De Maldivas a Veneza: 8 paraísos turísticos podem desaparecer neste século
Em função da ação humana e principalmente do aquecimento global, oceanos, cordilheiras e ilhas estão ameaçados
atualizado
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Desde a Antiguidade, reza a lenda que sob as águas do Oceano Atlântico, uma civilização inteira submergiu. Citado pela primeira vez pelo filósofo Platão, ateniense que viveu no século IV a. C., o mito de Atlântida aguça a curiosidade de milhares de pessoas e é objeto de estudos ao redor do mundo.
Não faltam teorias sobre um império abundante e vasto, sem localização definida, que foi parar embaixo d’água levando consigo habitantes e seus pertences. Mas, assim como a mitológica civilização antiga, cidades e países insulares ao redor do mundo sofrem diariamente com a ameaça da elevação do nível do mar e com o aumento da temperatura dos oceanos em função do aquecimento global.
Arquipélagos isolados no Pacífico, como Kiribati e Ilhas Fiji. As famosas e desejadas Ilhas Maldivas, espalhadas pelo Mar da Arábia, a sudoeste do Sri Lanka e da Índia. Centros turísticos como Veneza, na Itália, e até a capital da Holanda, Amsterdã. Todos estão na berlinda, perdem território diariamente ou correm o risco, até, de serem completamente submersos.
De acordo com o último relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a única solução possível para conter o aumento da temperatura do planeta é reduzir pela metade a emissão de gases que esquentam o globo até 2030, para então zerá-las em 2050, além de absorver parte do carbono que já está na atmosfera.
Nesse caminho, não bastam só novas tecnologias e energia limpa – as florestas também terão papel fundamental, conforme informações do Greenpeace.
A medida faria uma enorme diferença para a vida nos oceanos e na Terra, contendo frequentes e extremas ondas de calor, reduzindo pela metade a proporção de populações que sofrem com a escassez de água e ajudaria a atingir metas de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza.
O impacto da ação humana
O geógrafo especialista em análise ambiental e desenvolvimento sustentável Allyson César Oliveira afirma que, embora fenômenos naturais façam parte da movimentação da Terra, “a comunidade científica aceita que a ação humana é capaz de elevar a intensidade do fenômeno e o seu potencial destrutivo”.
O especialista destaca o desaparecimento do Mar de Aral, na Ásia Central, como exemplo. Para concretizar uma das maiores catástrofes provocadas pelo homem do mundo, foram necessários apenas 40 anos. As políticas de irrigação agressivas, voltadas para a agricultura, especialmente o cultivo de algodão, transformaram 90% da abundância do lago em deserto.
Os antigos 60 mil quilômetros quadrados de água sumiram e, como consequência, a chuva parou, a grama secou e o clima também começou a mudar. Desapareceram os pequenos lagos de água doce que existiam perto da costa, bem como os rebanhos de antílopes que costumavam vagar pela área.
Esse processo pode se repetir em outros destinos ao redor do mundo. Confira uma lista de locais que correm o risco de sumir do mapa nos próximos anos, especialmente em função do aquecimento global.
Mar Morto, Ásia
Em um processo parecido com o Mar de Aral, o ponto famoso por seus poderes terapêuticos e como atração turística, entre Israel e Jordânia, está enfrentando uma queda do nível das águas preocupante, principalmente em função do uso insustentável da água pelos países que o envolvem.
Especialistas apontam que o lago salgado fica um metro mais baixo a cada ano, por conta dos desvios do rio Jordão, que levam água à população do Oriente Médio.
Kiribati, Ásia
Estudiosos ao redor do mundo defendem que este será o primeiro território a desaparecer por conta do aumento do nível do mar. Cerca de 100 mil pessoas vivem no arquipélago no Pacífico, em alerta desde 1989 por causa do nível do oceano.
De acordo com o jornal El País, o governo desenhou, nos últimos anos, um plano de transferência populacional para as vizinhas ilhas Fiji, caso a inundação se confirme, e seu ex-presidente Anote Tong percorreu o mundo na última década levando o nome de seu país por todos os fóruns possíveis: desde a sede da ONU até programas de televisão internacionais.
