Feminicídio: mulher levou cinco facadas do marido antes de incêndio na Asa Norte
O caso começou a ser investigado como incêndio, mas a PCDF confirmou que foi assassinato. O autor das facadas também morreu
atualizado
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A Polícia Civil do DF confirmou que a mulher morta durante incêndio em um apartamento do Bloco A da 310 Norte, na madrugada desta quarta-feira (30/1), foi assassinada pelo próprio marido. De acordo com a corporação, ela levou cinco facadas antes de morrer. O feminicida também morreu após o quarto do casal ser consumido pelas chamas. Ele não conseguiu fugir a tempo e acabou inalando muita fumaça. Segundo a polícia, a intenção era mascarar o assassinato.
Segundo o delegado Laércio Rosseto, da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), a vítima, Veiguima Martins (foto de destaque), 56 anos, já havia registrado ocorrência por ameaça e lesão corporal contra o marido.
Parentes do casal que foram ao prédio disseram que José Bandeira da Silva, 80 anos, era violento com a servidora da Secretaria de Educação. “Ele a agredia, prendia. Ela retirou a queixa na delegacia, pois ficou com pena dele pela idade. Batia nela há quatro anos. Ele tinha ciúmes de todo mundo, queria a atenção só pra ele. Até dos netos. Todo dia eu a alertava do perigo”, contou Raquel Martins, filha da vítima, ao Metrópoles.
“Morreu porque ficava com dó e pena dele. Minha irmã era uma pessoa de coração muito bom”, lamentou Rozilene Martins, 47, servidora pública.
“Mais um evento trágico de violência contra a mulher. Ela já tinha registrado ocorrência contra ele no ano passado, pois ele dizia que ia matá-la”, disse o policial. Agora, os investigadores aguardam o resultado da perícia para entender a sequência de eventos.
Vizinhos relataram terem ouvido gritos e barulho de briga antes do incêndio. Também chamou atenção da polícia o fato de as mãos de José Bandeira estarem feridas e a roupa dele suja de sangue.
Outro filho da mulher, que não se identificou, confirmou ao delegado que o homem já tinha histórico de ameaça. Eles eram casados há mais de 10 anos e estavam em fase de separação.
Por volta das 4h40, equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas para conter as chamas. José Bandeira da Silva chegou a ser resgatado com vida, mas não resistiu à intoxicação grave pela inalação de fumaça. Os socorristas tentaram reanimá-lo por mais de 50 minutos. O corpo de Veiguima foi encontrado carbonizado no quarto do casal.
De acordo com informações preliminares, o fogo teria começado em um dos quartos do imóvel.
As chamas atingiram três cômodos do apartamento, e a fumaça invadiu os corredores da prumada. Assustados, os demais moradores saíram correndo do prédio.
Moradores assustados
Muitos moradores do prédio ainda dormiam quando o fogo começou a se alastrar pelo quarto do casal que morreu no incêndio. De acordo com o médico Rodolfo Duarte, 37, que mora na unidade ao lado do apartamento atingido, ele não era próximo das vítimas.
“Só acordei quando os bombeiros chegaram ao local e quis ver se o cachorro estava bem. Fiquei bem assustado. Não tinha nem fumaça no meu quarto, mesmo sendo o apartamento ao lado”, relatou.
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Já o vizinho Jorge Tosta, 63, estava na sala de casa quando começou a sentir o cheiro de queimado. “Minha família desceu antes e eu fui depois. Era muita fumaça, o olho ardia muito. Na hora em que fui sair, desmaiei e meu próprio peso fechou a porta. Os bombeiros me salvaram e foram muito eficazes no resgate. Quando acordei, estava desorientado ainda, assustado”, contou.
O analista de sistemas Bruno Carneiro, 34, e a publicitária Sanaa Ghazal, 33, ficaram em pânico com o incêndio. O casal procurou deixar o prédio o mais rápido possível. Bruno estava acordado e foi fechar a janela quando sentiu um cheiro muito forte de plástico queimado. Preocupado, acordou a esposa.
O morador desceu em seguida e viu o fogo. O casal começou a bater em várias portas vizinhas na tentativa de alertar outros moradores, mas muitos estavam dormindo e não ouviram. “Me senti impotente. Não tinha como alertar ninguém, pois não tínhamos recursos”, lamentou Bruno.
Feminicídios
No Distrito Federal, foram registrados 519 casos de violência contra a mulher neste ano (dados até o dia 19/1). Em 2018, 27 mulheres morreram vítimas de feminicídio.
Este ano, duas mulheres morreram assassinadas pelo marido. A dona de casa Vanilma Martins foi assassinada a golpes de faca no dia 5.
Na segunda (28), outro feminicídio chocou os moradores da Asa Norte. Ranulfo do Carmo, 74, matou a tiros a companheira Diva Maia da Silva, 69, e feriu o filho Regis do Carmo Correia Maia, 47.
Ele fugiu após o crime, mas acabou preso pela Polícia Militar. O filho do casal está internado no Instituto Hospital de Base (IHB).
(Colaborou Rebeca Borges)
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.