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Cicloturismo: saiba como cair na estrada e conhecer o mundo de bike

A experiência de viajar sobre duas rodas é uma proposta imersiva que alia bem-estar, experiências memoráveis e sustentabilidade

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Olinto e Rafaela cicloturismo
1 de 1 Olinto e Rafaela cicloturismo - Foto: Arquivo Pessoal

Poucas atividades trazem tamanha sensação de liberdade e autonomia quanto andar de bicicleta. Os ciclistas defendem que praticar é tão bom que paixão vem à primeira pedalada. Mas, além de passeios pela cidade ou como veículo para ir ao trabalho, a vontade de conhecer novos destinos sobre duas rodas tem conquistado cada vez mais adeptos.

Seja percorrendo longas distâncias, com os pertences organizados em alforjes pendurados na bike, seja com pedais mais curtos, para conhecer uma determinada região ou cidade — os benefícios e encantos do cicloturismo são unanimidade. Aqui, o que importa é a travessia.

Sentado em um selim, além de fazer uma atividade física que faz bem para o corpo, a prática alimenta a mente. O cicloturismo também é ideal para quem quer ter uma nova perspectiva sobre os destinos já conhecidos. De bicicleta, uma experiência nunca é igual à outra, mesmo que o trajeto seja o mesmo.

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A prática é extremamente democrática, e contribui para fortalecer laços em família
Há roteiros de todos os tipos: por praias, florestas e montanhas
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Como o nome bem diz, o cicloturismo nada mais é que percorrer grandes distâncias em cima de uma bicicleta para fins de turismo

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A prática é extremamente democrática, e contribui para fortalecer laços em família

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Há roteiros de todos os tipos: por praias, florestas e montanhas

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De exuberantes paisagens em outros continentes, como Toscana ou o maior deserto de sal do mundo, na Bolívia, até cortando os campos esverdeados da Chapada Diamantina ou Aparados da Serra, há experiências incríveis para serem percorridas em cima da bicicleta disponíveis no mundo inteiro, prontas para serem descobertas.

Brasil na rota

O cicloturismo virou a paixão de Viviane Mendonça, de 43 anos, depois de uma experiência transformadora. A convite de um amigo, a professora de Curitiba (PR), percorreu os cerca de 900km que formam o caminho francês na rota rumo à Santiago de Compostela de bicicleta. O trajeto mítico, que começa em Saint-Jean-Pied-de-Port, no sul da França, passa por castelos, histórias de cavaleiros templários, vilarejos, plantações de uvas e florestas.

Há quem diga que uma pessoa que cumpre a peregrinação nunca volta a mesma. Esse é o caso de Viviane. “Depois dessa experiência, percebemos a maravilha que é adotar a bicicleta na vida. Desde 2005, quando voltamos da viagem, já percorremos várias regiões do Brasil, sempre carregando a bike na mala”, compartilha.

Viviane Mendonça percorre o mundo de bike

Entre os benefícios, a professora de história e geografia ressalta que o verdadeiro diferencial da viagem em cima do selim é a imersão no cenário que ela proporciona. Uma pessoa que parte de bicicleta está mais suscetível às condições climáticas — sente na pele o frio e o calor do caminho —, mais atenta às pessoas que cruzam a rota e também à natureza que a circunda.

“Você percebe as coisas simples, como o olhar muito generoso de quem mora em cada destino que visita. Eu já passei horas conversando com um senhor, no sertão da Bahia, depois de pedir a ele um copo de água. Também me encanto com os sorrisos nas janelas, e o contato com as belezas naturais”, lembra.

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A Pedra Furada Morro da Igreja, em Urubici
E também internacionais, de Barcelona, na Espanha
 Berlim, capital da Alemanha
E Amsterdã, famosa pelo ciclismo
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Viviane já explorou roteiros no Brasil, como a Serra do Corvo Branco

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A Pedra Furada Morro da Igreja, em Urubici

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E também internacionais, de Barcelona, na Espanha

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Berlim, capital da Alemanha

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E Amsterdã, famosa pelo ciclismo

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Em 2011, ela fundou o grupo virtual Vou de Bike e Salto Alto, que conta com mais de 100 mil seguidores e incentiva mulheres a pedalar, com foco especialmente nas cicloviagens. “Esse é um turismo de contemplação que traz qualidade de vida e gera renda para pequenos vilarejos por onde os ciclistas passam”, lembra. “Ele vai além de só um passeio de bicicleta, é economicamente e ambientalmente sustentável”, completa.