Ilhas Maldivas, Ásia
Cenário de cliques das celebridades, o paraíso de atóis de coral rodeados por areia branca, resorts de luxo e esportes aquáticos de nível internacional enfrenta uma ameaça a sua própria existência.
De acordo com a BBC, com mais de 80% de suas 1.200 ilhas a menos de 1 metro acima do nível do mar, a elevação dos oceanos causada pelo aumento das temperaturas globais pode resultar no desaparecimento do destino no futuro.
Um relatório do Banco Mundial de 2010 alertou que, diante das previsões de aumento do nível do mar, todas as cerca de 200 ilhas naturais habitadas do arquipélago poderiam estar submersas até 2100.
Veneza, Europa
A capital da região de Vêneto é admirada ao redor do mundo. Basta uma visita durante o verão europeu para encontrar um destino abarrotado de turistas e um fluxo significativo de gôndolas transitando entre os canais.
No último ano, a cidade sofreu uma inundação que atingiu níveis históricos, e acendeu mais uma vez o alerta sobre o aumento do nível dos oceanos.
Formado em um arquipélago na Laguna de Veneza, o destino italiano fica ao noroeste do Mar Adriático e é altamente suscetível às mudanças climáticas. Nos últimos 100 anos, o nível do mar subiu 30 centímetros, uma preocupação para seus habitantes.
Monte Kilimanjaro, África
O ponto mais alto do continente africano, situado na Tanzânia (próximo à fronteira com o Quênia), é um antigo vulcão com o topo coberto de neve. Como um oásis em meio ao deserto, sua altitude possibilita a formação de gelo e o fornecimento de água para os moradores da região.
Contudo, de acordo com cientistas, 85% da cobertura de gelo que havia no local em 1912 desapareceu. O fenômeno não é explicado pelo aquecimento geral da Terra, sendo duramente afetado pelo aquecimento global ou por uma singelo retorno de atividade vulcânica.
Alpes, Europa
Os Alpes, grande sistema de cordilheiras europeu, correm o risco de perderem mais de 90% de sua cobertura de gelo se as temperaturas do verão aumentarem em 3ºC, de acordo com previsões de especialistas da Universidade de Zurique, na Suíça. Os pesquisadores notaram uma grande perda de massa nos últimos 150 anos, assim como uma diminuição nas projeções de gelo.
Parque Nacional Glacier, América do Norte
O enorme parque dos glaciares, de 4,1 mil quilômetros quadrados, está localizado no noroeste dos Estados Unidos e faz fronteira com o Canadá. Alguns de seus glaciares têm mais de 12 mil anos. O parque já teve mais de 150 geleiras nos seus arredores, mas só sobraram 25. As rápidas mudanças climáticas poderiam baixar o número para zero, até 2030, como alguns pesquisadores acreditam.
Especialistas atribuem este fenômeno ao aumento da temperatura da Terra e ao aumento de chuva frente à neve no parque. O mais provável, advertem os geólogos, é que os EUA percam todos os seus glaciares até o final desse século e só restem os do Alasca, acima do paralelo 48.
Grande barreira de Coral, Oceania
A imensa faixa de corais é composta por 600 ilhas continentais. Em seus mais de 2.300 quilômetros de comprimento, habitam 2.900 recifes e 300 atóis de coral. Situada entre as praias do nordeste da Austrália e Papua-Nova Guiné, a maior barreira de corais do mundo está sendo ameaçada por condições ambientais, como aumento da temperatura dos oceanos e poluição.
Há estudos que apontam que ela poderá não existir mais nos próximos 100 anos. De acordo com o geógrafo Allyson, “as mudanças climáticas têm grande impacto na vida marinha, a partir da queima de combustíveis fósseis, que ocasiona o aumento da temperatura dos oceanos e um aumento da acidez do mar, colocando em risco recifes de coral, cardumes e peixes”.
Entender as mudanças climáticas em curso no mundo significa também dar maior interesse a problemas globais. O descompasso economia e meio ambiente “levanta uma questão importante: como é que aquelas nações que estão vivendo ali estão se desenvolvendo economicamente, mas dependem da preservação ambiental?”, questiona o especialista.