DF: barbeiro que matou mulher alterou cena do crime e mentiu sobre loteria
Acusado de assassinar Maria dos Santos, Antônio Alves arrastou o corpo, colocou sobre a cama e o cobriu, como se vítima estivesse dormindo
atualizado
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Acusado de matar a namorada, Maria dos Santos Gaudêncio, 52, a facadas no Itapoã, o barbeiro Antônio Pereira Alves, 40, foi trazido do Maranhão para Brasília e, em depoimento, apresentou versão sobre o crime repleta de contradições, segundo a 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). De acordo com os investigadores, ele alterou a cena onde ocorreu o feminicídio e ainda alegou que foi atacado pela vítima.
Entre as contradições que ele tenta explicar, está o suposto prêmio na loteria. Em depoimento à polícia, o homem afirmou que fez 14 pontos na Lotofácil, mas deixou o bilhete no bolso da calça, lavou a roupa e acabou perdendo o prêmio. Após o crime, ele pediu demissão do emprego, argumentando que havia ganhado uma bolada. Chegou a mandar mensagens para o chefe (confira abaixo).
“Não temos notícias de ganhador aqui na região com essa quantidade de pontos [14]. Sobre a morte, ele deu versões que não batem com o laudo pericial. Disse que ela o atacou com uma faca e, para se defender, pegou uma madeira que a mulher usava para fazer massagem e acertou um golpe na cabeça da namorada”, detalhou a delegada-chefe da 6ª DP, Jane Klébia.
Antônio era considerado foragido e foi localizado em sua terra natal, no município de Santa Quitéria (MA). Chegou ao DF nessa quarta-feira (27/3). Ele é acusado de matar Maria dos Santos com cinco facadas. A filha encontrou o corpo da vítima, em casa, na última semana, em estado de putrefação.
Ainda em depoimento, Antônio confessou ter esfaqueado Maria após o suposto ataque. “A perícia comprova que a dinâmica foi um pouco diferente. Ela tentou se defender. Depois do crime, ele montou uma cena. Pegou o corpo, colocou na cama e cobriu com a coberta, como se ela estivesse dormindo”, afirmou a delegada.
A polícia apurou que o relacionamento do casal tinha muitos conflitos. Ambos eram ciumentos e brigavam constantemente. Dias antes, Antônio chegou a ameaçar um homem que pediu para dançar forró com Maria dos Santos em uma festa. O criminoso foi autuado por feminicídio. Se condenado, pode pegar até 30 anos de prisão.
Outros casos
Este é o sexto caso de feminicídio no DF apenas neste ano. Até as 15h do dia 22 de março, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) registrou 3.387 ocorrências de violência doméstica.
A primeira mulher assassinada em 2019 foi Vanilma Martins dos Santos, 30. O marido é acusado de matá-la com uma facada. Os dois viviam juntos no Gama e tinham um filho pequeno. No dia 28 de janeiro, Diva Maria Maia da Silva, 69, recebeu cinco tiros no apartamento da família, na Asa Norte. O assassino era Ranulfo do Carmo, 74, também companheiro da vítima.
Apenas dois dias depois, foi a vez de Veiguima Martins, 56 anos, morrer. Ela já havia registrado ocorrência por ameaça e lesão corporal contra o marido. Depois de matá-la a facadas no quarto do casal, ele ateou fogo no apartamento para tentar encobrir o crime e acabou morto também.
Ainda em janeiro, Patrícia Alice de Souza, 23 anos, foi atingida por um tiro nas costas. As investigações concluíram que foi feminicídio. Cevilha Moreira dos Santos, 45, foi encontrada morta no dia 11 de março, em Sobradinho. A vítima tinha marcas de facada no peito. O companheiro dela é o principal suspeito.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileira.