Mulher falou com irmã pelo WhatsApp antes de ser morta
Suspeito de matar Fátima Lisboa, 31 anos, no Núcleo Bandeirante, é o homem que estava se separando dela
atualizado
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Irmã de Fátima Lisboa (foto em destaque), 31 anos, Maria José, 40, acredita ter sido a última pessoa a se comunicar com a mulher encontrada morta na manhã desta terça-feira (21/01/2020) no apartamento onde ela morava, no Núcleo Bandeirante. As duas se falaram por WhatsApp, mas, por volta das 11h40 de segunda-feira (20/01/2020), Maria José não teve mais resposta, e achou estranho. “Tem uma colega que ia morar com ela, mas não conseguiu entrar na casa. Aí bateu o desespero”, lembra.
Segundo Maria José, Fátima e o atual companheiro, suspeito do crime, eram bem tranquilos e o homem não aparentava ser violento. “Passaram mais de um ano juntos e estavam se separando. Moravam no Riacho Fundo I e ela se mudou na sexta por causa disso”, afirmou. Atevaldo Sobral Santos cometeu suicídio nessa casa logo após matar a companheira, segundo testemunhas.
A irmã pretende se lembrar do jeito feliz de Fátima Lisboa. “Muito alegre, muito disposta para trabalhar. Minha amiga mesmo, sempre estava lá em casa”, destacou.
Fátima teria sido assassinada com um martelo de amaciar carne. Em seu perfil no Facebook, a vítima se identifica como empreendedora na empresa Ltbijoias. Pessoas próximas disseram que ela trabalhava como autônoma.
Além de familiares, conhecidos de Fátima estão em choque com o assassinato. O principal suspeito do crime é o homem com quem a vítima estava morando. Encontrado morto no Riacho Fundo nessa segunda-feira (20/01/2020), ele teria se enforcado.
O feminicídio ocorreu no terceiro andar do prédio localizado na Avenida Contorno do Núcleo Bandeirante. Uma mulher que mora logo abaixo da unidade onde aconteceu a tragédia estava em casa no momento do crime e diz que ouviu grito vindo do imóvel onde a vítima residia. A moradora preferiu não se identificar. “Por volta de meio-dia (de segunda-feira), teve um barulho de furadeira e depois ouvi um grito bem alto”, relata.
No momento, a mulher imaginou que pudesse ser um choque em decorrência do manuseio de uma furadeira ouvida anteriormente. Como Fátima estava de mudança, algo também poderia ter caído. “Não fui até a casa dela, pois não ouvi discussão. Foi apenas o grito. Se soubesse, teria ido ajudar”, lamenta.
Nova movimentação a moradora só ouviu na manhã desta terça (21/01/2020), quando a família foi até a casa e abriu a porta. “Ouvi vários ‘Ai meu Deus’. Dessa vez, subi lá e vi que ela tinha sido morta”, conta.
A vítima tinha três filhos. Destes, duas meninas, de 14 e 10 anos, d0 casamento com o empresário Anderson da Silva Santos, 40. “Ficamos juntos por uns quatro anos”, disse o homem, que foi ao local onde ocorreu o crime. Os dois se revezavam no cuidado das garotas, mas agora ele precisará criá-las sozinho. “Educar sem a mãe vai ser difícil. Elas já sabem do que aconteceu. Estão muito arrasadas”, lamentou o homem.
A 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante) investiga a morte. De acordo com o chefe da unidade, está confirmada a morte violenta. Ele não deu detalhe sobre o feminicídio. “Vamos seguir o mesmo protocolo d0 caso da Candangolândia. Estamos apurando tudo para saber as circunstâncias do crime”, frisa.
Segundo o investigador, o assassinato ocorreu entre 11h e 13h de segunda-feira (20/01/2020). “Os moradores estão prestando os esclarecimentos. Ainda é muito cedo para dizermos algo”, explica.
Outros casos
Se confirmado, este será o quarto feminicídio do ano no Distrito Federal. Uma das vítimas é Rute Paulina da Silva, 42 anos, assassinada em Samambaia, no dia 14 de janeiro. A mulher descrita por vizinhos como tranquila e religiosa foi morta pelo companheiro, que está preso.
O corpo de Rute foi encontrado na Quadra 321 de Samambaia Sul, com a marca de uma facada no pescoço. Ela deixou dois filhos – de 7 e 2 anos. Uma das crianças chegou a dizer que viu o pai esfaqueando a mãe deles.
O primeiro feminicídio de 2020 é o de Larissa Francisco Maciel, 21, na Candangolândia. O suspeito é um jovem de 20 anos, que é casado e mantinha um relacionamento extraconjugal com a vítima.
A diarista foi morta na madrugada de 6 de janeiro, após uma festa em um posto de gasolina. O corpo dela foi achado nu, no altar da Igreja Evangélica Tenda da Libertação. O assassino foi preso no dia 15 de janeiro.
O outro caso é o de Gabrielly Miranda, 18, morta pelo namorado, Leonardo Pereira, também no dia 14 em Samambaia. Ele assassinou a parceira com um tiro na cabeça.
Em 2019, o Metrópoles iniciou um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal são contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país. Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.