Casais separados pela pandemia se unem para derrubar restrições de viagens
Movimento mundial visa sensibilizar países sobre situação de casais e familias que moram em países diferentes
atualizado
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A pernambucana Bruna Cavalcanti, de 27 anos, conheceu o holandês Niek Vogel, da mesma idade, em um site de relacionamento em julho do ano passado. O casal (foto em destaque) passou meses programando a vinda do rapaz para o Brasil até que, em fevereiro deste ano, Niek desembarcou em Recife e os dois se conheceram pessoalmente. Eles ficaram juntos por um mês, período em que se apaixonaram, formalizaram o namoro e ela comprou uma passagem para ir visitá-lo. Até que a pandemia do novo coronavírus adiou, indefinidamente, os planos do casal.
“Em março, quando ele voltou para o Holanda, as coisas começaram a ficar complicadas no Brasil. Por muito pouco ele não ficou preso aqui. Compramos minha passagem para junho, pois tínhamos esperanças que as coisas iriam melhorar, o que não aconteceu. Adiamos, então, para o início de julho e, ainda assim, a viagem não foi possível”, relata a estudante.
Como é possível imaginar, dramas como o do casal são comuns. Desde que os primeiros países fecharam suas fronteiras para conter o avanço da doença, milhares de corações foram despedaçados e famílias vivem sem saber quando poderão se reunir novamente. Foi para unir forças e sensibilizar autoridades de vários países sobre essa situação que surgiu o movimento mundial Love Is Not Tourism, ou “amor não é turismo”, em tradução do inglês.
Só no Facebook, mais de 10 mil pessoas de todas as partes do mundo integram a iniciativa. Em um grupo, compartilham experiências, informações e estratégias para pressionar os governos de seus países a flexibilizarem viagens de pessoas em relacionamentos de longa distância e familiares que estão longe do seu país de origem.
Amor não é turismo
Por meio das hashtags #LoveIsEssential (amor é essencial) e #LoveIsNotTourism (amor não é turismo), o movimento tem focado na mobilização on-line e em petições para alcançar os objetivos. Se atendidos, os integrantes se comprometem a entregar testes negativos de coronavírus, pagos do próprio bolso, na partida e na chegada, usar máscaras em aeroportos e aviões, ir direto para a quarentena e ficar em casa com seus pares.
Em alguns casos, como o de Bruna e Niek, a campanha já surtiu efeito. “Tivemos um lapso de esperança quando a campanha começou. E estávamos certos. No dia 17 deste mês, a Holanda cedeu ao movimento e, a partir do dia 27, companheiros que residem em outros países poderão se encontrar novamente. Foi um misto de alívio, emoção e muito amor. Consegui alterar meu voo e irei no primeiro dia de abertura”, contou a brasileira.
Ela acredita que, sem a campanha, essa situação ainda estaria indefinida. “O país não considerava reabrir as fronteiras no momento, então acredito que o movimento ajudou, sim”, defende a recifense. Ela destaca que teve sorte por ter encontrado o namorado pessoalmente em fevereiro. “A liberação é só para casais que já se viram pessoalmente.”
Após mais de quatro meses de angústia, Bruna pode, enfim, respirar aliviada e fazer as malas. “Antes, todos os dias eram de incerteza e ansiedade. Às vezes, eu me acabava em choro, porque não via solução. Estou aliviada”, comemora.
União Europeia
De acordo com dados do movimento, o Brasil é o terceiro país com o maior número de casais binacionais separados pela pandemia. O dado é baseado no número de pessoas que integram o grupo. Grande parte deles depende de mudanças nos protocolos adotados pela União Europeia para reverem seus familiares e companheiros.
A UE até aprovou a reabertura das fronteiras no dia 1º de julho aos turistas de 15 países. Brasileiros foram barrados da lista. Até o momento, apenas cinco países europeus – Holanda, Dinamarca, Noruega, Áustria e República Tcheca – aprovaram uma espécie de “isenção para casais”.
Assim como a Holanda, a Dinamarca vai receber pessoas que não residam na União Europeia (UE), desde que tenham um familiar morando no país ou estejam em um relacionamento com um residente dinamarquês por um “certo período, normalmente de três meses” e tenham “se encontrado pessoal e regularmente”.
O site do governo dinamarquês adverte que “casais cujo relacionamento se baseou apenas em contato por escrito e telefônico não são considerados como tendo um propósito digno de acordo com as atuais restrições de entrada”.
Today I mailed another 5 handwritten letters to government officials. They can ignore my emails but I will fill up their physical mailboxes! My fiancé needs to be with me as I face cancer treatment. He’s not coming for fun or to sightsee. #LoveIsNotTourism #LoveIsEssential pic.twitter.com/ZWaQF4azTi
— Sarah Campbell 🇨🇦❤️🇬🇧 (@miss_sarah_c) July 20, 2020