“Família está destroçada”, desabafa cunhada de Pedrolina, morta no DF
Auxiliar de serviços gerais foi agarrada, arrastada e morta em matagal atrás de uma faculdade particular na L4 Sul
atualizado
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Devastada pela dor, a família de Pedrolina Silva (foto em destaque) junta forças para acompanhar o desenrolar das investigações que tentam elucidar o assassinato brutal da auxiliar de serviços gerais de 50 anos. A cunhada da vítima, Ivanete de Sena Cavalcante, 47, por telefone, contou que os parentes acumulam dois sentimentos: tristeza e revolta. “A família está completamente destroçada. A mãe dela não tem condição emocional de sair de casa e o filho ainda está desnorteado”, disse.
Foi Ivanete quem comunicou à Polícia Civil que uma amiga havia conseguido rastrear o celular de Pedrolina. A localização do aparelho constava no Lago Paranoá. Pedrolina desapareceu na manhã de domingo (01/09/2019), quando saiu de casa, no Paranoá Parque, tomou um ônibus e desceu na parada perto do Centro Universitário (Unieuro), na L4 Sul. Ela aguardava uma amiga que a buscaria de carro. As duas seguiriam para um clube no Setor de Clubes do Sul.
Câmeras de segurança da faculdade particular flagraram o momento em que um homem aparece correndo, sobe um barranco em direção ao ponto e agarra Pedrolina. Ela tenta se desvencilhar, mas é arrastada para um matagal. Desde então, a mulher era considerada desaparecida.
As buscas foram encerradas na tarde dessa terça-feira (03/09/2019), após agentes da Polícia Civil encontrarem o corpo de Pedrolina em um matagal. Ela vestia apenas calcinha e uma camiseta listrada manchada de sangue. Uma revista pornô foi localizada perto do cadáver. Tais informações reforçam a suspeita de que ela pode ter sido vítima de violência sexual, o que só será confirmado com o laudo do Instituto Médico Legal (IML).
Por enquanto, a família não sabe quando poderá realizar o velório e sepultamento de Pedrolina. Os parentes aguardam a conclusão da necropsia dos peritos do IML para fazer o reconhecimento e liberação do corpo.
TCC
Pedrolina atravessava o melhor momento da vida. Recentemente, havia pegado as chaves do apartamento comprado por meio do programa Minha Casa Minha Vida e, no fim do ano passado, formou-se em serviço social pela Universidade Católica de Brasília. Inclusive, no seu trabalho de conclusão de curso (TCC), ela abordou a temática sobre violência contra a mulher negra.
O Metrópoles esteve no endereço onde a auxiliar de serviços gerais morava havia cerca de três anos, na Quadra 3 do Paranoá Parque. O apartamento da vítima, no quarto andar, está vazio. Na porta, trancada por grade, há um tapete com a palavra inglesa welcome (bem-vindo, em português). As janelas estão fechadas. Após a notícia da tragédia, um familiar apareceu no local, mas os vizinhos não souberam dizer de quem se trata.
Os moradores do mesmo bloco de Pedrolina receberam a notícia com profunda tristeza. “Ficamos muito surpresos. Ela era amigável, trabalhadora. Pouco ficava na rua de conversa. Vivia só e não era de receber visitas. Saía todo dia cedo e voltava à noite. A rotina, pelo que nós percebíamos, se resumia a de casa para o trabalho e vice-versa”, disse Rosimar Lopes Coelho, 66, morador do segundo andar do prédio da vítima.
Outro vizinho, do bloco da frente, o vigia João Vargas Teixeira, 53, comentou que, na última semana, falou rapidamente com a auxiliar de serviços gerais enquanto ela saía de casa para ir ao mercado. “Todos se conhecem na região. Ela passou e eu estava na rua conversando. A Pedrolina me cumprimentou e logo voltou com as compras. Era uma mulher tranquila. Nunca a vimos em nenhuma confusão. Também queremos entender o que aconteceu com ela”, ressaltou.
O assistente social Cláudio Alves de Almeida, 48, conhecia Pedrolina há cerca de oito anos. Os dois cursaram juntos serviço social na Católica e se formaram no ano passado. Ao Metrópoles, ele, que tinha contato próximo com a vítima, disse que todos estão chocados com a morte da amiga.
“Conversávamos diariamente. O nosso grupo da faculdade nunca se afastou. O mais impressionante nisso tudo é que ocorreu com ela exatamente o tema que nós mostramos no nosso trabalho de conclusão de curso: ‘A violência contra a mulher negra no DF’. Assim que eu soube do desaparecimento, disponibilizei meu número para receber notícias sobre o paradeiro da Lina. Estávamos angustiados sem notícias e, infelizmente, recebemos a pior delas”, comentou.
Cláudio afirmou ainda que Pedrolina estava solteira e não se relacionava com ninguém atualmente. “Não sabemos o que pode ter motivado essa crueldade que fizeram com a nossa querida Lina. Acreditamos que, nesse caso, foi um bandido que encontrou naquele momento uma oportunidade. É ruim saber que essa violência existe e está tão próxima a nós”, destacou.
O assistente social descreveu a amiga como uma pessoa feliz e guerreira. “Tinha o coração enorme. Muito humana. Falar dela é fácil. Sempre preocupada com o bem-estar dos que a cercavam. Tinha uma maneira linda de levar a vida e sua alegria era contagiante. Já nós faz uma falta imensa”, acrescentou.
Amiga deveria buscá-la
Ao Metrópoles, uma amiga e colega de trabalho de Pedrolina Silva chorou ao se lembrar da amiga. Claunice Telles, 49, havia combinado de buscar Pedrolina na parada entre 10h15 e 10h30. “Ela morava sozinha e acabava passando muitos fins de semana sem companhia. Eu a convidei para passar o dia comigo e minha família no clube e, como moro no Gama, marquei de buscá-la na L4 Sul”, contou.
Claunice diz que chegou ao local no horário combinado e não a viu. “Liguei três vezes, e só dava caixa postal. Pensei que ela tivesse desistido de última hora e não conseguiu me avisar por falta de bateria.” Instantes antes, Pedrolina enviou áudio pelo WhatsApp para Claunice, dizendo que havia chegado à parada.
Ouça:
Ao tomar conhecimento da morte da amiga, Claunice entrou em choque. “De certa forma, me sinto culpada, porque, se eu não tivesse feito o convite, nada disso teria acontecido. Ela vivia o melhor momento, havia conquistado muitas coisas”, disse, emocionada. Pedrolina era separada e mãe de um homem de 30 anos, casado e morador de Ceilândia.
Como a vítima era moradora do Paranoá Parque, o caso começou a ser investigado pela 6ª DP (Paranoá). Inclusive, foram os agentes dessa unidade que localizaram o corpo. No entanto, como a área do crime fica na L4 Sul, a ocorrência foi transferida para a 1ª DP (Asa Sul).