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Chapada do Araripe: conheça a riqueza cultural e histórica do Cariri

Da série Chapadas Brasileiras, o destino guarda belezas naturais, rastros de dinossauros e outros fósseis, e uma cultura nordestina pulsante

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1 de 1 chapada do araripe 10 - Foto: Reprodução/Associação Cultural Pedra do Reino

Em meio ao clima árido e a poeira alta da caatinga, cresce um oásis verde no meio do sertão. Pelas encostas da Chapada do Araripe, onde a água brota do chão, já caminharam espécies de dinossauros, povos indígenas, tropeiros e cangaceiros, que fizeram do triângulo que verte para os estados Ceará, Pernambuco e Piauí um dos cenários turísticos mais plurais do mundo. Há atrações de aventura, belezas naturais, riqueza cultural notória, elementos do turismo religioso e um tesouro arqueológico exuberante.

O cenário onde a natureza se faz presente de forma diversificada e rica é terra fértil para várias manifestações populares, e recebeu de Gilberto Gil o apelido de “bacia cultural”. Homenageada nos versos de Luiz Gonzaga no ritmo do baião, a cultura nordestina que pulsa no sertão também conta a história de Padre Cícero e Bárbara de Alencar, e ainda roda o mundo nas peças artesanais de Espedito Seleiro e seus famosos sapatos de Lampião e Maria Bonita.

Na série Chapadas Brasileiras, o Metrópoles te apresenta os encantos dos mosaicos que emolduram paisagens rochosas em território verde-amarelo. Cada uma com suas particularidades, mas extremamente ricas em belezas naturais, as chapadas são imperdíveis para os amantes de turismo de aventura e proporcionam uma experiência de conexão com a natureza singular.

Além da atmosfera vibrante na terra do Araripe, boa parte da riqueza da Chapada está embaixo do solo e vem do tempo em que o sertão já foi mar: os fósseis de dinossauros, pterossauros, peixes, insetos e flores, considerados entre os mais bem preservados do mundo. Único no Brasil e primeiro na América Latina, o Geopark Araripe busca alinhar a história da Terra, da cultura e do meio ambiente emoldurada pelas relações culturais e sociais, e se distribui por nove geossítios.

Terra da diversidade

Jéssica Pinheiro, 31, nasceu no Crato e atua como guia de turismo na região em que toda a sua família cresceu. Nas visitas que acompanha com os turistas, a cearense faz questão de exaltar os traços marcantes da cultura popular e da riqueza histórica que se distribuem nos atrativos do destino.

“A Chapada é conhecida como um celeiro de diversidade cultural, ambiental e paleontológica. A única palavra capaz de representá-la, eu diria, é diversidade. É um lugar muito plural para ser resumido em um único termo, pois abriga um acervo cultural muito forte, com mirantes e paisagens deslumbrantes, e relíquias paleontológicas únicas no mundo”, defende.

Como representação regionalista, ali estão artesãos que contam “causos” em formato de poesia na literatura de cordel, moldam as capas das histórias épicas em madeira no formato de xilogravura, criam peças em couro e trançam diferentes tipos de palha. Da argila, do barro e da madeira nascem esculturas belíssimas, e as histórias contadas por tradição oral promovem uma imersão no universo fantástico.

A região fica próxima ao sul do Ceará, o chamado Cariri cearense, na divisa com os estados de Pernambuco, Piauí e Paraíba. No coração da Caatinga, foi criada a primeira Floresta Nacional do Brasil — que abraça seis municípios: Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

Como chegar?

A forma mais cômoda de chegar ao destino é a pelo Aeroporto Regional do Cariri – Orlando Bezerra de Menezes, que fica em Juazeiro do Norte, cidade a 500km da capital, Fortaleza. Até lá chegam voos comerciais diretos e diários partindo de Brasília, Recife, Fortaleza e São Paulo.

