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Editoras lançam livros infantis com temática LGBT

Publicações de São Paulo e Brasília tem como objetivo introduzir o assunto na vida das crianças brasileiras

atualizado

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gay pride parade in Milan JUNE 27, 2015
1 de 1 gay pride parade in Milan JUNE 27, 2015 - Foto: iStock

Eu poderia estar aqui contando a história de alguma escola infantil da Europa que teria adotado um livro paradidático sobre um casal de pinguins gays que adotam um filho, mas podemos fazer melhor do que isso. Vamos falar do livro “A Princesa e a Costureira“, da psicóloga brasileira Janaína Leslão.

Janaína escreveu um conto de fadas sobre a princesa negra Cíntia, prometida ao príncipe Febo. Quando vai encomendar seu vestido, conhece a costureira Isthar e por ela se apaixona. Esse amor causa grande confusão no reino, como é de praxe em toda boa história infantil. Mas o que realmente importa é que este ousado livro foi concretizado após 5 anos de recusa por todas as editoras. Até aparecer uma direcionada à temática LGBT que resolveu publicá-lo e contou com um crowdfunding para pagar o ilustrador. A ideia foi tão bem aceita no site de arrecadação que em uma semana foi alcançada a meta de R$ 4.600.

Daria para passar aqui um tempão elogiando a iniciativa e a coragem de Janaína de contar esta história para crianças, na melhor demonstração de que homoafetividade não é palavrão para ser evitada na frente dos baixinhos, se não tivéssemos um exemplo semelhante e antecessor aqui mesmo na nossa Brasília.

Na capital federal
O piauiense Flavio Brebis tem não um, mas dois livros referentes à temática voltados para crianças, “Primeiro Livro das Diferenças de Famílias e Bandos” (2010) e “TUDA, Uma História de Identidade” (2014). No Primeiro, acompanhamos a história de dois leões machos que, unidos por um forte sentimento, resolvem viver juntos. Por isso, eles são expulsos do bando que não aceita esse novo padrão de família.

Já em Tuda – meu favorito – acompanhamos a história de uma criatura fantástica que se chamava Tudo. Mas que na realidade era Tuda, mesmo sem ninguém aceitar esta transformação. Flavio é um ótimo e divertido escritor de contos infantis e brinca com os nomes dos personagens. Uns e Outros “são facilmente influenciáveis” e Nenhum é um “sacerdote de uma seita religiosa fundamentalista”. Ele condena Tuda e Algum “amigo de Tuda” que está com ela nos bons e nos maus momentos. Uma curiosidade editorial: ambos os livros já vem em português e inglês, para as crianças poderem treinar uma segunda língua.

Análise

Como já escrevi no meu comentário sobre a “polêmica” da ursa Pooh, para a maioria hipócrita, questão de gênero e afetividade são assuntos proibidos para as crianças. Até parece, como se ao casar o príncipe com a princesa, em todos os contos de fadas, já não fosse uma forma de abordar e limitar estes assuntos.

Não critico que aconteça, só não precisa ser a única forma. Ninguém “vira” gay por ter contato desde muito cedo com a diversidade, só não vira lesbo/ homo/transfóbico. Sem falar que lidar com estes assuntos a fará uma pessoa inclusiva e, até mesmo, mais receptiva da própria diversidade, poupando-a de traumas que uma educação opressora poderá lhe provocar.

Quando J. K. Rowling, escritora da saga Harry Potter, em uma entrevista revelou o amor homossexual de Dumbledore por um antigo amigo, muita gente chiou, mesmo não havendo menção ao caso em nem uma linha dos sete livros da série. Aliás, aqui eu admiro mais Flávio e Janaína, pois eles não deixaram para revelar algo neste sentido sobre seus livros depois de lançados. O gênero e a afetividade são os temas principais das suas obras.Para reflexões mais profundas, indico ainda o livro do escritor também de Brasília Roberto Muniz Dias, “O príncipe, o mocinho e o herói podem ser gays”.

Num tempo em que vemos um pai questionando o paradidático de uma escola tradicional católica da nossa cidade pelo simples fato da mãe da garota protagonista explicar que não há nada de errado na sua família por não ter pai e com isso fazê-la sentir-se incluída na sua escola, é porque o assunto está muito sério. Se nem mesmo dentro do padrão das “famílias tradicionais brasileiras” eles estão incluindo uns aos outros, como havemos de esperar uma ação que incluam os outros formatos?

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