“Quero botar fogo nela viva e rir”, ameaça ex-marido em áudio
O motorista Carlos Eduardo, 38, é acusado de tentativa de feminicídio. Ele tem um mandado de prisão em aberto
atualizado
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Acusado de tentativa de feminicídio e foragido da Justiça, Carlos Eduardo Soares de Farias (foto em destaque) é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por ameaçar, em áudio, a ex-mulher e toda a família dela. “Eu ainda quero botar fogo nela viva, olhar pra cara dela e rir”, declarou o motorista de aplicativo, de 38 anos, em uma mensagem enviada pelo WhatsApp, no dia 25 de junho, a uma amiga da vítima. Um mês antes, conforme consta em ocorrência policial, ele havia tentado matá-la com uma faca.
Pessoas próximas contam que o casal ficou junto por cerca de 12 anos e morava no Varjão. A separação teria ocorrido quando a mulher descobriu envolvimento de Carlos Eduardo com drogas e o internado em uma clínica de reabilitação. Depois de sair da internação, segundo parentes, ele decidiu acabar com a vida dela.
“Eu odeio muito essa mulher. Se eu pudesse arrancar cada pedaço dela, empanar e ficar olhando todo dia, pra mim isso seria um troféu”, disse o motorista no áudio. “Já estou aqui, próximo dela, e só estou esperando a hora exata para agir. Eu não vou ter dó. Vou meter uns três tiros na cabeça dela e um na minha.”
A mulher e seus familiares, que preferiram manter o anonimato, permanecem escondidos. O Metrópoles teve acesso ao áudio, que foi separado em trechos a fim de preservar a identidade dos envolvidos. Ouça abaixo:
Tentativa de feminicídio
Em 17 de maio, Carlos Eduardo teria tentado matar a ex-companheira. De acordo com parentes, o suspeito a convidou para a casa de um familiar dele, em Formosa (Goiás), e desferiu três facadas. Ela sobreviveu após dois dias internada no Hospital Municipal da cidade e outros dois no Hospital Santa Lúcia, em Brasília. Depois disso, as ameaças continuaram, relatam os conhecidos.
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), há um inquérito policial instaurado para investigar a denúncia de violência doméstica na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam). Um inquérito da tentativa de feminicídio também foi aberto pela Polícia Civil de Goiás.
As ameaças feitas por Carlos se estenderam aos familiares. “Não só ela. Mesmo se ela fugir, vou conseguir levar pelo menos uns três da família dela. Pelo menos uns dois, é certeza. Já sei do horário, onde trabalham, já sei tudo”, afirmou. “Queria pelo menos uns dois, pra ela sentir na pele e ver que não destruiu somente a minha vida: destruiu a vida dela e a deles.”
O motorista ainda alegou estar arrependido de não ter conseguido matá-la na ocasião anterior, dizendo que queria esquartejar o corpo. “Vai ter que aguentar a pendência. Por que, do mesmo jeito que eu estou foragido, ela vai ficar foragida também. Agora, não vai ter mais paz não.”
Medidas protetivas
O laudo médico aponta que, além das demais lesões causadas, o lóbulo da orelha da mulher foi arrancado durante a tentativa de feminicídio. As facadas perfuraram a região do tórax. Em depoimento aos policiais militares de Goiás que atenderam a ocorrência, a vítima afirmou que as agressões se iniciaram sem discussão ou motivo aparente.
No entanto, Carlos Eduardo conseguiu fugir. Em 27 de maio, foram requeridas medidas protetivas ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), deferidas pela juíza na mesma data para serem aplicadas no prazo de 180 dias. O site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) indica um mandado de prisão preventiva em desfavor do motorista, com as tipificações penais de violência doméstica e ameaça.
O suspeito voltou a ameaçar a ex-mulher ao enviar áudio a uma amiga dela. Com a intenção de cometer o crime, ele pediu à interlocutora que se mantivesse longe da vítima. “Apaga minhas fotos, porque vão trazer lembranças ruins pra você. O que está por vir não é nada bom.” Ele culpa a ex-mulher pela destruição de sua reputação e carreira.
A reportagem tentou contato com Carlos Eduardo. No entanto, ele não atendeu as ligações e nem retornou as mensagens.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.