Fotógrafos contam como fizeram imagens icônicas: veja equipamentos usados
A equipe do Vitrine M conversou com profissionais de fotografia do Metrópoles para saber como eles fizeram imagens marcantes nas carreiras
atualizado
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Em tempos em que os olhares se voltam para o trabalho da imprensa, o fotojornalismo ganha ainda mais importância. Você já se perguntou, por exemplo, sobre como é a rotina de um dos fotógrafos do Metrópoles? Os mais curiosos geralmente querem saber, não só sobre o ritmo do trabalho, mas como (e com qual equipamento) uma foto extraordinária foi feita.
A equipe do Vitrine M pediu aos fotógrafos Hugo Barreto, Igo Estrela e Rafaela Felicciano que escolhessem alguma imagem do próprio acervo para esmiuçar o momento retratado, o dia de trabalho e, é claro, quais equipamentos foram aliados à prática e ao talento de cada um.
A famosa bicada
Quem não conhece Brasília não sabe que o espaço entre o portão do Palácio do Alvorada e o prédio em si é de quase 600 metros. Fotografar os detalhes do que ocorre na residência oficial do presidente da República não é tarefa fácil, já que a atenção deve que ser redobrada por causa da distância.
“A cobertura política de Brasília tem essa particularidade, estamos sempre afastados do objeto da foto. Aqui, se faz necessário usar uma teleobjetiva, uma supertele. Facilita o trabalho diário, porque não importa se você está no Congresso Nacional ou no Alvorada, certamente estará distante do fato. Isso aqui é uma escola para qualquer fotojornalista”, comenta Igo Estrela, um dos fotógrafos da equipe.
Igo viu seu nome estampar o crédito de uma sequência de imagens que circulou o mundo. No fim da tarde de 13 de julho, o presidente Jair Bolsonaro alimentava as emas que vivem no terreno do Alvorada e levou uma bicada de uma delas. “Eu sabia que essa história teria um pico de atenção até por causa da cobertura que estamos fazendo de outra história relacionada a animais, a da naja (cobra que mordeu um estudante envolvido em tráfico internacional de animais), mas não tinha ideia da proporção que isso iria tomar”, lembra.
Para esta imagem, Igo usou uma câmera Canon 5D Mark IV, aliada a uma lente fixa de 300mm. O alcance do zoom é ampliado com um conversor acoplado à lente que duplica a aproximação do objeto, o que permitiu o foco tão próximo nas imagens. A estabilização do quadro se deu graças ao uso de um bom tripé. Veja os produtos:
Canon EOS 5D Mark IV
Lente Canon EF300
Teleconversor Extender EF 2X III, da Canon
Tripé MK290-XTRA, da Manfrotto
Cobertura ágil
No fotojornalismo é preciso pensar rápido e decidir por um plano de ação antes mesmo dos fatos ocorrerem. Foi o que aconteceu no último 5 de junho, quando o fotógrafo Hugo Barreto foi enviado para cobrir a visita do presidente Jair Bolsonaro ao hospital de campanha em Águas Lindas (GO).
A imagem escolhida por Hugo para o Vitrine M é a do pouso do helicóptero presidencial no terreno de terra vermelha. “Eu gosto dessa foto porque parece cena de filme de guerra, tipo Apocalipse Now. Parece até que isso foi num deserto”, explica o fotógrafo.
“Cheguei cedo para entender o cenário, ver por onde o presidente chegaria, qual veículo utilizaria. Pela distância de Brasília, nós fotógrafos imaginávamos que ele usaria o helicóptero. Eu poderia ter apostado em me posicionar do outro lado para pegar o presidente desembarcando. Mas, pelo horário e posição do sol, eu não ia conseguir uma boa imagem. Apostei em algo mais plástico”, comenta.
Diante do sol forte, a preocupação do fotógrafo era com a velocidade do objeto. Como a cena deveria ser registrada rapidamente, tratou de usar a maior velocidade do obturador, com o menor ISO (sensibilidade à luz). “A abertura eu escolhi pela estética. Em uma cena dessa, prefiro dar prioridade a uma velocidade alta, paralisando a ação. Na foto, as hélices estão congeladas, como se o helicóptero estivesse planando no meio dessa poeira toda”, ensina.
Diferentemente dos colegas de redação, Hugo prefere usar máquinas da Nikon. Ele trabalha com o modelo D750 e, para esta foto, usou uma lente 80-200mm. “Acho que também vale destacar que no fotojornalismo é muito importante transmitir as fotos rapidamente para o editor para garantir que nós publiquemos o fato primeiro. Para isso, uso um adaptador para o cartão da câmera“, comenta. O aparato permite passar os arquivos para o celular e transmiti-los rapidamente para a redação.
Veja os equipamentos usados por Hugo nesta foto:
Câmera Nikon D750
Lente NIKKOR 80-200mm f/2.8D, da Nikon
Adaptador para cartão SD, da Apple
Um olhar poético
Em coberturas extensas é comum flagrar fotógrafos aproveitando as longas esperas para registrar outras coisas no ambiente: um passarinho que aparece para tomar banho numa poça d’água ou um colega repórter que está bem posicionado na luz daquele dia, por exemplo. Foi o que aconteceu com a foto escolhida por Rafaela Felicciano, da equipe Metrópoles.
Quem vê a imagem lúdica, colorida e cheia de texturas diferentes nem imagina o contexto: foi feita durante a cobertura das manifestações dos professores em 2017, quando a categoria exigia o pagamento de reajustes e aumento no auxílio-alimentação.
“Foi um começo de ano caótico, tinha protesto todo dia. Eram dias de sol muito intenso e fazer esse tipo de cobertura diária é cansativo. Nesse dia, uma das professoras tinha levado o filho e o menino estava brincando no espelho d’água em frente ao Palácio do Buriti. Eu estava cansada e resolvi fazer um monte de fotos dessa criança. Quando vi o reflexo dele na água, comecei a brincar com ele, o deixei bem solto, e aí apareceu essa imagem”, conta a fotojornalista.
“Essa foto diz muito sobre meu trabalho, sobre o que gosto de fotografar quando se trata de meu acervo pessoal. Estava escolhendo fotos para imprimir e colocar nas paredes de casa e notei que, ao longo dos anos, fiz uma série de crianças correndo e brincando de braços abertos, só muda o ambiente”, comenta. “Nesse dia foi uma busca pelas texturas do lugar, um jeito de retratar o reflexo do céu na água, no fundo da estrutura do espelho d’água”, explica.
Para esta imagem, Rafaela usou uma câmera Canon 5D Mark III – a “irmã mais velha” da câmera usada por Igo Estrela –, com uma lente 16-35mm da marca. “É legal pensar que usei um equipamento muito básico: essa lente é uma grande angular, imprescindível para quem está começando a fotografar porque ela é mais aberta, com menos desfoque nas laterais, e consegue mostrar bem a cena”, ensina.