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Cloro: novo livro de Alexandre Vidal fala sobre sexualidade reprimida

Na obra, o autor discute um homem gay que nunca conseguiu sair do armário

atualizado

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Já chegou às livrarias Cloro, o terceiro livro do diplomata Alexandre Vidal Porto, pela Companhia das Letras. Na trama, o advogado Constantino Curtis relembra sua vida de homossexualidade reprimida logo após falecer em uma sauna gay em Tóquio, revelando a todos o segredo escondido ao longo da vida.

No breu total e absoluto da “vida após a morte”, à espera de quem o venha buscar (se houver), o narrador relata sua infância e a primeira pessoa que ameaçou expor seu segredo: o coleguinha de escola ao o chamar de “bichinha”. Acompanhamos a decisão de suprimir completamente o desejo por outros homens, o casamento com a namorada da adolescência, os filhos e uma tragédia familiar violenta e definidora.

Imaginamos que um detalhe como esse vai infectar tudo na vida da pessoa, mas, pelo relato, não é bem assim. O segredo estava sempre presente onde Constantino passava, porém a tragédia mostra algo muito maior: o não controle absoluto dos rumos da própria existência. Homossexualidade reprimida é algo grande, mas nem sempre determinante aos fatos da vida.

As referências de Vidal Porto são bastante refinadas, mas sua escrita não é de firulas e rapapés. Lembra o trabalho do novelista Gilberto Braga, principalmente na radiografia do retrato das nossas elites e das altas classes.

O livro tem um tom bastante autobiográfico. Ao terminar de lê-lo, encontrei a seguinte fala do autor: “Nunca havia escrito sobre um homem homossexual reprimido – coisa que eu, por quase três décadas, fui. Contar essa história me obrigou a revisitar várias experiências intensas de minha infância, por exemplo. Experimentei um desgaste emocional que não tinha enfrentado nos meus livros anteriores. Constantino e eu nascemos no mesmo ano. Ele era uma pessoa que eu poderia ter sido, mas não fui.”

Uma curiosidade é que seus livros anteriores nasceram e se desenvolveram cercados por línguas estrangeiras (espanhol e inglês no caso de Matias na Cidade; japonês no de Sergio Y vai à América). Por ser diplomata, Alexandre viveu em vários lugares do mundo. “[Os livros] serviam, muitas vezes, como meu refúgio linguístico numa realidade dominada por idiomas estranhos”, explica.

Reprodução

 

Só Cloro não dá uma ideia de deslocamento já pelo título. Talvez isso se dê por causa da vida viajante do autor. Porém, no primeiro capítulo, Constantino morre num lugar ao qual ele nunca fora (sauna), numa região do mundo na qual ele nunca havia estado anteriormente (Tóquio). Quer mais deslocamento do que esse, de distância e de inadequação?

Mas será a sauna seu deslocamento? Ou esse limbo escuro de onde ele nos fala? Arrisco que a resposta esteja na primeira frase do livro Viagem do Elefante (outra história de deslocamento), de José Saramago: “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam”.

Agenda
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