Mesmo com angústia, me tornei uma orgulhosa mãe de piloto
Não me sinto no direito de fazer Pedro desistir de seu sonho por minha causa. Só me resta apoiá-lo sempre que precisar
atualizado
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Ser mãe é, para mim, a experiência mais profunda que uma mulher pode ter. É indescritível a sensação quando vemos um filho pela primeira vez. Um misto de alegria e medo. Como eu, existem várias mães capazes de dar qualquer coisa para ver seus pequenos felizes e realizados.
Sempre fui muito protetora. Quero poupar meus meninos de qualquer sofrimento. Como a gente se ilude, né? Eles crescem e escolhem o próprio destino.
No meu caso, meu filho Pedro, de 19 anos, optou por ser piloto de carros de corrida. Nada mais natural. Em casa, respiramos automobilismo 24 horas por dia. Todos os irmãos mais velhos correm ou já correram. Sem contar a história de vida do pai, sua maior influência.
É bem comum me perguntarem como meu coração suporta. Minha resposta é sempre a mesma: se ele está feliz, fico bem. Mas, no fundo, me pego pensando em como eu aguento.
Normalmente, as pessoas se referem ao perigo de acidentes. Elas não sabem, entretanto, que o pacote é maior: estresse, pressão, cobranças, ficar longe de casa por muito tempo. A vida para quem escolhe o automobilismo é uma montanha-russa. E, consequentemente, nós, mães de pilotos, também vivemos isso.Quanto a acidentes, não penso muito nisso. Sei dos riscos, mas não foco na possibilidade de ele se machucar. Dessa maneira, me protejo e não sofro. Pedro começou a pilotar com 6 anos de idade e nunca tinha sofrido nenhuma colisão séria até uma corrida em Goiânia (GO) três anos atrás, quando seu carro capotou nove vezes. Eu perdi o chão.
Fiquei sabendo pelo telefone e fui para lá. Não quis ver o vídeo do acidente durante a viagem. Queria encontrá-lo primeiro. Quando cheguei ao hospital e dei de cara com o seu rosto machucado e roxo, eu caí em um choro compulsivo, incontrolável. Ao assistir às imagens pela televisão, a choradeira piorou. Não acreditava que era ele dentro do carro. Meu coração ficou apertado e passei a noite olhando ele dormir.
Meu filho foi obrigado a amadurecer mais rápido do que o normal para viver nesse mundo. O esporte torna as pessoas mais fortes. Desde cedo, Pedro teve responsabilidades e privações não comuns a outros garotos da idade dele. Se tornou comprometido e um rapaz do mundo. Viaja para os quatro cantos do planeta sozinho e se vira superbem.
Me orgulha vê-lo se tornar um homem de bem, que luta e quer vencer. Se tivesse o poder de poupá-lo das situações ruins, eu faria. Mas sei que é impossível. Peço muito a Deus para protegê-lo, livrá-lo do mal e agradeço por todos os momentos. As vitórias e as derrotas são os dois lados da vida. Ninguém ganha o tempo todo e, quando as coisas dão errado, é um grande aprendizado.
Meu filho mais novo, Marco, não quer nem ouvir falar em correr. “Adrenalina não é a minha praia”, disse. Ainda bem, porque não saberia como viver isso em dose dupla.
Nunca me senti no direito de fazer Pedro desistir de seu sonho por minha causa. Hoje, só me resta apoiá-lo e estar sempre de prontidão. No futuro, ele vai olhar para trás e poderá contar muitas histórias. E com uma bagagem de vida que poucas pessoas possuem.
Quanto a mim? Bom, tento acalmar o coração porque tenho certeza de que muitas emoções ainda estão por vir.