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Janeiro 2019: um mês triste para os direitos humanos no Brasil

Tragédias humanitárias e ambientais deixam nosso país em luto no primeiro mês do ano

atualizado

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Jean
1 de 1 Jean - Foto: Reprodução/Facebook

Que semana tivemos, meus amigos!

Começamos com a aberração do assassinato da travesti Quelly, em Campinas (SP), que teve seu coração arrancado. Aliás, talvez você nem soubesse o nome dela, afinal as notícias insistem em identificá-la com o “nome verdadeiro”, em total desrespeito à sua identidade.

É revoltante “descobrir” que Quelly não é apenas travesti. Ela tinha um companheiro há três anos, vivia com ele e a sogra. Todos trabalhavam no bar da família. Mas os meios de comunicação não se preocuparam em informar esses dados. Foi bradado com destaque o método violento usado pelo assassino, o fato de ele identificar Quelly como um demônio e a sua declaração de que teria encontrado a moça à meia-noite e teriam mantido relações sexuais – alegação não confirmada pela perícia, mas divulgada como se fosse uma certeza.

Quelly não pôde ser apresentada de forma mais complexa, além da alcunha “travesti” e de todos os preconceitos da sociedade com essa palavra. Supõe-se logo que ela se prostituía, era envolvida com drogas e gente violenta. Portanto, seu destino só poderia ser esse – afinal, as pessoas trans no Brasil têm expectativa de vida de apenas 35 anos.

A história de Quelly, sua família, e a forma que essa tragédia foi conduzida após sua morte é um grande exemplo do que se deseja combater com o dia 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans.

Aí, chegou a notícia do exílio do deputado Jean Wyllys e essa doeu mais fundo. Torna mais palpável o direcionamento político que o Brasil vem tomando, ainda mais depois do desempenho pífio em Davos e a prisão dos dois milicianos que tinham parentes contratados no gabinete do filho do presidente.

A partida de Jean dá uma maior sensação de solidão, mas como dizer que ele está errado, ante todas as fake news de que foi vítima e continua sendo?

E, então, um respiro. Vem aí, David Miranda, o exato oposto das forças que ascenderam ao poder recentemente. Gay, casado, jornalista, negro, vindo da favela. Chegou chegando, com força, arrebatando nosso apoio, lembrando que a batalha não acaba…

O que dizer sobre Brumadinho? E, para quem não entende o que esta coluna tem a ver com a tragédia criminosa, vou explicar: o que nos revolta com o assassinato de Quelly e das pessoas trans é a negação da sua condição humana; o que leva pessoas a ameaçarem Jean Wyllys a ponto de fazê-lo não se sentir seguro em seu próprio país é a negação da sua condição humana; e a base da luta pelos direitos ambientais são os direitos humanos.

Começamos negando os direitos humanos para uns, depois para outros, sem observar a estrutura complexa que essa conquista abarca. Resultado: chamamos os órgãos ambientais de fábricas de multa, terminamos extinguindo o Ministério do Meio Ambiente e o resultado… bem, é só ver!

P.S.: Se você estiver mais interessado em ver a ligação entre o movimento LGBT e a questão ambiental, indico o livro Revolucionário e Gay – A Vida Extraordinária de Herbert Daniel, de James Green.

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