Brasil na Rota: viva a experiência rústica de Conceição do Ibitipoca
O clima pacato e a culinária dão sabor ao destino em Minas Gerais cercado de belezas naturais estonteantes
atualizado
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Porta de entrada para uma das mais belas reservas naturais do país, Conceição do Ibitipoca, na Serra da Mantiqueira, preserva ruas de terra e paralelepípedos, casinhas coloridas e um clima rústico singular. O destino é um convite à simplicidade, ideal para quem quer trocar os dias cinzas nos grandes centros urbanos pelo charme interiorano mineiro.
Emoldurada pelas belezas naturais exuberantes, o clima bucólico é preservado ao final de 27 quilômetros de estrada de terra morro acima, que liga a vila a Lima Duarte, cidade mineira a qual o distrito pertence. Entre penhascos, grutas, paredões, mirantes, riachos de águas avermelhadas e cachoeiras, o destino abriga em seus arredores uma série de encantos.
Na série Brasil na Rota, publicada desde o mês de janeiro, o Metrópoles te convida a explorar roteiros fora do itinerário tradicional de viagens e encontrar novos tesouros em território verde e amarelo. Enquanto o turismo de isolamento é a alternativa para reaquecer o mercado tão afetado pela pandemia de Covid-19, expanda seus horizontes e encontre maneiras de fugir da realidade sem abrir mão da segurança.
O distrito em Minas Gerais é um dos mais antigos do estado, e ainda preserva heranças dos primeiros bandeirantes paulistas, que chegaram à serra em 1692 a procura do ouro pelas montanhas da região. Na época, o local era habitado pelos tupis-aracis, indígenas da tribo que batizou a região pela enorme incidência de raios que recebe – cinco vezes mais que a média mundial. Na língua nativa, Ibitipoca significa “casa da terra que treme”.
A reconhecida hospitalidade mineira está presente na vila, com seus pouco mais de mil habitantes. Porém, o clima pacato não significa que não haja conforto, boa mesa e agito em Ibiti. Desde a criação do Parque Estadual, em 1973, as ruas de pedra da vila ganharam pousadas charmosas, restaurantes para todos os gostos, bares rústicos, cafés e lojinhas de artesanato.
“Jeito mineiro”
O mineiro Ronaldo, conhecido como Champak, conheceu Ibitipoca pelas belezas naturais, mas decidiu ficar por conta do clima agradável e da hospitalidade dos moradores. Nascido em Juiz de Fora, ele já morou em diversas cidades, inclusive Brasília, e tinha o costume de visitar a vila todo fim de semana, até que decidiu se mudar para o destino. Hoje, ele é secretário da Associação de Moradores e Amigos de Ibitipoca.
“Por aqui, o clima é de cidadezinha do interior — crianças brincando nas ruas estreitas, animais de fazenda circulando livremente. O povo, com aquele jeitão mineiro, te abraça, é receptivo e acolhedor. Essas características me cativaram e foi assim que eu decidi que era aqui que queria morar o resto da vida”, explica.
Em “Ibiti”, as horas passam devagar e sempre há tempo para ouvir um bom ‘causo’, tomar um cafezinho bem mineiro e se reconectar: consigo e com a natureza.
Melhor época para visitar
Cada estação tem seu charme na cidade, porém a melhor época para conhecer toda a riqueza natural da região é de abril a setembro, quando a temperatura é mais amena e o risco de chuva é menor. De outubro a março, faz muito calor e as chuvas são mais intensas.
O período de inverno é o favorito dos viajantes. Durante a noite, o clima da serra toma conta, em dias ensolarados e noites geladas. É nesta época também que acontecem os festivais de blues e de jazz e o rally. Quando for viajar, após a pandemia, considere dar uma chance para o “friozinho” de montanha.
Também é importante ter em mente que a cidade é realmente pequena. Não se estresse se o seu celular não tiver tanto sinal como de costume — e se entregue ao charme dos dias no campo. Não há postos de gasolina no lugar, então evite contar com a sorte. Também é recomendado levar dinheiro, pois faltam caixas eletrônicos e o sinal nem sempre é confiável.
Como chegar
Ibitipoca é um distrito do município de Lima Duarte, e fica a 27 km dali. Localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, o lugar está a 90 km de distância de Juiz de Fora, 260 km do Rio de Janeiro e a 360 Km da capital do estado, Belo Horizonte.
A melhor forma de chegar ao destino, bem rústico e um tanto isolado, é encarar a estrada de carro. Há ainda o ônibus como alternativa, porém, será necessário um pouco mais de tempo — e paciência. Você precisará chegar em Juiz de Fora, de lá pegar um ônibus para Lima Duarte para então partir até Ibitipoca.
O traslado exige um belo planejamento, para pegar o único ônibus do dia, e em alta temporada, é possível que as passagens esgotem antes que você adquira a sua. Outra dica é: evite visitar a área nas férias ou em feriados prolongados. Mesmo após a pandemia — que exige atenção e cuidado redobrados — o parque tem um número limitado de visitantes por dia.
Onde se hospedar
Alinhadas ao clima sereno da região, a vila abriga uma série de hospedagens confortáveis, a preços bem em conta. Entre as opções, as pousadas Janela do Céu e Meu Recanto são ótimas alternativas. Há ainda os hotéis Repousada Chalés e Alpha Ville Chalés.
Para quem quer viver a experiência em contato com a natureza do início ao fim, há algumas opções de campings, inclusive um dentro do próprio Parque Nacional.
Passeios imperdíveis
A principal atração do destino, sem dúvidas, é o Parque Nacional do Ibitipoca. Não é à toa que o “Ibitiparque” é o mais visitado do estado — são cerca de 90 mil visitantes por ano, em média —, e foi eleito pelos usuários do TripAdvisor o 3º melhor parque da América Latina.
Antes de começar a caminhada, vale a pena passar no Centro de Apoio ao Turista. Lá você encontra mapas dos principais circuitos disponíveis aos visitantes e explicações das principais atrações do parque.
Por lá, as trilhas sinalizadas levam a paisagens “de tirar o fôlego”, como a Janela do Céu, uma corredeira que segue por um cânion e acaba em uma cachoeira de 20 metros, que despenca de um paredão. Há ainda outros três roteiros: Pico do Peão e Circuito das Águas.
Os picos do Pião (1.722 metros) e da Lombada (1.784 metros) são pontos do parque e descortinam vista panorâmica dos vales tomados por rios e cachoeiras. A Lombada, a quatro quilômetros da portaria, oferece ainda um bonito pôr-do-sol.
Há também trilhas mais tranquilas, como as do Circuito das Águas, que totaliza uns 5 km ida e volta, e que leva a cachoeiras como a dos Macacos. O caminho já é uma bela visão. As trilhas esbanjam cactos, bromélias, orquídeas e samambaias. Por lá também habitam espécies ameaçadas de extinção, como o lobo guará e o primata sauá.
Nos arredores há uma porção de passeios disponíveis, como as grutas: dos Viajantes, do Pião, dos Moreiras e do Monjolinho — um cânion formado pela ação das águas na rocha, com paredões de 10m de altura e 2m de distância, cercado por uma pequena piscina natural, banco de areia e uma mata ciliar, que mantém esta área sombreada a maior parte do dia.
Além dos roteiros diurnos, Champak recomenda aproveitar todo o agito da “vida noturna” do local. O natural é aproveitar as trilhas e cachoeiras durante e o dia e, ao cair do sol, voltar para a cidade e curtir as atrações do centro, onde as pequenas ruas se enchem de mesas de restaurantes regadas a muita música ao vivo.