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Veja o que afasta as mulheres da política e como reverter esse cenário

Comemorando 90 anos desde que o voto foi concedido às mulheres brasileiras, veja por que a representatividade política é importante

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Mão de mulher branca com a unha pintada pressionando urna eletrônica
1 de 1 Mão de mulher branca com a unha pintada pressionando urna eletrônica - Foto: Getty Images

No dia 24 de fevereiro de 1932, o presidente Getúlio Vargas decidiu, após muita luta feminina no país, tirar do código eleitoral brasileiro um empecilho que distanciava as mulheres da política. Na data, o decreto 21.076 determinou que qualquer cidadão brasileiro maior de 21 anos, alistado na forma do código e sem distinção de sexo, era um eleitor.

A conquista, no entanto, não foi fácil. A relutância em ceder esse direito às mulheres perdurou por anos. Por volta de 1980, a cientista Isabel de Souza Mattos levantou o debate sobre permitir o voto feminino ao solicitar que seu voto fosse válido de acordo com a Lei Saraiva, promulgada naquela época. A lei dizia que qualquer pessoa com título científico poderia votar – o que, na década de 1980, significava homens com diploma na área das ciências.

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Há 90 anos, foi concedido o direito a elas de votarem
Apesar de quase um século dessa mudança, elas são pouco representadas nesse cenário
Mulheres são menos de 15% do Congresso brasileiro
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Conquista do voto feminino é celebrada nesta quinta-feira (24/2)

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Há 90 anos, foi concedido o direito a elas de votarem

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Apesar de quase um século dessa mudança, elas são pouco representadas nesse cenário

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Mulheres são menos de 15% do Congresso brasileiro

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A luta pelo voto

Foram quase 40 anos desde a primeira manifestação feminina por esse direito até a promulgação da lei de Getúlio Vargas. Após 90 anos da decisão, o mundo mudou, mas não o cenário político no país. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as mulheres foram apenas 31,6% das candidatas no Brasil na última eleição, em 2018, na esfera federal (governadora, deputadas e senadoras).

Já na esfera estadual, para cargos de prefeita e vereadora, elas foram apenas 33% das candidatas em 2020. Elas são apenas 12% dos prefeitos eleitos no país. O Brasil só teve uma presidente mulher em 183 anos de república, a economista Dilma Rousseff, que cumpriu seu primeiro mandato em 2011.

De acordo com Letícia Medeiros, co-fundadora e coordenadora do #ElasNoPoder, falta estímulo à governança feminina. “A vida inteira, mulheres foram instruídas a acreditar que esses espaços são para homens. Elas passam a acreditar que não se encaixam nesse ‘perfil’ e acabam nem tentando carreiras políticas, mesmo quando têm vontade”, explica. 

Perfil político

Ao se falar em perfil político, o Brasil tem um “rosto” pré-configurado: homens brancos, com idade média de 44 anos e com bom nível escolar. “Infelizmente, quando perguntamos para qualquer eleitor sobre como ele imagina um político, ele vai pensar nesse perfil que já está estereotipado no Brasil, o que eu vejo como inadequado”, comenta.

“A politica não é para ter um perfil, mas se for para ter um, que sejam vários perfis nos representando, com todas as suas formas de trabalhar e que representem a todos”, ressalta Medeiros.

Ainda que defenda uma política sem perfis, essa é a principal justificava para a maioria das mulheres desistirem de tentar. Pesquisa divulgada pela ONG coordenada por Letícia revelou que 54% das entrevistadas tinham interesse em ingressar em cargos políticos. Dessas, 40% acreditam que ‘não têm perfil’ para tal e, por isso, nunca tentaram.

Além disso, “não está no foco” e “desinteresse” também foram justificativas comuns para 20% e 13% das entrevistadas, respectivamente. Algumas ainda disseram que sentem “incompatibilidade com partidos” (2,5%) e “falta de apoio” (1,7%) para concorrerem em cargos políticos. A pesquisa foi baseada em formulários online e respondida por mais de 4 mil mulheres.

