Irmão de mulher espancada diz não ter como acostumar com rosto dela
Elaine Caparroz sofreu múltiplas fraturas no rosto, perdeu dentes e levou 40 pontos na boca. Os médicos descartam sequelas neurológicas
atualizado
Compartilhar notícia
O irmão da empresária e paisagista Elaine Caparroz, Rogério Peres Caparroz, ainda está perplexo com os ferimentos causados pelo espancamento a que ela foi submetida. Ele conta que, quando recebeu as primeiras imagens do apartamento em que o crime ocorreu, não acreditou que a irmã tivesse sobrevivido às agressões, que estão sendo tratadas pela polícia como tentativa de feminicídio.
“Uma amiga dela entrou em contato conosco e disse: aconteceu uma desgraça”, lembra ele. “Quando vi o vídeo do apartamento dela, achei que ela estava morta, pela quantidade de sangue espalhado”.
Rogério chegou ao Rio de Janeiro horas depois de ser informado, na tarde de ontem, para acompanhar a recuperação da irmã. Elaine está internada no Hospital Casa de Portugal e foi transferida da Unidade de Terapia Intensiva para o quarto na tarde de hoje (18/2).
A paisagista e empresária sofreu múltiplas fraturas no rosto, perdeu dentes e levou 40 pontos na boca. Os médicos ainda não puderam definir se será necessário fazer cirurgia, por causa do inchaço do rosto.
“Cada vez que eu olho para a minha irmã, até agora, não consigo reconhecê-la naquela fisionomia. Não tem como me acostumar. Toda vez que eu olho eu fico chocado”, diz ele, que conta que os médicos já descartara que ela possa ter sequelas neurológicas, mas ainda não há garantias de que ela não fique com alguma sequela física.
Quando encontrou sua irmã na UTI, Rogério conta que ela estava angustiada e com a adrenalina elevada. “Ela queria falar e não conseguia por causa do inchaço”.
A mulher de Rogério, Mônica Caparroz, também conta que ficou chocada quando viu a violência com que a cunhada foi agredida. “Ela era uma pessoa que se cuidava muito e estamos atribuindo a isso ela estar se recuperando. Se ela tivesse uma condição física menor, ela teria morrido. Eu digo para você que eu no lugar dela não teria suportado”.
O casal conta que as agressões começaram à 1h30 da manhã de sábado, e, devido aos pedidos de socorro de Elaine, vizinhos acionaram a segurança do condomínio, que apareceu no apartamento depois das 4h. “O Brasil tem uma cultura de dizer que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Não estou dizendo que os vizinhos são culpados, mas ela estava gritando desde 1h30 da manhã”, diz Mônica.
Rogério também se preocupa com o filho de Elaine, Rayron, que é menor de idade e mora nos Estados Unidos, onde treina como lutador. “Ele está muito abalado”, conta Rogério.
Rayron deve vir ao Brasil assim que possível para visitar a mãe. O lutador postou uma declaração de amor para a mãe no Instagram, com uma foto em que estão juntos. A imagem recebeu quase 15 mil curtidas e mais de 2 mil comentários de apoio.
O autor das agressões foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Vinicius Batista Serra foi à casa de Elaine na noite de sábado e dormiu no apartamento dela, na Barra da Tijuca.
Os dois já se conheciam há oito meses pelas redes sociais e se encontraram pessoalmente pela primeira vez no dia do crime. Elaine conta que Vinicius pediu para que eles dormissem abraçados, e depois de cair no sono, ela acordou com ele esmurrando seu rosto.
Elaine também foi atacada com xingamentos, chutes e até mesmo mordidas, quando tentava proteger o rosto dos socos do agressor, que arrastou seu corpo pelo chão do apartamento.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país. Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.