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“Ele controlava tudo”, diz filha de mulher esfaqueada por ex-marido

De acordo com a jovem de 21 anos, o pai tinha um longo histórico de agressões contra a mãe, que, por medo, nunca registrou ocorrência

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O suspeito de esfaquear uma mulher de 45 anos, na manhã desta terça-feira (07/05/2019), era controlador e possessivo. Segundo uma das filhas do agressor e da vítima, Juscelino Sales dos Santos, 50 anos (foto em destaque), mesmo separado, perseguia com frequência Maria da Luz Machado Pereira. “Ele queria controlar tudo, não deixava nem sair”, contou a jovem de 21 anos.

Segundo a filha do casal, mesmo com a prisão do pai, a família não se sente plenamente segura. “É muito agoniante, muito triste. Estamos muito preocupados”, desabafou. Ainda de acordo com ela, Juscelino sempre foi agressivo, inclusive tendo batido em Maria da Luz quando ela estava gestante.

Após as agressões, a vítima foi encaminhada ao Hospital Regional de Sobradinho. A Secretaria de Saúde não divulgou o estado de saúde dela. Juscelino, por sua vez, foi detido pela Polícia Militar e responderá pelo crime de tentativa de feminicídio. Por medo, a vítima nunca denunciou o terror imposto pelo ex.

Na tarde desta terça, Juscelino prestou depoimento e deu sua versão dos fatos aos policiais da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). “Ele disse que estava arrependido e não tinha a intenção de matá-la, mas que foi ao encontro da vítima para conversarem”, disse ao Metrópoles a delegada Jane Klébia. No entanto, segundo o autor, a mulher teria sido “ignorante”.

“Ele disse que se irritou, pegou a faca que seria instrumento de trabalho, e cometeu o crime. Mas não disse nada muito consistente”, concluiu a policial. Ainda de acordo com a delegada, o estado de saúde de Maria da Luz é grave. Por volta das 14h, ela foi submetida a procedimentos cirúrgicos.

O crime
Maria da Luz foi esfaqueada a caminho do trabalho, na região do Colorado, em Sobradinho.

Ela levou facadas no abdômen e tórax, e apresentava escoriações na perna esquerda no momento em que recebeu o socorro do Corpo de Bombeiros. Ela foi levada à unidade de saúde consciente e orientada, porém instável.

Segundo informações repassadas pelo sargento César Caldas, o suspeito estava separado da mulher há cerca de três meses. O casal viveu junto por 26 anos e tem três filhos, de 16, 21 e 25 anos. Nesta terça (07/05/2019), ele a cercou no momento em que Maria seguia para o motel onde trabalha, na região do Colorado. Eles discutiram e, em seguida, o homem teria esfaqueado a vítima.

Salva por servidor dos Correios
Um servidor dos Correios que passava de carro pelo local tentou impedir o crime e atropelou Juscelino, mas o homem conseguiu correr. “Ele salvou a vida dela”, disse o militar. Acionados por populares, policiais conseguiram fazer a captura do suspeito, que foi levado para a 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), responsável pela investigação do caso.

De acordo com o depoimento do homem que atropelou Juscelino, ele passava no local de carro quando viu a vítima sendo segurada pela blusa. Em seguida, segundo contou aos policiais, o acusado agarrou-a pelo pescoço, deu uma gravata por trás e desferiu ao menos quatro facadas.

Ao ver que o agressor continuava a agredir a mulher no chão, a testemunha diz que começou a buzinar e gritar para que Juscelino parasse. Como ele não atendeu ao pedido, o servidor acelerou o carro e atingiu Juscelino, que saiu correndo com a faca nas mãos, em direção ao ponto de ônibus. Vários populares que viram a cena passaram a segui-lo.

Preso, Juscelino disse que portava a faca porque era carpinteiro e negou que tivesse a intenção de matar a vítima.

Feminicídio
Nessa segunda-feira (06/05/2019), outro crime bárbaro. Uma mulher foi assassinada pelo ex em Santa Maria. Acusado do crime, o motoboy Maciel Luiz Coutinho da Silva, 41 anos, morreu em um acidente de trânsito na BR-040, logo depois.

A Polícia Civil acredita que ele tenha se matado após assassinar a facadas Jacqueline dos Santos Pereira, 39. O atropelamento ocorreu entre o primeiro e o segundo trevo de acesso a Luziânia (GO), no Entorno do Distrito Federal.

“Ele estacionou a moto no acostamento, esperou o ônibus passar e se jogou na frente. O rosto ficou bastante desfigurado, mas a moto era a dele, e o corpo é compatível”, explica o delegado Rodrigo Têlho, titular da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), responsável pelas investigações.

Jacqueline foi morta em casa, no Conjunto P da QC 1, em Santa Maria. De acordo com Têlho, o motoboy teria ido até a residência da ex-companheira e a esfaqueado. Depois, fugiu do local pulando o muro da residência. Jacqueline deixa três filhos, era bombeira civil e já havia denunciado ameaças feitas pelo suspeito.

Histórico de violência
De acordo com Têlho, em 26 de abril, a mulher esteve na 33ª DP, onde registrou ocorrência contra Maciel. “Ele ficou alterado na frente da casa dela. A vítima pediu para o suspeito sair, mas ele se recusou. Parece que Maciel já havia ameaçado o atual companheiro dela também. Jacqueline tinha pedido medida protetiva contra ele antes, mas o juiz revogou”, disse o delegado ao Metrópoles.

Aos militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal que estiveram no local, vizinhos disseram que um homem foi visto saltando o muro e que “ouviram os gritos por socorro”. Segundo informaram à corporação, “o mesmo homem teria fugido em uma moto”. Os moradores chamaram a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros quando perceberam que a mulher estava inconsciente. Esse é o 10º feminicídio registrado em 2019 no DF.

 

 

Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.

Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no Distrito Federal. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.

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