Para trafegar entre as cidades que compõem a região, cair na estrada ou alugar um carro é a opção mais cômoda. Por lá, é necessário seguir uma rota, partindo do triângulo em Juazeiro do Norte: para um lado, Juazeiro do Norte (e demais cidades, como Caririaçu), para o outro, Barbalha e Missão Velha, e na última ponta: Crato, Exu, Nova Olinda, Santana do Cariri, Assaré e Potengi.

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Melhor época para visitar

Fora do período de pandemia, quando a recomendação é evitar viagens não essenciais, o parque pode ser visitado o ano todo. Por conta do clima seco e das altas temperaturas, a guia turística recomenda aos visitantes optarem pelos meses de janeiro a julho — com um clima mais agradável e vegetação verde, a paisagem se mostra ainda mais atrativa para os turistas e com maior possibilidade de trilhas.

“Quem tem interesse em fazer o passeio de agosto a dezembro pode sofrer um pouco mais com o calor devido às temperaturas mais elevadas”, alerta. Ao contrário de outros destinos de turismo de aventura, a chuva não atrapalha os percursos, por ser concentrada no período da noite, segundo Jéssica. “É muito difícil acontecer de passar um dia inteiro chovendo”, explica.

Para incluir no roteiro:

Na região do Araripe é possível caminhar entre os caminhos trilhados pelos povos indígenas Kariri e ter contato com suas lendas épicas, além de andar por onde seguiram os passos dos cangaceiros da época de Lampião — uma verdadeira aula de história milenar e cultura nordestina.

O Geopark Araripe é a área acessível aos turistas e abriga nove sítios paleontológicos, com os fósseis mais antigos do planeta — que remontam ao período Cretáceo e Jurássico — encobertos por rochas de mais de 110 milhões de anos, conservando a essência da flora e fauna da época.

A recomendação é reservar pelo menos de 3 a 4 dias para conhecer o destino. O parque tem parceria com diversos guias especializados, e a recomendação é contatar algum deles para garantir uma experiência mais segura e rica. A lista está disponível neste site. Somente essa contratação é paga, o acesso aos geossítios é gratuito.

Além dos geossítios, o destino abriga uma lista de incontáveis atrativos: desde trilhas ecológicas, cititours pelas cidades nordestinas, casas de artesãos e suas diversas especialidades.

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  • Geossítio Batateiras

Dono de uma das mais famosas cabeceiras aos pés da Chapada, o geossítio guarda fontes naturais de água que abastecem a população do Vale do Cariri, que se tornaram balneários e espaços de lazer para a comunidade. O local também preserva ruínas de um engenho de cana-de-açúcar construído por volta de 1880.

Rodeada de trilhas ecológicas, a região é palco da “lenda da pedra da Batateira”, um mito indígena em muitas versões.

A mais conhecida é que a Chapada do Araripe era entrada para um lago encantado, cujo único acesso estava guardado pela Pedra da Batateira. Assim que o lugar fosse profanado, a água, jorrando, iria inundar todo o Vale do Cariri e matar a sua população inteira. Neste tipo de narrativa, há elementos indígenas que constam da existência de “serpentes” e “mães de água”, além de outras de forças encantadas.

  • Cachoeira da Missão Velha

Formadas pelo Rio Salgado, no complexo despencam várias quedas d’água, a mais alta com 12 metros de altura. Ela é também pano de fundo para várias histórias, a mais recente relacionada à escassez de água no sertão: lá era um dos poucos lugares onde se podia encontrar água o ano inteiro.

Há ainda vestígios indígenas de períodos pré-históricos, onde eram realizadas cerimônias de povos nômades, e casas de pedra que rememoram a primeira fase de colonização do Cariri, ainda no século 17. Marcada por suas belezas naturais, a cachoeira também serviu como ponto de encontro entre cangaceiros.

  • Geossítio da Colina do Horto

O complexo que abriga pontos icônicos do turismo religioso, que contribui para engrandecer a fama da região, é formado pela estátua do Padre Cícero, o Museu Vivo do Padre Cícero, a Igreja do Senhor Bom Jesus do Horto e a trilha de acesso ao Santo Sepulcro.