Para Letícia, que também é cientista política, elas se sentem incompreendidas nesses cenário, principalmente por não terem apoio. “Essa falta de incentivo alimenta a descrença em si mesmo para tentar esses cargos”, ressalta.

Eficiência feminina

Apesar de estarem presentes em menor proporção, elas se mostram mais eficientes. De acordo com levantamento realizado entre os anos de 2015 e 2020 pelo Instituto Vamos Juntas, mulheres produzem e aprovam mais projetos de lei do que homens. Ocupando apenas 15% das cadeiras no Congresso, as deputadas apresentaram 40% mais projetos de lei ordinária, complementar e de emenda constitucional que os homens.

“Sempre ouvimos os eleitores reclamando de que ‘entra governo e sai governo, e são sempre os mesmos problemas’. Normalmente, questões de saúde e educação pública que nunca são resolvidos. Compreendemos que as mulheres têm melhores gestões para suprir essa carência”, relata a especialista.

Na concepção da cientista política, as mulheres lidam diretamente com os serviços públicos do país e, como consequência, atuam na raiz do problema. “Chefes de família de cerca de 40% dos lares brasileiros, elas estão imersas nesse meio, mas afastadas das decisões políticas”, avalia.

Outro ponto que as mantém alheias à esfera política é a sobrecarga doméstica. “Uma campanha política demanda tempo e dedicação, principalmente das mulheres que já são excluídas desses cargos. Os compromissos com o lar e com os filhos podem ser um fator crucial para que elas decidam por não seguir uma vida política”, explica a especialista.

Persistência

Ainda que o cenário seja de pouca esperança, o Brasil tem mostrado que a equidade também deve ser preservada no meio político. Em 2020, por exemplo, o Senado aprovou projeto que estabelecia cota de 30% nos partidos para a candidatura feminina. O texto estabelecia que houvesse ao menos 30% de mulheres filiadas para concorrer ao pleito.

O resultado foi significativo, já que, no mesmo ano, o país bateu recorde de candidaturas femininas: foram 170 mil mulheres concorrendo na esfera estadual. Os números, no entanto, estão longe de mostrar participação igualitária – como dissemos acima, já que elas representavam apenas 33% dos candidatos.

Contudo, Letícia avalia que os resultados não são vistos de imediato e o eleitorado não pode desistir de apostar em candidatas mulheres. “O eleitor é ansioso e isso é normal, mas é preciso entender que o voto é a melhor maneira de mostrar às candidatas que elas têm o apoio da população. É importante não desistir.”

“Ainda que sua candidata não seja eleita agora, mostre apoio e os frutos podem ser colhidos lá na frente”, indica.

É exatamente esse o trabalho realizado pela ONG coordenada por Letícia. De acordo com ela, as políticas adotadas no Brasil nos últimos anos garante a elas o direito de entrar na disputa, mas não de chegada. “Atuamos como um catalizador, desde que ela decida entrar na disputa até o momento de, com muito trabalho, conseguir a vitória.”

“Estimulamos ao máximo a participação. Quando ela já tem interesse em ingressar nesse meio, aconselhamos a se filiar a um partido e dar um empurrãozinho para aqueles que sabemos que tem um perfil de lideranças mas sem confiança suficiente para se arriscar”, ressalta.

Indique uma Mulher

Nesta semana, o ElasNoPoder deu início à campanha Indique Uma Mulher. Com o intuito de promover conscientização e encorajamento para que mais candidatas busquem um lugar na política. O público pode indicar uma mulher por meio deste site e a ONG entrará em contato com ela informando sobre a indicação.

Após isso, as indicadas vão contar com apoio da ONG para sua formação política e no desenvolvimento de estratégias de campanha, com acesso a uma comunidade virtual. As indicações podem ser feitas até o dia 1º de abril deste ano.

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