Janeiro de 2019: um mês de terror para elas no Distrito Federal
Números da Segurança Pública revelam pior face do machismo. Foram 4 feminicídios, 8 tentativas e 1.242 casos de violência doméstica
atualizado
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O ano mal começou e já contabiliza quatro mulheres vítimas de feminicídio no DF, oito que escaparam da morte por pouco, e outras 1.242 que foram até a delegacia mais próxima pedir por socorro. O placar de janeiro foi amplamente favorável para a violência, a covardia e o machismo. De acordo com números da Secretaria de Segurança Pública, a cada dia desse janeiro, pelo menos 40 mulheres foram subjugadas pela força de homens. A maioria deles, maridos, companheiros, namorados ou ex-parceiros, não suportou conviver com a individualidade delas.
Na última semana, duas moradoras da Asa Norte foram assassinadas por homens com quem compartilharam a intimidade por anos. Na segunda-feira (28/1) de manhã, Diva Maria Maia da Silva, 69 anos, não sobreviveu ao receber pelo menos cinco tiros de Ranulfo do Carmo, 74, no apartamento da família, na 316 Norte. Ele também atirou em Regis do Carmo Correia Maia, 47, filho do casal, que costumava proteger a mãe durante os ataques de fúria do pai. Ranulfo foi preso em flagrante no mesmo dia.
Na quarta (30), o que parecia ser um grave incêndio com duas vítimas fatais, na mesma Asa Norte, revelou-se outro crime bárbaro do machismo. Veiguima Martins, 56, foi assassinada pelo companheiro, José Bandeira da Silva, 80. Os dois viviam mal há anos. A servidora pública já havia avisado a familiares que colocaria um ponto final na relação. Depois de esfaqueá-la, Bandeira colocou fogo no apartamento em que os dois moravam na 310 Norte e acabou morrendo ao inalar fumaça tóxica.
Na madrugada do primeiro sábado do ano (5), Vanilma Martins dos Santos levou uma facada do companheiro, Tiago de Souza Joaquim, 33, com quem vivia há 10 anos. A dona de casa morreu aos 30 anos, deixando órfão um menino de apenas três.
Nesse domingo (3/2), dentro do projeto editoral Elas por elas, o Metrópoles detalha a agonia silenciosa de Vanilma, que não conseguiu romper com o ciclo de violência e solidão no qual foi enredada pelo companheiro e pai de seu único filho.
Um quarto caso de feminicídio está em apuração na 13ª DP (Sobradinho), depois que o corpo de uma mulher baleada foi encontrado na região do Engenho Velho, na Fercal. A polícia ainda apura a identidade da jovem e as circunstâncias do crime, mas, como as mortes violentas delas quase sempre estão relacionadas à ira deles, a primeira hipótese é de que o assassino seja alguém com quem, em algum momento, ela se relacionou.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.