, mas sem saber que eu sou lésbica. Aí, quando eu apresento minha esposa, ela muda completamente e começa a evitar qualquer toque ou aproximação inevitável. Como se eu fosse dar em cima dela só porque sou lésbica. Como se eu não fosse uma mulher casada e amasse minha esposa”.

Admiti minha total incapacidade de pensar que algo assim passasse pela vida delas, até mesmo porque, a questão do toque e proximidade no mundo masculino não é uma questão. Ele não existe. Nós homens não somos criados, infelizmente, para receber carinho de outro homem, muito menos de se sentir confortável perto de outro corpo masculino.

Conheço casos de homens que passaram na vida e nunca puderam dar um beijo em seu pai, ou mesmo um abraço. É lamentável. Essas mínimas barreiras corporais femininas é invejável, mas, pelo que constatou este meu querido casal de amigas, algumas lésbicas não tem permissão para gozar da liberdade do seu gênero.

“Teve uma vez que uma amiga do casal, que sabia que a gente era casada, se recusou a sair só comigo, sem a minha esposa. A gente ia jantar, as três, e minha mulher ficou presa no trabalho, não pode ir. Então ela disse que achava melhor marcar para outro dia, quando pudesse sair o casal. Ela realmente ficou achando que, por eu não sair com minha esposa, eu ia dar em cima dela?! Poderia ser uma conclusão injusta, se ela não fosse a única mulher a fazer isso com a gente”, desabafou. A esposa confirmou tudo.

Isso não acontece apenas em grupos pequenos de amigas. Mas também no dia a dia. Homens gays já foram expulsos de banheiros masculinos porque achavam que ele estaria ali para subverter seu uso. Mulheres lésbicas já foram expulsas de vagões de trens exclusivos porque acharam que ela ia subverter a proteção que ele oferecia ao seu gênero.

Quando você lê uma atitude de alguém à luz da sua orientação sexual, você está sendo preconceituoso e, nestes casos citados, não justifica a busca do que chama proteção. Proteção de que? De uma abordagem? De uma cantada? Mas se você for heterossexual e a abordagem for do sexo oposto, você lida com naturalidade? Abordagem, seja hétero ou gay, só tem duas opções: ou você aceita e rola um papo, ou você dispensa e vida que segue.

Agora, se você for mulher heterossexual e pensar que toda mulher lésbica está de olho em você, querida, procura um profissional da psicologia antes que você perca suas amigas.

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