Nadar com golfinhos é prejudicial e nada instagramável; saiba por quê
Bruna Biancardi, namorada de Neymar, nadou com os animais esta semana em viagem à Dubai. Biólogos e ambientalistas condenam a prática
atualizado
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Carismáticos, inteligentes e brincalhões, os golfinhos são atração em qualquer lugar em que estejam. Na lista de desejos de muitos, nadar com eles é uma atividade disputada em resorts e parques de atrações, em busca de bons cliques para as redes sociais. O que pouca gente questiona é se os animais deveriam estar em aquários e ser “treinados” para agradar aos humanos.
Esta semana, a influenciadora Bruna Biancardi, namorada do jogador Neymar, publicou nos Stories um registro da experiência que viveu em um hotel de luxo em Dubai. Ana Hickmann, Ludmilla e Brunna Gonçalves, Mc Mirella e Dinho, o tenista Djokovic e Justin Bieber compõem a lista extensa de celebridades que pagaram para entrar na água ao lado dos cetáceos — família à qual pertencem golfinhos, baleias e botos.
O registro recente acendeu um alerta para uma problemática antiga, segundo especialistas em vida marinha. Lembre-se da polêmica envolvendo as orcas em parques nos Estados Unidos, quando alguns chegaram a matar treinadores por conta do estresse excessivo ao qual eram expostas. Golfinhos mantidos em aquários e tanques não são muito diferentes de elefantes em circos, ou leões de zoológico.
“Para que esses animais fiquem preparados para a interação com os humanos, existe um conjunto de maus tratos. Por melhores que sejam as intenções e os cuidados, essas situações não atendem às necessidades deles e jamais se aproximam às condições que teriam na vida em liberdade”, explica a professora Cristiane Barreto, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB).
No Brasil e no mundo
Segundo dados divulgados pela organização World Animal Protection, existem 336 locais de entretenimento com golfinhos em 54 países do mundo. Em recintos 200 mil vezes menores que o habitat natural das espécies, vivem mais de 3 mil espécimes que têm expectativas de vida menores e estão mais suscetíveis a doenças causadas pelo estresse e pelos “beijos” e abraços dos seres humanos.
Entre os países que mais abrigam parques de atrações com os cetáceos, estão China, Estados Unidos, Espanha, Rússia, Japão, México e outras nações da região do Caribe. No Brasil, a legislação proíbe esse tipo de atividade turística ou de entretenimento.
Em território nacional, a Portaria do IBAMA 117/96 coíbe o molestamento intencional de cetáceos encontrados em águas jurisdicionais brasileiras, de acordo com a Lei n° 7.643, de 18 de dezembro de 1987. Em 2019, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) divulgou um manual de boas práticas de interação com mamíferos marinhos.
Na cartilha, está explícito que é proibido tocar ou tentar tocar, fornecer qualquer tipo de alimento líquido ou sólido, perseguir ou tentar alterar o percurso de cetáceos, bem como “encurralar” ou tentar circundar um grupo de animais marinhos.
Há ainda regras referentes aos limites de aproximação, e normas para embarcações destinadas para observação dos animais. Elas não podem, por exemplo, ficar mais de 30 minutos acompanhando os espécimes.
Fora do cativeiro
Em abril, a atriz e apresentadora Fernanda Lima revelou que foi detida em Fernando de Noronha por nadar onde estava um grupo de golfinhos. A influenciadora Luiza Sobral foi multada, também no arquipélago em 2019, ao pular do barco para gravar vídeos nadando entre um grupo de cetáceos.
Em entrevista ao Metrópoles, a coordenadora do centro de mamíferos aquáticos do ICMBio, Fábia de Oliveira Luna, explicou que a legislação é fundamental para proteger animais e humanos de reações adversas e desequilíbrios ecológicos. “Os riscos podem variar desde sanitários, ou seja, de transmissão de doenças (do ser humano para o golfinho, e vice-versa), como por serem animais silvestres que, mesmo sem intenção, podem machucar as pessoas”.
“Somos portadores de vários vírus e bactérias que não existem no ambiente natural dessas espécies. Ao entrar em contato com esses golfinhos seja em aquários, seja no ambiente natural, podemos transmitir esses micro-organismos e, inclusive, levar o animal ou um grupo inteiro à morte”, frisa o biólogo marinho Edris Queiroz, pesquisador do Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (IBIMM).
Nem toda interação é prejudicial
Quem é apaixonado pelas espécies e tem o sonho de conhecê-las de perto pode aproveitar outras formas de contemplação, disponíveis em território brasileiro. Em Manaus, existem algumas companhias que oferecem a observação de botos de dentro da água — sem tocá-los, alimentá-los, tirar selfies ou interagir com eles.
Segundo o professor Eduardo Bessa, do Instituto de Biologia da UnB, por ser um animal inteligente, no entanto, muitas vezes o golfinho se beneficia dessa interação com o ser humano. “Existem alguns programas em que o animal é treinado para se aproximar das pessoas, o que deixa de ser um fator estressor. Além disso, ele também tem a oportunidade de cessar o contato com humanos quando quiser, por estar livre na natureza”, comenta.
Um exemplo dessa interação saudável é um fenômeno singular em Laguna, município de Santa Catarina. Especialmente durante a temporada da pesca de tainhas, entre os meses de junho e julho, cerca de 22 golfinhos se aproximam dos pescadores da região. Eles “cooperam com a pesca” ao cercar os cardumes que entram e saem da lagoa, na direção das redes. Como recompensa, os botos aproveitam os peixes que escapam e viram presa fácil.
Vários destinos brasileiros são o lar desses animais, que podem ser observados da areia durante o ano inteiro. São eles, a Baia dos Golfinhos, em Fernando de Noronha (PE); a Baía Formosa, perto da praia de Pipa (RN); e a Ilha de Superagui (PR). Também estão na lista a Ilha do Cardoso (SP) e a Baía dos Golfinhos em Santa Catarina.
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