Giros pelo mundo

Além de democrática, a prática oferece liberdade para que os viajantes descubram quem são enquanto cicloturistas. Há quem prefira despachar a bicicleta na bagagem e dormir em hotéis, com todo o conforto, e os que partem com o objetivo de acampar, dormir em motorhomes ou albergues.

Enquanto Viviane é adepta do estilo de viagem programado, dormindo em hotéis e aproveitando a estadia, o casal Antonio Olinto Ferreira, 54, e Rafaela Asprino, 47, reserva um espaço para o que chamam de “cicloaventuras”. De tempos em tempos, eles caem na estrada com as mãos no guidão, sem um roteiro muito bem definido.

Autor do primeiro guia de cicloturismo no país, Olinto decidiu ganhar o mundo sobre duas rodas em 1993. Durante três anos, ele percorreu quatro continentes e a experiência se tornou um livro para inspirar quem tem o sonho de fazer o mesmo. Desde o fim da jornada, o escritor se mudou para um motorhome e se dedica a escrever livros e produzir conteúdo com dicas e orientações para os cicloviajantes em potencial.

Em 2007, ele e Rafaela se conheceram, e a paulistana decidiu deixar o endereço e o escritório para aderir ao estilo de vida nômade. “Nesses 14 anos, descobrimos que esse tipo de turismo pode ser feito em qualquer destino — basta sonhar com ele. As suas escolhas vão te levar para determinadas experiências, e você deve abraçá-las como parte do desejo que queria realizar”, defende.

casal em montanha de bicicleta
O casal roda o mundo juntos desde 2007
Quebra de paradigmas

Na lista de roteiros, o casal já pincelou boa parte do território brasileiro, e também já foi para outros países da América do Sul, onde enfrentaram o inverno no deserto de sal na Bolívia, o Salar de Uyuni, as montanhas do Peru — quando a bicicleta pifou e eles tiveram que andar por vários quilômetros na chuva, até serem recebidos por uma família local, que vivia de forma humilde e sequer tinha um chuveiro para banho.

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A viagem para o Oriente Médio, quando cruzaram a Turquia rumo ao Irã, foi uma verdadeira quebra de paradigmas. Todo o longo trajeto de bicicleta também é um convite para despir-se de preconceitos, e uma abertura para criar conexões com a comunidade que vive ali.

“Nós temos uma visão completamente distorcida desses lugares. Quando chegamos lá de bicicleta, eu me senti muito próxima das pessoas. Era como conversar com um familiar que eu nunca tinha conhecido. Foi uma viagem em que eu vivi o sentido de humanidade plena. E, se não fosse pela bicicleta, eu provavelmente não teria vivido isso”, considera.

Casal percorre diversos países de bike

Sobre os temidos “perrengues” na estrada, Rafaela acredita que a violência, que muitos têm tanta preocupação, “normalmente está mais na nossa mente do que na realidade”. Com relação à insegurança, ela pondera que nunca viveu nenhuma situação de verdadeiro perigo.

“Quando você faz uma viagem de bicicleta, se sente muito forte e poderoso, porque venceu diversos obstáculos — do clima, do esforço físico. Você se sente um verdadeiro super-herói”, defende. “Porém, para muita gente, a forma de expressar isso é dizer que sofreu muito, que teve medo de assalto, que ficou à beira de uma situação de risco. É quase um vício na forma de se expressar, e cria um ‘preconceito’ sobre o cenário de aventura ser sempre perigoso”, acredita.

Porém, por motivos de segurança, eles sempre evitam grandes centros urbanos ou rodovias, lugares onde há maior risco para ciclistas no trânsito. “Não temos medo de lugar nenhum, mas em cidades muito grandes, evitamos andar no meio dos carros, principalmente em alta velocidade”.

Segurança em primeiro lugar

Quando se fala em segurança no trânsito, existe um caminho muito longo a ser percorrido no que tange aos direitos de quem transita de bicicleta. Por isso, a data que marca o Dia do Ciclista, 19 de agosto, é tão importante e simbólica.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), mais de 13 mil ciclistas morreram no Brasil nos últimos 10 anos. A região Sudeste é a mais letal para o tráfego sobre duas rodas, com um crescimento de 31,1% nos óbitos entre 2010 e 2019.

