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Brasil na Rota: conheça Lençóis, no coração da Chapada Diamantina

O destino no centro-oeste baiano é um centro histórico a céu aberto em meio às belezas naturais da região das Lavras Diamantinas

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1 de 1 Mosquito waterfall - Foto: Getty Images

Caminhar pelas charmosas ruas de pedra de Lençóis transmite as sensações de uma viagem no tempo. Avenidas e ladeiras entrecortadas por becos, com suas edificações seculares e multicoloridas, conservam uma arquitetura que revela a memória do garimpo na região das Lavras Diamantinas.

O patrimônio paisagístico e arquitetônico da cidade — tombado pelo Iphan em 1973 — é herança da época em que a região foi a maior produtora mundial de diamantes e a terceira cidade mais importante da Bahia, na segunda metade do século XIX. A riqueza histórica é emoldurada por monumentos naturais exuberantes em seus arredores, com rios, grutas, sítios arqueológicos, vestígios do garimpo, cachoeiras e vistas de tirar o fôlego.

Na série Brasil na Rota, publicada desde o mês de janeiro, o Metrópoles te convida a explorar roteiros fora do itinerário tradicional de viagens e encontrar novos tesouros em território verde e amarelo. Enquanto o turismo de isolamento é a alternativa para reaquecer o mercado tão afetado pela pandemia de Covid-19, expanda seus horizontes e encontre maneiras de fugir da realidade sem abrir mão da segurança.

Herança secular

No centro-oeste da Bahia, a cidade foi fundada em 1845 por garimpeiros, em busca dos diamantes que a Chapada carrega no nome. Em pouco tempo, as terras foram ocupadas por exploradores e comerciantes de diversos lugares do Brasil, e a riqueza de Lençóis se refletia na importação de artigos de luxo e até na instalação de um vice-consulado da França para facilitar o comércio francês.

De acordo com a prefeitura da cidade, o nome Lençóis não tem origem perfeitamente definida. Uns atribuem às coberturas de lona branca das tendas dos primeiros garimpeiros vindos de Minas Gerais, que de longe pareciam um grande lençol estendido. Outros, atribuem o título às águas do rio Lençóis que, em épocas de grandes enchentes, saltitam sobre as pedras, formando uma grande cobertura branca.

O acervo arquitetônico do destino é formado por cerca de 570 imóveis. Basicamente, casas e sobrados da segunda metade do século XIX, construídos com diferentes técnicas, com predominância do adobe e da pedra. Pelas calçadas, ruas e ladeiras se adaptam aos acidentes do terreno entre pequenas praças e largos. Em alguns locais, o piso é constituído naturalmente da rocha que aflora no local.

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Os monumentos que contam histórias se dividem em diversas partes da cidade, com suas casinhas coloniais coloridas e ruas irregulares de paralelepípedos. No roteiro arquitetônico, inclua a Praça Horácio de Matos — espaço público mais importante do destino, rodeado de grandes sobrados —; a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1830, e a maior do sertão baiano; e o Casario da rua Sete de Setembro, onde funcionou o vice-consulado da França. 

A antiga Prefeitura Municipal, que remonta os anos 1860 e é o atual escritório do IPHAN, o Mercado Público Municipal e a Ponte sobre o Rio Lençóis completam o tour urbano na cidade.

Melhor época para visitar

Para quem quer conhecer o lugar e a beleza exuberante de seus arredores, uma dica importante é fugir da época de chuvas. Prefira viajar entre os meses de abril e outubro. Fora desse período, a temperatura é mais amena e o roteiro de cachoeiras pode ser prejudicado, com trilhas escorregadias e um volume de águas significativo.

Como chegar

Lençóis é a principal cidade da Chapada Diamantina, e fica a aproximadamente 420 km de Salvador. O trajeto até o destino pode ser feito de avião — do aeroporto da capital até o da cidade, chamado de Aeroporto Horácio de Matos —, porém, os voos são escassos e costumam pesar no bolso.

O esquema mais confortável e econômico é chegar até Salvador e alugar um carro ou pegar um ônibus, na rodoviária da capital. Se possível, dê preferência para o carro, uma vez que ter o próprio meio de transporte vai facilitar a sua vida e tornar mais fáceis os traslados para cachoeiras e locais extraordinários na região.

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Opções de hospedagem

O itinerário mais comum dos viajantes que chegam ao destino é aproveitar para conhecer as belezas dos arredores e, ao cair da noite, voltar para o centrinho da cidade, que abriga uma porção de restaurantes com mesinhas na calçada sob a luz do luar.

