Entenda como a guerra na Ucrânia impacta a aviação civil mundial
Conflito bélico resulta, além das lamentáveis perdas humanas, em instabilidade econômica que afeta viagens ao redor do globo
atualizado
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O clima de tensão global imposto pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia está causando turbulência nos céus europeus. Com o fechamento do espaço aéreo russo às companhias de outros 36 países, empresas de aviação se viram obrigadas a desviar ou cancelar voos, tornando as viagens mais caras e longas.
Some as restrições de tráfego às sanções econômicas impostas ao Kremlin em função do conflito. Como resultado, menos de 10 dias após o início da ofensiva russa rumo a Kiev, empresas de turismo de todo o mundo já começaram a sentir os efeitos da guerra.
A Rússia não é o destino no topo da lista de consumo do viajante brasileiro, tampouco um dos países que mais enviam turistas para o Brasil. Contudo, um conflito bélico de tamanha proporção geopolítica impacta o roteiro de viagem de qualquer turista, inclusive na América do Sul.
Antes de adentrar em implicações econômicas, a pesquisadora em turismo e sustentabilidade Jaqueline Gil ressalta um efeito que começou a ser sentido “em curtíssimo prazo”: o medo.
“Estamos diante de uma série de sanções colocadas nos céus da Europa. Em geral, o cenário faz com que as pessoas não se sintam mais confortáveis com certos trajetos, por conta do clima de tensão no ar”, frisa a professora da Universidade de Brasília (UnB).
Fluxo aéreo
Em entrevista ao Metrópoles, a turismóloga bielorrussa Anastasiya Golets avaliou a situação. “O clima é de instabilidade nos aeroportos tanto da União Europeia quanto da Ásia e Américas. Quem precisar viajar para a Rússia ou destinos que fazem escala no país, como a China, terá grandes dificuldades”, ressalta.
Um voo que liga Moscou a Istambul, na Turquia, por exemplo, está levando quase 50% mais tempo do que o habitual, por conta dos desvios de rota para evitar o espaço aéreo ucraniano e as zonas de restrição. Isso provoca maior consumo de combustível e menor eficiência de utilização da aeronave e dos tripulantes.
No Brasil, não há rotas aéreas, diretas ou com escalas, vigentes para a Rússia. A informação é da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As três maiores companhias do país – Latam, Gol e Azul – seguem operando normalmente, apesar da guerra no leste europeu.
O setor avalia, contudo, que variações nos preços dos combustíveis, do dólar e de commodities podem dificultar ainda mais a recuperação do mercado aéreo, ainda bastante calejado da crise econômica causada pela Covid-19. Na última semana, o presidente da Latam, Jerome Cadier, chamou a atenção para o recente aumento no preço do petróleo e da cotação do dólar, impulsionados pela guerra.
“A grande dúvida de todos é quanto tempo isso vai durar. Pelas primeiras reações, o impacto nos custos das companhias aéreas é inegável. Infelizmente, na situação que está o setor, estes aumentos vão impactar os preços das passagens. É uma pena, especialmente em um momento no qual o que mais queremos é voltar a voar”, disse o executivo.
Cadier também destacou possíveis impactos no mercado de capitais e no custo do crédito, bem como oscilações no preço de matérias-primas fundamentais para o setor, como o titânio, usado na fabricação de aviões.
Apesar de um possível aumento de preços das passagens nacionais e internacionais, o setor de aviação vive um período de recuperação, especialmente no mercado doméstico — que se aproxima dos níveis pré-pandemia.
Aumento de preços em cadeia
Tratar de aumentos no combustível extrapola os limites de transitar de um lado a outro. Bens de consumo necessários para o turismo, que precisam ser transportados, também podem começar a custar mais caro.
“Produtos alimentares, por exemplo, devem sofrer aumento de preços, inclusive por uma eventual pressão na inflação”, ressalta Jaqueline Gil. “Aquele vinho produzido no Sul, provavelmente, ficará mais caro quando consumido no Nordeste”, exemplifica.
Rigidez e segurança
Considerando o cenário econômico internacional, as sanções aplicadas pelos países ricos contra a Rússia são algumas das mais severas em décadas. A turismóloga conjectura um enrijecimento ainda maior das punições pela Casa Branca, atingindo até limitações de entrada em aeroportos e controles de segurança muito mais rígidos.
“É possível que Biden acione novamente o alerta vermelho em aeroportos, dificultando medidas como inspeção de raio-x e entrevistas de visto muito mais longas, em um processo mais criterioso”, prevê.
Em geral, o turismo brasileiro vive um período de valorização de viagens domésticas, o que deve ficar ainda mais intenso. “Observamos um olhar maior para o Brasil como primeira opção de viagem, porque muitos não querem se lançar aos céus internacionais”, frisa Gil. “Estamos ainda no início de um conflito, que tem proporções significativas, portanto os rumos dessa história ainda são incertos”.
Turismo global
O mercado de turismo russo é um dos maiores do mundo, e se consolidou em franca ascensão, mesmo com o advento da pandemia. De acordo com Anastasiya Golets, os russos e os ucranianos, somados, formavam um dos principais grupos que cruzaram fronteiras nos últimos dois anos. A parcela era a sexto maior em índices de gastos no exterior, turismo e deslocamentos internacionais.
O foco desses viajantes, no entanto, não era o Brasil. Segundo a especialista, em 2019, mais de 12 milhões de russos viajaram para outros países. Contudo, desses, apenas 24.931 desembarcaram em território brasileiro. Somando aos 6.193 ucranianos, eles correspondem a 0,5% do volume de estrangeiros que viajaram pelo país.
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