Projeto fotográfico ajuda sobreviventes da violência doméstica
Ísis Dantas resolveu apoiar a autoestima de mulheres que, assim como ela, romperam esse ciclo, venceram agressões e recomeçaram suas vidas
atualizado
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Com 19 anos, a fotógrafa e jornalista Ísis Dantas conheceu seu agressor. Sem saber o que a esperava, ficou nesse relacionamento abusivo por dois anos e meio e dele nasceu sua filha mais velha. Na época, com o ciúme doentio do companheiro, parou de estudar, mudou a forma de se vestir e de agir – não amamentava em público a fim de evitar repressões e descontrole do parceiro.
“Eram agressões psicológicas e físicas. É uma coisa que vai acabando com você aos poucos. Fiquei calada, não contava para ninguém”, relembra.
Com o apoio da mãe e não suportando mais as agressões, Ísis conseguiu colocar um ponto final no sofrimento e recomeçar. À época, sua filha tinha 8 meses de vida. Voltou a estudar, concluiu o curso de jornalismo e, como ela mesma diz, foi resgatada pela fotografia.
Hoje, com 42 anos, descobriu uma forma de ajudar mulheres que passaram pelo mesmo trauma. Por meio de ensaios fotográficos, o projeto Marias da Penha resgata a autoestima das vítimas que tiveram coragem e romperam o ciclo de violência.
“A maioria das mulheres sai desses relacionamentos com a autoestima baixa, sempre se achando inferiores em vários sentidos. A ideia de fotografá-las é mostrar como realmente são fortes, empoderadas e bonitas”, explica.
O Marias da Penha nasceu após Ísis assistir a um programa que estava debatendo a violência contra a mulher. No episódio, ela viu histórias de pessoas que ficaram desfiguradas, machucadas e com a alma ferida. Ficou tocada. Fez o primeiro ensaio indicada pela filha da candidata. Depois disso, leu a matéria da Rosa no Metrópoles e resolveu entrar em contato para o segundo ensaio.
As sessões de fotos
Desde junho, quando tudo começou, quatro mulheres foram fotografadas pelas lentes de Ísis. A vontade era ter feito mais, no entanto, por trabalhar o dia todo, é difícil conseguir conciliar as agendas. Candidatas não faltam, já são oito na lista de espera para as sessões.
As interessadas podem mandar mensagem direta no perfil do Instagram (@mariasdapenha) ou por Whatsapp (61-98115-9068), contando um pouco da história pessoal. Uma vez escolhida a modelo, Ísis entra em contato e, juntas, elas combinam o lugar palco do ensaio, que dura cerca de uma hora.
A ideia sempre foi fotografar pessoas que conseguiram romper o ciclo de violência e não estão mais com seus agressores. “Elas precisaram dar a volta por cima, é um processo delicado. Na hora das fotos, tudo tem de ser feito com delicadeza, gentileza”, explica Ísis.
Como parte do projeto, com o ensaio pronto, a fotógrafa posta tudo no site e faz um pequeno relato da trajetória daquela mulher. As histórias servem para encorajar e mostrar a outras agredidas que elas devem denunciar, pois, se buscarem ajuda e apoio, existe vida após a violência.
“Todas elas ficam maravilhadas quando veem os resultados. Ficam sem acreditar que são elas. Uma das modelos disse que era o sonho da vida dela fazer essas fotos”, conta.
Por enquanto, o ensaio completo é disponibilizado para as modelos em alta qualidade no Flickr. Por não ter patrocínio, Ísis não tem condições de imprimir as imagens. A jornalista busca parcerias e apoio para criar um fotolivro a fim de distribuí-lo nas casas das apoiadoras das vítimas de violência doméstica e nos centros de referência que fazem atendimentos.
Veja algumas fotos feitas para o Marias da Penha:
Mulheres unidas
O Marias da Penha acabou criando laços entre as envolvidas. Ísis relata que elas se ajudam, apoiam e não deixam a peteca cair. Uma mulher estava querendo fazer as fotos, mas ficou apreensiva por estar sem os dentes. Foi quando uma das modelos do ensaio se propôs a tentar encontrar uma forma de a colega arrumar os dentes para fazer as imagens (ainda não conseguiram).
Outra recebeu apoio de Ísis para vender seus suspiros e conseguir pagar o aluguel. O dinheiro foi arrecadado com sucesso.
“As mulheres estão se unindo para se ajudar e espalhar amor. Elas fazem parte da minha vida. Fica uma dica: mulheres, criem projetos e rede de apoio”, aconselha Ísis.