“Se não for minha, não será de mais ninguém”, teria dito assassino de Pedrolina
Em ligação anônima, uma pessoa contou à polícia que João Marcos Vassalo conhecia a vítima. Assediada por seu algoz, a auxiliar sentia medo
atualizado
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Uma ligação anônima ajudou a esclarecer as circunstâncias da morte da auxiliar de serviços gerais Pedrolina Silva, 50 anos. Segundo a pessoa que acionou a PCDF, João Marcos Vassalo da Silva Pereira, 20, teria dito a diversas pessoas no condomínio em que os dois moravam o seguinte: “Se não for minha, não será de mais ninguém”. Ambos residiam no Paranoá Parque.
Segundo Bruna Eiras, delegada cartorária da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), a ligação entre vítima e assassino será investigada e, dependendo do que for apurado, o caso poderá ser tratado como feminicídio. A policial afirmou que Pedrolina já teria sido assediada por seu algoz, mas sempre recusou qualquer tipo de aproximação. Chegou a dizer que tinha medo dele.
De acordo com a Polícia Civil, o desempregado confessou tê-la estuprado e assassinado para encobrir o estupro. Contou, em depoimento, que estava no mesmo ônibus em que Pedrolina seguia para se encontrar com uma amiga.
O homem disse que desceu em uma parada depois do local de desembarque de Petrolina e correu até o ponto em que a vítima estava para atacá-la. Afirmou que esganou a vítima, mas a causa da morte foi um corte de arma branca no pescoço.
Veja o vídeo do momento em que Pedrolina é atacada na parada de ônibus:
A polícia ainda vai em busca das imagens do interior do ônibus para aprofundar as investigações. Ainda de acordo com Bruna Eiras, outros casos não concluídos envolvendo o mesmo modus operandi poderão ser reabertos.
“Após a divulgação das imagens dele, as vítimas podem reconhecê-lo e aparecer. Além disso, coletamos material genético dele, que poderá ser confrontado com os de outros casos em aberto”, destacou a investigadora.
Questionada se João Marcos Vassalo seria, a exemplo de Marinésio Olinto, 41, assassino confesso de Letícia de Sousa Curado, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47, um maníaco sexual, a delegada afirmou que ainda é cedo: “O que podemos verificar, até agora, é que ele tem algum distúrbio. Não é normal que um homem permaneça vestido por dias com a mesma roupa que ele usava quando matou uma mulher”.
A polícia também procura a arma (possivelmente uma faca) com a qual Pedrolina foi morta. Segundo o Metrópoles apurou, o Instituto Médico Legal identificou sinais de esfaqueamento no corpo da vítima. De acordo com a necropsia, a auxiliar de serviços gerais apresentava uma lesão na parte frontal do pescoço, aparentemente produzido por objeto cortante. O laudo final do IML deve ser divulgado nos próximos dias.
Vassalo tem passagens por tráfico e roubo.
Veja trechos da entrevista da delegada Bruna Eiras:
Outro crime
Pereira foi preso pela Polícia Militar por volta de 12h, de terça-feira (03/09/2019), devido a outro caso, de tentativa de estupro no Lago Sul, pouco antes de o corpo de Pedrolina ser encontrado.
No caso da tentativa de estupro no Lago Sul, João Marcos Vassalo teria simulado estar armado com uma faca e levou a vítima para o mato. A mulher encontrou a tampa de uma caixa térmica e começou a bater nele. Ela conseguiu fugir e pedir ajuda a um motorista que passava pelo local, e ambos foram até o posto da PM.
Após a busca, policiais militares conseguiram prendê-lo. Ele ainda vestia as mesmas roupas que usava quando matou Pedrolina: uma bermuda caqui e camiseta verde alusiva à turma de formandos de 2004 de uma escola pública do DF.
O enterro de Pedrolina está marcado para esta quinta (05/09/2019), no Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga.
Família destroçada
Pedrolina era separada e mãe de um homem de 30 anos, casado e morador de Ceilândia. Cunhada da vítima, Ivanete de Sena Cavalcante, 47, contou por telefone ao Metrópoles que os parentes acumulam dois sentimentos: tristeza e revolta. “A família está completamente destroçada. A mãe dela não tem condição emocional de sair de casa e o filho ainda está desnorteado”, disse.
Foi Ivanete quem comunicou à Polícia Civil que uma amiga havia conseguido rastrear o celular de Pedrolina. A localização do aparelho constava no Lago Paranoá. Pedrolina desapareceu na manhã de domingo (01/09/2019), quando saiu de casa, no Paranoá Parque, tomou um ônibus e desceu na parada perto do Centro Universitário (Unieuro), na L4 Sul. Ela aguardava uma amiga que a buscaria de carro. As duas seguiriam para um clube no Setor de Clubes do Sul.
Câmeras de segurança da faculdade particular flagraram o momento em que um homem aparece correndo, sobe um barranco em direção ao ponto e agarra Pedrolina. Ela tenta se desvencilhar, mas é arrastada para um matagal.
As buscas foram encerradas na tarde dessa terça-feira (03/09/2019), após agentes da Polícia Civil encontrarem o corpo de Pedrolina em um matagal. Ela vestia apenas calcinha e uma camiseta listrada manchada de sangue. Uma revista pornô foi localizada perto do cadáver.
Pedrolina atravessava o melhor momento da vida. Recentemente, havia pegado as chaves do apartamento comprado por meio do programa Minha Casa Minha Vida e, no fim do ano passado, formou-se em serviço social pela Universidade Católica de Brasília. Inclusive, no seu trabalho de conclusão de curso (TCC), ela abordou a temática sobre violência contra a mulher negra.
Amiga deveria buscá-la
Ao Metrópoles, uma amiga e colega de trabalho de Pedrolina Silva chorou ao se lembrar da amiga. Claunice Telles, 49, havia combinado de buscar Pedrolina na parada entre 10h15 e 10h30. “Ela morava sozinha e acabava passando muitos fins de semana sem companhia. Eu a convidei para passar o dia comigo e minha família no clube e, como moro no Gama, marquei de buscá-la na L4 Sul”, contou.
Claunice diz que chegou ao local no horário combinado e não viu a amiga. “Liguei três vezes, e só dava caixa postal. Pensei que ela tivesse desistido de última hora e não conseguiu me avisar por falta de bateria.” Instantes antes, Pedrolina enviou áudio pelo WhatsApp para Claunice dizendo que havia chegado à parada.
Ouça:
Ao tomar conhecimento da morte da amiga, Claunice entrou em choque. “De certa forma, me sinto culpada, porque, se eu não tivesse feito o convite, nada disso teria acontecido. Ela vivia o melhor momento, havia conquistado muitas coisas”, disse, emocionada.