Homem que matou ex no DF a ameaçou antes: “Vou fazer uma covardia”
A frase foi dita por Matheus Cardoso Galheno após a mulher ficar indignada por ele bater e deixar marcas no braço da filha, há um mês
atualizado
Compartilhar notícia
“Me solta, senão vou fazer uma covardia”. A ameaça foi feita há cerca de um mês por Matheus Cardoso Galheno, 22 anos, à ex-companheira Isabella Borges de Oliveira, 25. No domingo (31/3), ela foi morta com um tiro no olho, dentro de casa no Paranoá. Depois, Matheus, o assassino, tirou a própria vida.
Antes da ameaça, Matheus agrediu um dos filhos gêmeos do casal, de apenas 1 ano. Irritado com o choro da criança, ele deixou a marca de seus dedos no braço da filha. Indignada, Isabella avançou no marido e foi intimidada. O episódio acabou sendo o estopim para que ela pedisse a separação.
Conforme conta a delegada Jane Klébia, da 6ª DP (Paranoá), Isabella tentou defender os filhos. No entanto, embora batesse nas crianças quando elas perturbavam o sono do vigilante, não existem relatos ou registros de agressão por parte de Matheus contra Isabella.
Ele não indicou comportamento agressivo durante o relacionamento até o nascimento dos filhos, diz a delegada. E, mesmo após a separação, o casal manteve contato. Ele frequentava a residência onde viveu com Isabella e os familiares da mulher, além de levá-la para o estágio onde trabalhava na Asa Norte.
Segundo a delegada, Matheus, provavelmente, tinha esperança de reatar o casamento, expectativa que se dissipou quando soube do novo relacionamento de Isabella. “Haviam se separado há pouco tempo (um mês aproximadamente) e a rotina que tinham não foi afetada. Na cabeça dele, provavelmente havia sido só mais uma briga”, ressaltou Jane Klébia.
Devido a ausência de histórico de agressões contra a vítima e à convivência que mantiveram, a família está em choque, afirma Jane Klébia. “Esse é um dos elementos básicos da maioria dos feminicídios: ninguém esperava.”
Isabella viveu por mais de dois anos com Matheus. A jovem morava com a irmã, sobrinhas e parentes na Quadra 17, Conjunto B, no Paranoá. Antes da separação, o vigilante também vivia na residência.
Os vizinhos, que não quiseram comentar o caso, se mostram muito abalados. “Foi um caso horrível. Estamos em choque. No momento, vamos tentar apoiar a família”, declarou uma amiga da família. “Como alguém pode fazer algo tão horrível assim?”, questionou uma outra moradora da quadra.
A família recebeu visitas de amigos durante a manhã desta segunda-feira (1º/4). Na casa, o clima é de luto e sofrimento. Muito abalados, parentes de Isabella não quiseram dar entrevistas. O enterro da vítima ainda não havia sido marcado até o fim da manhã desta segunda.
Mesmo em sofrimento profundo, a família demonstrava muito carinho e atenção com as crianças órfãs, na manhã desta segunda. A polícia acredita que algum conhecido tenha fornecido a arma utilizada por Matheus para matar Isabella.
O rapaz trabalhava como vigilante. Mesmo após a separação, seguia os passos da ex. Na quinta-feira (28), segundo contou a irmã da vítima na 6ª DP, ele foi até o local onde Isabella estagiava. A encontrou conversando com um rapaz. Começou a filmar o rosto do homem que estava com a ex-mulher, próximo a um ponto de ônibus.
Veja o vídeo gravado por Matheus:
“Vagabundo. Eu cuidando dos filhos dela e ela com o vagabundo”, diz Matheus. Isabella tenta fazê-lo parar de gravar e ele ameaça: “Vou dar na sua cara”. As imagens teriam sido feitas há menos de uma semana e estão em poder da polícia. No domingo (31), o vigilante invadiu a casa da ex e a matou com um tiro. Depois, tirou a própria vida na residência em que viveram.
Os bebês foram tirados do quarto no momento em que o homem ameaçou a mulher com uma arma. Isabella teria gritado: “Matheus vai me matar na frente de meus filhos”. O homem devolveu: “Está engatilhada. Está engatilhada”. Logo depois, ouviu-se o primeiro disparo. Depois, outro tiro. O genro da irmã disse em seguida: “Matheus, que loucura você fez. Por que você fez isso?”.
Outros casos
O primeiro caso de feminicídio no DF em 2019 foi registrado na madrugada do dia 5 de janeiro. Vanilma Martins dos Santos, 30, foi morta com uma facada pelo homem que era seu marido há anos. Os dois viviam juntos no Gama e tinham um filho pequeno.
No dia 28 de janeiro, Diva Maria Maia da Silva, 69, recebeu cinco tiros no apartamento da família, na Asa Norte. O assassino era Ranulfo do Carmo, 74, também companheiro da vítima.
Apenas dois dias depois, foi a vez de Veiguima Martins, 56, morrer. Ela já havia registrado ocorrência por ameaça e lesão corporal contra o marido. Após matá-la a facadas no quarto do casal, ele ateou fogo no apartamento para tentar encobrir o crime e acabou morto também.
Ainda em janeiro, Patrícia Alice de Souza, 23, foi atingida por um tiro nas costas. As investigações concluíram que foi feminicídio.
Cevilha Moreira dos Santos, 45, foi encontrada morta no dia 11 de março, em Sobradinho. A vítima tinha marcas de facada no peito. O namorado dela é o principal suspeito.
O sexto caso ocorreu no Itapoã. A filha de Maria dos Santos Gaudêncio, 53, a encontrou morta dentro de casa com um golpe na nuca. O namorado dela, Antônio Alves Pereira, 40, foi preso após ter fugido para o Maranhão. Ele confirmou o assassinato, mas disse ter agido em legítima defesa.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país. Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.