Em Juazeiro do Norte, a colina é o acidente geográfico mais importante do Município, e é de fácil acesso — dentro da zona urbana — de onde é possível avistar todo o Vale do Cariri e a Chapada.

  • Floresta Petrificada do Cariri

Em Grota Funda, esse atrativo é o representante de um tesouro paleontológico que tem especial importância científica. Os fósseis de troncos petrificados mostram que, no final do período Jurássico, existiam colinas cobertas por florestas verdes cortadas por rios com água em abundância — onde hoje está a região do semiárido.

  • Parque dos Pterossauros

A área que pertence atualmente à Universidade Regional do Cariri já foi dominada por uma grande variedade de pterossauros (variedade do dinossauro voador). Por ali, viviam pelo menos 21 espécies do réptil, em diferentes tamanhos e formas, com enormes cristas na cabeça ou na mandíbula.

Todo esse patrimônio paleontológico é guardado há aproximadamente 100 milhões de anos, época em que os animais dividiam espaço com outros dinossauros, tartarugas e vegetais — e hoje é um dos lugares mais antigos de achados de fósseis.

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  • Pedra do Cariri

Às margens da rodovia de acesso ao Município de Santana do Cariri, este geossítio compreende uma antiga área de mineração de calcário conhecida por Mina Triunfo. Ali eram extraídas as lavras de calcários que servem para a construção civil, chamadas Pedras Cariri.

Visitantes sortudos que agendarem um horário para conhecer espaços de extração da rocha também podem vivenciar a descoberta de fósseis, que se fixaram às pedras e, hoje, foram um patrimônio paleontológico único no mundo.

  • Pontal da Santa Cruz

A vistosa formação rochosa é um ponto de observação panorâmica em Santana do Cariri, no topo da Chapada do Araripe, e abriga uma antiga capela, erguida em meados do século 20, é um exemplo da secular devoção católica típica da região.

Segundo a crença popular, a Grande Cruz que fica no topo do morro serve para proteger a população das assombrações que habitavam o lugar, cercado de misticismo. Para os mais aventureiros, há uma trilha ecológica que leva até o alto dos 750m de altitude do mirante.

 

  • Ponte de Pedra

No caminho que liga Crato a Nova Olinda, o Sítio Olho D’água de Santa Bárbara é mais um ponto de vista panorâmica, sobre uma formação rochosa que lembra uma ponte, pois cobre o vão de um riacho que só apresenta água em épocas de chuva.

Próximo à atração, se preservam vestígios arqueológicos de populações pré-históricas, que se misturam aos achados dos antigos povos indígenas Kariri. No lugar, o passado geológico abraça o desenvolvimento da humanidade.

  • Riacho do Meio

Cercado de uma vegetação densa e úmida, o complexo de três nascentes de água cristalina que abastecem as comunidades em seu entorno recebeu o nome de um antigo riacho, onde agora está uma estrada asfaltada. Por ali estão disponíveis trilhas ecológicas e bicas de água para espantar o calor.

Ali também fica a Pedra do Morcego, conhecida como um refúgio dos cangaceiros, onde segundo a tradição oral se abrigava o Bando dos Marcelinos. Os habitantes locais também contam que o mesmo lugar serviu de parada a Lampião e seu grupo na visita que fizeram ao Cariri.

Onde se hospedar

A região formada por seis cidades oferece um amplo catálogo de hospedagens e gastronomia. Contudo, Juazeiro do Norte e Crato reúnem o maior fluxo de pessoas e tem localização mais central, próximo ao triângulo que verte para as cidades do Cariri, e oferecem mais opções de conforto após um longo dia de turismo.

Entre algumas das melhores alternativas estão os hotéis Ibis Juazeiro do Norte e Iu-á Hotel, além do Encosta da Serra e Encosta do Horto e Pousada Sombra do Juá.

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