Durante a crise, Brasília se tornou o refúgio das drag queens

Nesses tempos de crise, junto com as histórias de demissões e falências também brotam depoimentos de superação e pessoas que souberam aproveitar as oportunidades e driblar a maré ruim que acomete a maioria. E que tal conhecer uma história dessas no mercado de drag queens de Brasília? Lhes apresento Poppy Moore.

O visagista Charles era um garoto paulistano que resolveu um dia se montar. Logo no início, já chamou atenção pelo seu estilo tão peculiar e uma assustadora semelhança a Adore Delano, drag que participou da 6ª temporada de RuPaul´s Drag Race e conquistou uma legião de fãs fiéis.

Apesar de Adore não ser exatamente um modelo de glamour, seu estilo “blogueira de moda” ou “garota de Tumblr” conquistou pessoas que tinham vontade de se montar, mas não queriam usar plumas e pedrarias, como era típico de se esperar quando se falava em drags. Por isso, durante um tempo Poppy foi encaixada em outra categoria.

Achavam que ela não era uma drag queen, mas uma “party girl” – aqueles que se montam usando peças da Forever 21 inspirados nas meninas estilosas dos shopping centers de grandes cidades.

Poppy foi crescendo até o momento que a levaram para encontrar sua musa Adore em uma festa. A semelhança era impressionante e as fotos das duas juntas só aumentou a procura por sua presença nas festas. Uma rotina intensa de shows e viagens se tornou frequente.

À medida que o tempo ia passando, Poppy ia sufocando Charles. Ninguém mais falava com Charles, todo mundo só queria saber da Poppy. Charles não era mais apresentado a ninguém. Mesmo sem estar montado, ele era sempre apresentado como Poppy.

Mesmo seus relacionamentos estavam ficando complicados, pois dormir com Poppy e acordar com Charles havia se tornado um fator de conflito sério, inclusive para ele próprio. Até o dia em que maquiada, de espartilho preto, faltando 5 minutos para iniciar a apresentação de “O tango das presidiárias”, interpretando o papel de Catherine Zeta-Jonnes, Poppy recebe uma mensagem do namorado de Charles terminando o namoro.

 

E agora? Chorar borrando toda a maquiagem e acabar com a apresentação? Jogar longe a peruca e jurar nunca mais ser Poppy? Ou enfrentar a dor em cima do palco, dando aos espectadores um show que eles jamais iam esquecer? Quem conhece Poppy sabe da sua garra para encarar a última alternativa.

Mas a ferida estava feita e profunda. A vontade era abandonar tudo, porém um convite de vir a Brasília para um último show pareceu muito atraente.

Caso não saibam, a Victoria Haus é uma das casas de maior prestígio no país e fazer um show nela é algo que qualquer drag queen adoraria ter em seu currículo. Pois a garota de Malibu veio e aqui ficou por uns 25 dias. Descobriu um mercado em ascensão e um respeito à arte drag que em São Paulo já não se via mais.

Falando em valores absolutos, o ganho aqui pode ser um pouco menor que o de lá, mas há muito mais oportunidades de trabalho e muito mais chances para quem está começando mostrar o seu trabalho, segundo Charles. Ele resolveu vir para Brasília para aproveitar o mercado e principalmente pelas suas demandas e oportunidades, além de dar uma espécie de restarte na sua vida.

Se em São Paulo as apresentações de drag estão “engessadas” em bate cabelo, atacar de dj e fazer porta de evento, na capital federal elas que comandam a noite com performances ao som dos hits das divas atuais e até desfilando. A arte deixa o mundo drag muito mais criativo e sem dúvidas, a noite LGBT de Brasília está muito mais interessante com a proliferação de performances drags lhe compondo.

E, pelo visto, está rendendo um bom dinheiro a quem está disposto a se lançar no mercado e trabalhar com excelência.