João de Deus: nova denúncia inclui homicídio e contrabando de urânio
As acusações que envolvem o cirurgião espiritual foram reveladas pelo Fantástico neste domingo (24/3)
atualizado
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Novas denúncias contra o médium João de Deus foram feitas, neste domingo (24/3), em reportagem do Fantástico. Acusado de estuprar centenas de mulheres na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), o líder religioso agora aparece como suspeito de homicídios e contrabando de urânio — material altamente radioativo.
Em entrevista ao programa, uma vítima contou que, quando tinha 17 anos, foi acompanhar sua tia doente na consulta com o acusado. Naquele dia, em 1973, João de Deus disse à então adolescente que a levaria de caminhonete para uma “limpeza espiritual”. O agressor, que tinha cerca de 30 anos à época, dirigiu a garota até um matagal próximo a uma ponte e a estuprou, conforme relato à atração da Rede Globo.
Virgem, a jovem começou a ter um sangramento muito intenso após os abusos. Ao ver o sangue, o médium teria dado uma pedrada e três tiros na vítima e, em seguida, a jogado da ponte. Quando voltou, João disse à tia da menina que a menina teria fugido para não se casar. A adolescente sobreviveu após ser resgatada por um pescador.
A mulher contou ainda ter uma bala alojada na cabeça, fato confirmado pelo Fantástico com um exame de raio-X. Depois da tentativa de homicídio, a vítima nunca contou o ocorrido a ninguém. Não oficializou o compromisso com o noivo, com quem estava de casamento marcado, e se mudou para o Nordeste. O caso nunca foi investigado e já prescreveu.
Traição
A reportagem também contou a história de um taxista assassinado em 1980. Os bandidos fugiram com o veículo do homem. Após serem presos, os suspeitos disseram que o mandante era João de Deus. Eles teriam sido contratados porque a então esposa do médium teria um relacionamento extraconjugal com a vítima.
Depois de ser acusado, o cirurgião espiritual apresentou uma escritura assinada pelos pais do taxista, dizendo não acreditar no envolvimento do líder religioso no crime. João de Deus foi inocentado em 1982 por falta de provas, conforme informou o programa da Rede Globo.
Tráfico
A matéria do Fantástico também revelou um caso de tráfico de autunita, mineral com grande concentração de urânio e altamente radioativo, usado em bombas e usinas nucleares. Em 1985, na cidade de Campos Belos, Norte de Goiás, policiais prenderam João de Deus com uma tonelada do material.
O médium respondeu em liberdade e disse não saber do que se tratava quanto ao produto encontrado em seu veículo. O médium apresentou um documento provando ser responsável apenas pelo frete e foi absolvido.
O Fantástico também levantou suspeita sobre o envolvimento do líder espiritual com o tráfico de drogas. Em 1988, o maior traficante do Centro-Oeste disse, ao ser preso, que o líder espiritual tinha dois aviões bimotores. Segundo o criminoso, as aeronaves eram usadas para o transporte de cocaína. Além disso, ele confessou vender entorpecentes para João Curador, codinome que usava para João de Deus.
Morte de estrangeira
A denúncia também associou a morte de uma mulher alemã. Ela tinha levado o filho viciado em drogas para tratamento na Casa Dom Inácio de Loyola, em 2006. A vítima havia dito que João de Deus era um charlatão e o denunciaria.
Pouco depois, após um jogo da seleção brasileira pela Copa do Mundo de 2006, encontraram a mulher sem vida, com um tiro no queixo à queima roupa. No registro inicial da Polícia Militar, o caso foi abordado como morte natural, mas o Instituto Médico Legal (IML) revelou a verdade. O crime, entretanto, nunca havia sido associada ao líder espiritual. Depois de uma testemunha relatar a situação ao Fantástico, a denúncia será investigada novamente.
À reportagem, a defesa do médium se disse surpresa. Reclamou ainda de não conseguir acesso à íntegra dos depoimentos para embasar os argumentos para defender João de Deus.
Prisão em dezembro
O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) decretou a prisão de João Teixeira de Faria no dia 14 de dezembro de 2018. Dois dias depois, após buscas policiais em mais de 20 endereços atribuídos ao médium, a defesa negociou a sua entrega. O médium foi levado para uma cela do núcleo de custódia em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital.
Além das denúncias trazidas pelo Fantástico e as centenas de acusações de estupros atribuídas a João de Deus, o cirurgião espiritual acumula uma longa ficha de transgressões. Em depoimento, ele admitiu a fabricação de medicamentos, o que contraria não só a legislação normativa estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como fere regras do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Na casa dele, foram encontradas duas armas sem registro, pedras preciosas e uma grande quantidade de dinheiro em espécie.
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