As hospedagens mais estruturadas da chapada ficam em Lençóis, como a Canto das Águas, a Estalagem do Alcino e o Hotel de Lençóis. Para pagar menos e ficar entre a natureza, a 15 minutos de caminhada do centro, uma ótima opção é a Canto no Bosque. Quem quiser uma opção mais em conta pode procurar a Solar Azul.

Passeios imperdíveis

Não seria exagero dizer que meses na região da Chapada Diamantina não seriam suficientes para conhecer todos os seus encantos. Além de Lençóis, outros dois pontos estratégicos para explorar as belas vistas do local são Vale do Capão e Mucugê. Sérgio Paulo, guia da Associação dos Condutores de Visitantes de Lençóis (ACVL), ressalta que os pontos turísticos da região são incontáveis.

Mais perto de Lençóis, fica o Serrano. O local é um conjunto de piscinas com cascatas onde é possível tomar banho e descansar na água, aproveitando a força das pequenas quedas d’agua que enchem os “caldeirões”. No local, também está situado o salão de areias coloridas, que serviu de cenário para a novela global Pedra sobre Pedra.

Um pouco mais a frente, cerca de uma hora de trilha depois de Ribeirão do Meio, está a imponente Cachoeira do Sossego. A cachoeira é um dos pontos imperdíveis no roteiro segundo Nil Lino, visitante assídua da região. “A Chapada Diamantina é um dos meus locais favoritos, que eu visito desde criança. Quando estou em busca de um lugar lindo, cercado de uma rica biodiversidade, para relaxar e se conectar com o universo, é lá que eu penso”, diz.

A baiana, que já passou pelo cenário por mais de 10 vezes, ressalta que há trilhas para todos os gostos. A Cachoeira do Sossego, para ela, é particularmente desafiadora. A trilha é belíssima, porém durante as chuvas pode ficar um pouco perigosa por conta das pedras escorregadias. A caminhada em si não é tão difícil, mas os joelhos precisam estar bons para dar conta do vaivém das subidas e pelos caminhos embaixo de pequenas grutas.

“Mesmo com todas as subidas íngremes, o resultado vale a pena. Sem falar que, durante a trilha você tem vários lugares onde pode parar para contemplar a vista, tomar banho de rio. A cachoeira é o destino, mas o percurso todo é super bem aproveitado”, compartilha. 

Na lista, há ainda a Cachoeira da Fumaça, com 384 metros de queda livre e a Cachoeira do Mosquito, a trilha curta de 30 minutos é apenas um detalhe para a grande recompensa que espera pelos viajantes.

Mais adiante de cidade, entrando em outras regiões da Chapada há outros tesouros escondidos. Um dos principais cartões-postais do local, o Morro do Pai Inácio, que pode ser visto ainda da estrada com seus 1.150m de altitude. A trilha é bem tranquila e tem até corrimão para subir as escadas naturais até o topo, onde é possível observar um dos mais bonitos entardeceres do país.

Além das cachoeiras, a Chapada também oferece a deliciosa experiência de mergulhar em poços de água transparente, muitas vezes com incrível tom de azul. Os mais famosos poços são o Poço Azul e o Poço Encantado, conhecidos pelo fenômeno da luz do sol, que, ao entrar pelas frestas das grutas, atinge a água e forma um lindo facho de luz.

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Aproveite para ver de perto as estalactites (formações no teto) e estalagmites (formações no solo), que são formadas a partir das gotas d’água dentro das cavernas, que passam por rochas calcárias. Entre as opções há a Gruta da Lapa Doce, a Gruta de Torrinha e a Gruta Azul. Outra opção é aproveitar para conhecer o sítio arqueológico Serra das Paribas, recheado de pinturas rupestres.

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As opções são diversas, mas “se eu pudesse escolher um favorito, diria a Cachoeira do Buracão”. Mais adiante de Lençóis, próximo a Mucugê, o local é “de tirar o folego”, descreve Nil Lino. Lá, um grande corredor do cânion se abre em um enorme vão de pedra. A queda d’água recebe os visitantes com seus imponentes 85 metros, em uma visão hipnotizante.

Para quem quer conhecer todas as belezas do local em segurança, o guia Sérgio Paulo recomenda o acompanhamento de profissionais especializados. “Existem pontos em que é fundamental estar acompanhado de alguém que conheça a região. A segurança do cliente está no guia, e não é raro que algum de nós precise ir resgatar um visitante que se perdeu pelo caminho”, aconselha.

“Quando vier, venha de carro — que facilita muito a vida —, traga muita alegria no coração e se não souber nadar, não esqueça do colete”, diverte-se o profissional. “Também leve seu lixo e traga de volta”, completa.

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