No Distrito Federal, o número de mortes de ciclistas caiu 52% de 2011 a 2020, em comparação com os 10 anos anteriores, de acordo com levantamento feito pela Gerência de Estatística do Departamento de Trânsito (Detran-DF).

Mas, somente este ano, seis ciclistas morreram na capital federal. De acordo com Raphael Dornelles, porta-voz da Rodas da Paz, Organização Não Governamental (ONG) voltada para o Cicloativismo, “andar de bicicleta em qualquer lugar que tenha alta velocidade é perigoso”.

“O grande problema é a velocidade das vias, que coloca em risco a vida das pessoas, dos pedestres, ciclistas e motoristas. Nós cobramos o respeito ao ciclista dentro da cidade, para que exista nela um espaço seguro para transitar de bicicleta, e pelo respeito a qualquer vida que circula em centros urbanos. A cidade é para as pessoas, não para os carros”, defende.

Rotas alternativas

Embora não configure exatamente o cicloturismo, subir na bike e explorar a própria cidade também é uma forma de fugir da rotina e observar as belezas de casa sob novas perspectivas. A prática é um excelente ponto de partida para quem quer experimentar roteiros sobre duas rodas, mas nunca fez isso antes.

Com DNA brasiliense, a Camelo Bike Tour é uma das primeiras agências de cicloturismo do Brasil, e oferece tanto aos moradores do Distrito Federal, quanto aos viajantes que desembarcam no quadradinho, uma verdadeira imersão na riqueza arquitetônica e urbanística da cidade.

Quem guia os ciclistas é o arquiteto e urbanista Graco Santos, que conseguiu unir a admiração pelas riquezas do DF com a profissão, e a paixão por andar de bicicleta. O resultado da mistura são roteiros de três a seis horas, nos quais o visitante aproveita um mergulho nas curvas, linhas e texturas propostas por Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Athos Bulcão.

“Nós propomos um passeio como rota turística, mas também com a informação da leitura urbana e da história que vibra aqui. Conhecer Brasília de bicicleta traz um olhar totalmente diferente, debaixo desse céu que é um esplendor. A cidade não é uma fotografia na parede, ela se movimenta, ela é viva, e de bike você consegue ter uma maior dimensão disso”, explica o brasiliense.

Mais adrenalina

Quem gosta de adicionar um pouco mais de “tempero” ao trajeto pode investir no Mountain Bike, praticado em estradas de terra, fazendas, trilhas em montanhas, dentro de parques e até mesmo em determinados pontos da cidade. Os percursos envolvem subidas, descidas e em alguns estilos, até mesmo obstáculos.

Em Pirenópolis, a Cipó Ecoturismo oferece atividades aproveitando o que há de melhor no relevo da cidade — com passeios por trilhas singulares terminando em cachoeiras, ou visitando o famoso centro histórico, cheio de paralelepípedos e ladeiras.

Os trajetos são criados de acordo com o viajante: os principais critérios são o nível de familiaridade com a bicicleta e onde se quer conhecer. Para quem é iniciante mas ainda assim quer viver uma aventura, a empresa também oferece as bicicletas elétricas, que exigem o pedal, mas dão uma forcinha. “Como se alguém estivesse te dando um empurrão nas costas”, explica Bianca Barreto, proprietária do empreendimento.

A ideia de alugar bicicletas e guiar viajantes em cima do selim partiu do desejo de compartilhar com outros viajantes as experiências de bem-estar no coração do Cerrado. “O esporte me abriu muitas portas, a bicicleta foi uma delas. Eu acho que estamos vivendo em um tempo muito esquisito, poder dividir isso com os meus clientes é a minha maior alegria”, compartilha.

Como começar

Se você tem vontade de viajar de bicicleta, a dica é pegar leve no início: um passeio pela região onde você mora já pode ser um bom começo. Além disso, Viviane Mendonça indica um checklist para quem quer embarcar na empreitada. Veja tudo o que você precisa saber para levar a bike na sua próxima viagem:

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Na preparação, lembre-se de incluir os equipamentos adequados. Confira uma lista de opções:

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