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Rosa: “Deixei a violência doméstica para trás com receita de suspiros”

Mãe de três filhos, a empreendedora Rosa Silva Melo conta como encontrou forças para se livrar de um relacionamento abusivo

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Brasília (DF), 15/08/2019. Rosa Silva Melo fala de superação de um relacionamento abusivo.  Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 15/08/2019. Rosa Silva Melo fala de superação de um relacionamento abusivo. Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles - Foto: Jacqueline Lisboa/Esp. Metrópoles

Nove meses atrás, Rosa não era a Rosa que se vê na foto. Tinha os cabelos curtos, os olhos tristes e a fisionomia abatida. Ela vivia uma situação de violência doméstica – com abusos físicos e psicológicos, em um casamento que já não existia mais. Estava deprimida, sem forças para sair da situação que lhe maltratava.

Uma conhecida, que também havia passado por um relacionamento abusivo, a convidou para conhecer o Instituto Umanizzare, uma casa verde localizada no Núcleo Bandeirante onde voluntários cuidam de pessoas. “Temos o costume de dizer que, quando alguém passa da porta, torna-se nosso. O Umanizzare foi criado para transmitir felicidade a todos que aparecerem, sem fazer nenhuma distinção”, afirma Grace Justa, delegada da Polícia Civil do DF e uma das fundadoras do espaço.

Ali, na casa verde, Rosa achou o apoio que precisava para se reencontrar, se redescobrir, ou, em suas próprias palavras, para desabrochar. O instituto tem dois projetos principais: o “Dona de mim”, voltado a vítimas de violência doméstica, e o “Eu sou uma estrela”, para crianças e adolescentes especiais. O atendimento é feito de maneira integral, com a oferta de cursos, oficinas de culinária, de fotografia, de pintura e sessões de terapia individual e em grupo. A seguir, o depoimento de Rosa:

“Meu nome é Rosa Silva Melo, tenho 40 anos e três filhos, com idades de 11, 6 e 2 anos. Fui casada durante 18 anos e estou separada desde o final do ano passado. Vivo com meus filhos e os sustento com o dinheiro que ganho vendendo suspiros.

Não são suspiros quaisquer, são recheados de goiabada, de abacaxi com coco, de doce de maracujá. A receita é especial, eu aprendi aos 13 anos de idade, em Minas Gerais, quando trabalhei na casa de uma senhora que vivia de fazer suspiros. Ela me disse: ‘Aprenda a fazer, um dia vai lhe servir’.

Durante anos, eu vivi um relacionamento abusivo. Meu ex-companheiro me traia, me criticava, dizia que eu era feia e que não conseguiria viver sem ele. Chegaram a ir homens na porta da minha casa reclamar que ele estava dando em cima das mulheres deles. Isso não aconteceu uma ou duas vezes, aconteceu várias vezes. Quando eu reclamava sobre estas humilhações, ele me agredia fisicamente, com tapas no rosto e empurrões.

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Ela viveu 18 anos com um companheiro que a submetia a violências físicas e psicológicas
"Eu era uma rosa murcha", conta
Desde que se separou, ela reinventou a própria vida
E diz que agora está florescendo
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Rosa, 40 anos, sustenta os três filhos com encomendas de suspiros

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Ela viveu 18 anos com um companheiro que a submetia a violências físicas e psicológicas

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Desde que se separou, ela reinventou a própria vida

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E diz que agora está florescendo

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Uma vez, ele ameaçou me matar, apontando uma arma de fogo para mim. Em outra, quando eu tinha saído de casa em uma tentativa de rompimento, ele queimou o carro de um conhecido que estava estacionado em frente à minha casa. Apesar dessas situações extremas, eu o perdoava, achava que era minha obrigação de mulher aguentar o casamento. Minha autoestima foi ao chão, eu realmente achava que as palavras dele eram verdades absolutas.

Meu ex-marido sempre repetia um provérbio bíblico: ‘A mulher sábia edifica, a mulher tola derruba’. Também ouvi de outras pessoas da igreja que o divórcio era coisa do demônio, porque ele não gosta de famílias. Ele me controlava assim e eu sempre decidia perdoar, repensar, tentar mais uma vez. Mas, depois que ele incendiou o carro e colocou a minha vida e a dos meus filhos em risco, fui me dando conta de que não havia viabilidade naquela relação.

Do jeito que vivíamos, se ele não me matasse, eu me mataria, tão triste estava. Só que eu não tinha emprego, não tinha para onde ir. Foi aí que tive um estalo – ‘vou vender suspiros’ – e a receita que aprendi adolescente apareceu instantaneamente na minha cabeça.

Quando isso aconteceu, eu já conhecia a doutora Grace e estava frequentando o Umanizzare. Uma conhecida minha sabia da situação que eu vivia e me trouxe para cá. Aqui, me reencontrei e encontrei esse anjo que é a Grace. Você acredita que ela me levou para vender suspiros lá na PGR (Procuradoria Geral da República), aquele prédio chiquérrimo todo espelhado?

No instituto, eu tenho atendimento com psicólogo, com psiquiatra e convivo com outras mulheres que passaram ou estão passando por situações parecidas com a minha. Aqui, me fortaleço. Estou florescendo, era uma rosa murcha. Podei galhos que estavam impedindo meu crescimento e, agora, estou desabrochando. Em um relacionamento sério comigo mesma.

Decidi contar a minha experiência porque sei que muitas mulheres estão vivendo o que vivi. Queria dizer a cada uma delas que sei que é difícil sair de um relacionamento assim, mas que elas não merecem passar por isso, que há um caminho para seguir.”

 

Serviço
Instituto Umanizzare
Setor Industrial Bernardo Sayão, Quadra 3, Conjunto B, Lote 13
Núcleo Bandeirante (próximo ao Lar dos Velhinhos)
Telefone: (61) 99604 8818

Os suspiros da Rosa podem ser encomendados pelo telefone: (61) 99845 7878

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