Ex-PM que matou Jessyka deve ficar oito anos em regime fechado
A progressão de pena para crimes hediondos prevê que, cumpridos dois quintos da sentença, o preso pode ir para semiaberto
atualizado
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Condenado a 21 anos e 9 meses de reclusão pelo feminicídio de Jessyka Laynara da Silva Souza e devido à tentativa de homicídio do personal trainer Pedro Henrique da Silva Torres, o ex-policial militar Ronan Menezes do Rego, 28 anos, não deve passar todo o período no regime fechado. Com o processo de progressão existente no Código Penal brasileiro, os advogados das partes envolvidas estimam que, em oito anos, ele poderá entrar no semiaberto.
De acordo com o defensor da família de Jessyka, Carlos Eduardo Campos, a grande surpresa do julgamento realizado na segunda-feira (29/04/2019) foi a confissão do crime por Ronan. “Ele ter admitido que matou foi uma carta que ninguém esperava. Isso acabou fazendo com que fossem reduzidos uns cinco ou seis anos na pena”, destaca.
Agora, avalia o advogado, é hora de analisar a sentença e ver se há a possibilidade de recurso para aumentar o tempo de prisão. “Se for possível e tiver algo que não ficou bem colocado, vamos tentar alongar a pena. Nesse momento, no entanto, não há o que retocar.”
Com a sanção estipulada pelo juiz Tiago Pinto de Oliveira, do Fórum de Ceilândia do Tribunal do Júri do Distrito Federal, o ex-PM deve ficar oito anos em regime fechado. Essa conta, explica a advogada de Ronan, Kelly Felipe Moreira, deve ser feita a partir do momento em que ele foi preso, em maio de 2018. “Tem um ano que ele está no regime fechado e é réu primário. Por ser um crime hediondo, a conta para progredir ao semiaberto é de dois quintos”, explica.
A estimativa é de que, a partir de em 2027, Ronan possa deixar a prisão durante o dia para trabalhar. “Há algumas variações que podem acontecer, mas a conta que fizemos é de oito anos e quatro meses até que possa começar a sair do cárcere”, pontua a defensora.
Sofrimento
“Muito sofrimento, mas pelo menos ele foi condenado”, resumiu a técnica de enfermagem Adriana Maria da Silva, 40, mãe de Jessyka Laynara, logo após a audiência. Antes, ela já havia se manifestado dizendo que esperava pena máxima para Ronan.
No julgamento, o autor se pronunciou sobre o crime pela primeira vez desde o assassinato. “Eu sei o que fiz, mas criaram uma história para que eu parecesse um monstro. Não estou aqui para me eximir do que fiz. Aconteceu um feminicídio e uma tentativa de homicídio, sim, mas não sou um espancador. Não buscaram a verdade”, ressaltou.
Ele negou que tivesse a intenção de matar, apesar de ter disparado quatro tiros na vítima. Ele detalhou, diante do juiz, que houve uma discussão entre ele e a ex-namorada momentos antes, quando tomou o celular dela.
“Quando peguei o celular, vi que não parava de chegar mensagens. Parei o carro e vi que eram do Pedro, chamando ela de amor e ela o chamando de amor. Fui atrás dele na academia, passei pela catraca e o confrontei. Ele negou, tirei o celular dela e mostrei para ele, disse que tinha visto tudo”, narrou o ex-PM.
Ronan continuou: “Eu o xinguei e ele partiu para cima de mim. Levantei a arma e falei para se afastar. Foi quando atirei, mas se eu quisesse matar, continuaria atirando. Ali eu vi que ele poderia pegar minha arma e tentar me matar. Para eu sair da academia, tinha que passar por ele”.
Logo depois, o acusado partiu em direção à casa da ex-namorada, que morreu aos 25 anos. “Cheguei lá, buzinei e ninguém saiu. Uma menina que eu nunca tinha visto abriu o portão, entrei e chamei pela Jessyka. Quando ela apareceu, contei que tinha atirado no Pedro e entreguei minha arma a ela”, afirmou o ex-PM.
Perante o júri, Ronan disse que, em seguida, “Jessyka sorriu, falou que estava esperando para entrar no concurso dos bombeiros e que eu era muito idiota”. “Depois disso, não lembro como ocorreram os disparos, só sei que tomei a arma dela. Meu pensamento depois foi que eu tinha que me matar. Estava na cabeça que eu tinha que fazer isso. Liguei para o meu pai para me despedir”, contou.
Ainda durante a fala, o acusado fez juras de amor a Jessyka. “É a pessoa que eu amo até hoje. Foi um momento de loucura, de descontrole. Era minha vida. Sempre fomos muito próximos. Tudo de bom que eu lembro vem ela na minha cabeça. Por isso não entendo quando foi que a gente se perdeu”, frisou.
Confrontado pelo MPDFT sobre as acusações de agressões anteriores, ele confessou. “Realmente eu a agredi. Mas em momento nenhum houve disparo, coronhada, chute… Dei dois tapas na cara dela e a joguei no chão.”