Mãe usa artesanato para sustentar filho LGBT vítima de preconceito
Expulso de casa pelo pai, o menino precisava de um lugar para morar: contou com o apoio da matriarca
atualizado
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Na semana passada, fui padrinho de casamento de um amigo da época de escola. Ele estava se casando com outro cara, por isso quis dar um presente especial. Decidi por uns pequenos broches com as cores da bandeira LGBT – os brindes seriam distribuídos entre os convidados. A confecção dessas lembranças me levou até Ana Valéria.
Ana foi a artesã que fez os broches. Ela é integrante do Mães pela Diversidade, grupo atuante na luta e no acolhimento de jovens LGBTs.
Ana Valéria, ao me encontrar na entrega da encomenda, perguntou mais sobre o evento. Eu estava com um comportamento protocolar (entregar o dinheiro e pegar o produto), querendo apenas riscar aquela tarefa da minha agenda. Quando percebi seu interesse, achei que não tinha problema em explicar um pouco melhor qual era o plano para a festa de casamento.
Anteriormente, os noivos disseram-me que muita gente iria pela primeira vez a um casamento de duas pessoas do mesmo gênero e, por isso, seria bacana ter algo capaz de marcar a importância política da situação. Uma forma de os cis e héteros da festa também se sentirem incluídos no exercício daquele direito básico do ser humano. Ana falou que nunca tinha pensado em oferecer sua produção para casamentos e eu respondi: “Antes de te encontrar, só vi esses produtos fora do Brasil”.
Então, nossa conversa foi se tornando mais confessional. Ela, artesã desde sempre, revelou-me que, quando seu filho contou ser gay, seu marido aceitou numa boa, mas ela teve dificuldades. Valéria passou pelo seu processo de aceitação e, portanto, não teve problemas quando o filho a apresentou a um namorado. Diferentemente dela, o marido não segurou a onda e acabou expulsando o rapaz de casa.
Ela ajudou o filho a arrumar um lar. Acabou alugando um lugar para ele, e os dois agora usam o artesanato como forma de complementar a renda e sobreviver.
Saber disso deu um brilho totalmente novo para os broches.
Contei para os noivos a história da produção dos objetos e eles sentiram aquele momento ainda mais especial do que já era antes. Os broches foram uma sensação na festa – a própria juíza celebrou o momento com um. Vi uns convidados muito tímidos, meio sem graça de colocá-los, porém a presença do item despertou conversas e debates.
Quanto a Ana Valéria, ela conquistou toda a minha admiração. Para quem quiser encomendar os produtos, é só entrar em contato pelo telefone (61) 98159-9933 ou pelo e-mail lgbtfamilyarte@gmail.com. Eles enviam os itens para todo o país.