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“Ela era o pilar da família”, diz prima de Queila, morta pelo marido

Familiares e amigos contaram, durante velório no Cemitério de Sobradinho, como a vítima de feminicídio era querida

atualizado

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Arquivo Pessoal
Queila Regiane
1 de 1 Queila Regiane - Foto: Arquivo Pessoal

O velório de Queila Regiane Jane (foto em destaque), 42 anos, assassinada na quinta-feira (26/09/2019), supostamente pelo companheiro, segue marcado por uma mistura de choque e tristeza de familiares e amigos. O adeus à mulher, que morreu esfaqueada em casa, na comunidade de Catingueiro, na Fercal, é realizado no Cemitério de Sobradinho. O principal suspeito é o marido dela, Iron da Cruz Silva, 37. Queila é a 23ª vítima de feminicídio no DF em 2019.

A mãe de Queila, Lia, estava extremamente emocionada e não conseguiu falar com a reportagem. Camila, prima que se considera irmã de consideração da vítima, destacou a importância de Queila. “Ela era o pilar da família, a base de tudo. Era ela quem unia a família”, desabafou.

“Todos estamos em choque, pegou a família de surpresa. Todo fim de ano, as crianças iam pra casa dela. Elas estão em choque. Queila era a tia querida. Fazia festas do pijama. Os sobrinhos a chamavam de ‘miga louca’. Ela era muito amada”, lembrou Camila.

A prima também contou como era próxima a vítima. “A Queila era assim. Desde que minha irmã morreu, quem sempre esteve do meu lado foi ela. A gente se chamava de ‘mana’. Ela foi mãe de leite da minha filha. Depois que o assassinato aconteceu, minha filha disse: ‘Mamãe, por que tio Iron fez isso?'”.

“Ele (Iron) acabou com a infância das crianças. Ele acabou com nossa família, destruiu tudo. E o fim de ano acabou também. O refúgio das crianças era a chácara e a tia Jane”, lamentou Camila.

Reclamações

Bianca, sobrinha de consideração de Queila, descreveu a vítima como uma pessoa muito boa. “Não acreditei na hora. A Queila falava que ele (Iron) era ciumento, e ele afirmava que ela tinha um amante. Minha tia ainda dizia: ‘Oh, Bianca, não sei que amante é esse que Iron tanto fala’. Ela dizia que queria se mudar e que queria terminar com ele”, afirma.

O perfil do acusado de feminicídio foge do padrão de agressividade encontrado na maior parte dos casos desse tipo. A família o descreve como um cara normal e até carinhoso. Entretanto, com a desculpa dos ciúmes, reclamava da mulher.

“Ele era muito na dele. Muito ‘bicho do mato’, bem fechado. Não era de muita conversa”, conta a prima Camila. “Ele tinha ciúme. Depois que ela emagreceu, mais ainda. Fazia amizade muito fácil. Até agora, a gente não entende por que ele fez isso”, desabafa.

Atacada

A Polícia Civil acredita que Queila tenha sido atacada pelo marido enquanto dormia. A mulher levou três facadas entre 6h e 6h30 dessa quinta-feira (26/09/2019). Morreu na cozinha da residência. Horas depois, o suspeito foi preso. Os investigadores acharam Iron da Cruz Silva, 37, que já tinha passagem por tentativa de homicídio, em um assentamento a 25 km de casa.

De acordo com o delegado Laércio de Carvalho, da 35ª DP (Sobradinho II), o assassino confesso não demonstrou arrependimento pelo feminicídio. “A gente imagina que os primeiros golpes de faca ele tenha desferido com a vítima ainda dormindo. A filha de Queila de 13 anos estava no quarto no momento, então pode não ter havido discussão entre o casal antes”, destacou.

“Ele fazia comentários de forma vaga: ‘Ela está trabalhando fora, tendo amizades diferentes…'”, destacou o policial. Após esfaquear a mulher, Iron tirou a adolescente e a levou para casa da outra filha, casada e de 18 anos, que mora na mesma rua dos pais. “Disse para ela ficar com a irmã porque a mãe estava passando mal e iria providenciar socorro”, detalhou o delegado.

Veja fotos da vítima:

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Queila foi morta com três facadas
Vítima deixa duas filhas
Queila Regiane Jane, 42 anos, foi vítima de feminicídio no dia 26 de setembro. Marido foi o autor
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Iron foi preso horas depois de matar a mulher

PCDF/Divulgação
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Queila foi morta com três facadas

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Vítima deixa duas filhas

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Queila Regiane Jane, 42 anos, foi vítima de feminicídio no dia 26 de setembro. Marido foi o autor

Arquivo Pessoal

Foi nesse momento que os familiares ouviram os gritos de Queila e correram para a casa dela. Acharam o corpo da mulher na cozinha, quase sem vida. Uma vizinha acionou a polícia. A delegacia se mobilizou para chegar até a área rural. Teve apoio aéreo para fazer o cerco e de aproximadamente 40 policiais. Por volta das 17h, a equipe conseguiu prender Iron. Na casa, foi encontrado um martelo – que a PCDF acredita ter sido usado pela vítima para tentar se defender. “Ela andou a casa inteira, que está repleta de sangue”, informou o investigador.

Queila e Iron foram casados por 20 anos. Ele teria ficado com ciúmes após a mulher começar a trabalhar. Testemunhas dizem que a vítima vivia um bom momento, uma vez que havia feito uma cirurgia bariátrica e aberto um bar nas proximidades de casa.

Na mata por onde Iron tentou fugir, a polícia encontrou uma mochila. O acusado disse que, no trajeto, abandonou o item por conta da dificuldade de se locomover. Segundo o delegado, há indícios de que o crime foi premeditado. Pelo valor do dinheiro (R$ 300) encontrado com Iron e devido à preparação da mochila para a fuga. “Todos os familiares foram ao local depois que ele foi preso e disseram que era uma pessoa normal”, pontuou Laércio.

Metrópoles iniciou, em 2019, um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.

Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.

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