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Depois de Orlando me permito ser clichê: LUTO para mim é verbo

O ataque na boate gay em Orlando é a prova que os homofóbicos querem nos amedrontar, querem que a gente tenha medo de ser quem somos, que a gente se feche, se esconda

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BRANDEN CAMP/Atlanta Journal-Constitution /ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
VIGILIA POR TIROTEIO NOS EUA
1 de 1 VIGILIA POR TIROTEIO NOS EUA - Foto: BRANDEN CAMP/Atlanta Journal-Constitution /ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A tragédia de Orlando (ataque terrorista, crime de ódio ou como você prefere chamar) infelizmente vai fazer emergir todo o pus que estava sob o furúnculo pulsante do discurso dos intolerantes. Esse pus é o que inflama os debates ao mesmo tempo que mata as vítimas de lgbtfobia.

E chegamos ao momento crucial desta luta. Não há — já não havia há bastante tempo — mais muro para ficar em cima: ou você terá compaixão com os que sofrem e vai lutar contra a ignorância e injustiça; ou estará apoiando desumanos sanguinários que levantam armas de fogo e discursos de violência.

Logo de cara aviso que o discurso de ódio que fomentou o ataque à boate Pulse não é exclusividade do Estado Islâmico. Enquanto confirmam se o assassino era ou não membro do grupo, não devemos voltar nossos olhos para o outro lado do mundo. Os ataques de atiradores é um produto da cultura ocidental, principalmente norte americana.

A violência tem tido voz há bastante tempo na sociedade judaico-cristã-ocidental e ela tem falado em tom mais estridente a cada nova conquista dos que trabalham pelos direitos humanos. É com estes últimos que eu me afino, é com eles que eu marcho e que levanto meu punho exigindo os meus direitos. Direito de ser respeitado, de não ter minha integridade física e minha vida ameaçados porque alguém discorda da vida que eu levo ou de quem eu amo.

Não bastasse a dor que os LGBTs têm sentido nestes dias, na maior demonstração de monstruosidade, de falta de humanidade e também de qualquer resquício de divindade, entidades religiosas CRISTÃS OCIDENTAIS se posicionaram A FAVOR do assassino, declarando que ele era um enviado de Deus para que se fizesse a justiça divina. Inclusive um pastor brasileiro relativizou o ataque, dizendo que organizações defensoras dos LGBTs estariam se aproveitando para se promover “como se a razão dos ataques fosse apenas homofobia” (ipsis litteris).

Realmente, o ataque não é apenas homofóbico. Ele é contra as liberdades e os direitos humanos que o mundo ocidental defende e estabeleceu dentre os objetivos diretos da sua existência, aqui representado no respeito à orientação sexual e de gênero. O oriente também é a favor da liberdade, da tolerância e do respeito às diferenças. Alguns homens, das duas bandas do mundo, é que são violentos e intolerantes, mas que encontram eco nas falhas dos dois sistemas.

Reprodução/Facebook
Se antes a sua forma, leitor, de lidar com os lgbtfóbicos era rindo destas pessoas por sua incompreensão e ignorância, a graça acabou. Como rir todo sujo de sangue? Aquela boate era nos Estados Unidos, mas poderia ter sido aqui. Era um show de uma drag que participou de RuPaul´s Drag Race, como tantas que aqui estiveram. Era perto da hora de fechar, como tantas vezes já ficamos quando a noite estava tão boa que a gente só não queria que ela acabasse.

Morreu gente na pista, aquele mesmo lugar que todo mundo corre quando toca a sua música favorita e tudo o que se quer é dançar e que ela dure para sempre. Foi na Pulse, mas poderia ser na Wow, na Vic, na Drop´s, na Boombox, porque aqui também tem loucos que se alimentam de ódio pelo diferente para se mostrarem integrados nessa sociedade excludente. São criaturas sem o menor controle emocional para ter uma arma de fogo, mas que tem.

Aqui eu me permito ser totalmente clichê: LUTO para mim é verbo. O que eles querem é nos amedrontar, que a gente tenha medo de ser quem somos, que a gente se feche, se esconda. A maior reação à loucura e à violência é ser feliz, ter coragem ao mesmo tempo que se batalha pelo respeito que se merece, porque é disso que trata o terrorismo, criar medo. Ame ainda mais, viva ainda mais, faça ainda mais coreografias na pista de dança. E, como alguém escreveu no Facebook, se eu morrer em algum ataque homofóbico, don´t pray for me. LUTEM.

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