Além da Esplanada: os 6 prédios residenciais mais bonitos de Brasília
A capital é conhecida pelas linhas de Niemeyer, mas a beleza da cidade vai além. Os projetos dos blocos residenciais também merecem atenção
atualizado
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Brasília é o paraíso dos arquitetos. A cidade planejada, modelo dos ideais modernistas, é cheia de construções-monumento que enchem os olhos de quem vê poesia nas linhas e no concreto. Mas esses prédios vão além da Esplanada dos Ministérios, do Museu da República ou do QG do Exército. Os brasilienses (e aqueles que adotaram a cidade como sua) também moram em obras de arte.
Eles não são muito famosos, mas os prédios residenciais da capital são grandes exemplos de uma arquitetura cheia de conceito que se encaixa no modelo de cidade-parque pensado por Lucio Costa. Para sentir como é viver em Brasília é preciso entender os pilotis, apreciar a ventilação que só os cobogós conseguem trazer e aproveitar a iluminação e a sombra que os brises proporcionam. É abrir as grandes janelas e se deparar com um tanto de verde.
“Alguns dos prédios têm poesia por serem singelos. São projetos com soluções inteligentes e que têm uma inserção muito razoável na paisagem urbana”, explica o professor Benny Schvarsberg, do Departamento de Projeto, Expressão e Representação em Arquitetura e Urbanismo da UnB. “Lucio Costa falava de uma moldura verde e blocos mais simples, com mais poesia. São volumes delicadamente postos na quadra, ainda mais sobre os pilotis”, conta.
Alguns prédios da capital são tombados pelo Iphan, mas não os residenciais. Apesar disso, o Conjunto Urbano de Brasília é protegido e os edifícios de apartamentos devem seguir algumas normas, como, por exemplo, a altura máxima de seis pavimentos. Por isso, são vários os arquitetos que já se aventuraram a deixar sua marca na cidade modernista. Eduardo Negri, por exemplo, é responsável por mais de 100 blocos no Plano Piloto.
Um dos nomes mais queridos e lembrados, entretanto, é o do professor da UnB Marcílio Mendes Ferreira, que faleceu no ano passado e deixou mais de 10 edifícios espalhados por aí. “São prédios reconhecidos pelo mundo inteiro por uma arquitetura pura do modernismo. As fachadas em fita têm continuidade, há cobogós, pilares em formatos diferentes, brises. Eles têm uma composição bonita e funcional. Marcílio tinha a preocupação de desenhar até os azulejos, cuidar dos mínimos detalhes”, conta Larissa Cayres, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do IESB.
Uma reclamação frequente de quem acompanha e admira os prédios de Brasília são as reformas e renovações que descaracterizam os projetos. Saem os brises e cobogós e entram varandas fechadas de blindex, pastilhas, vidros. “Assistimos a um festival de horrores e pirotecnias que não têm nada a ver com os desenhos originais. Depois de tantos anos de uso, é óbvio que eles devem ser reformados, mas as mudanças têm gosto discutível, priorizando modismos. As últimas atualizações são atrocidades com a paisagem urbana tombada”, afirma o professor Benny.
Em homenagem aos belos monumentos e ao estilo de vida brasiliense, que continuam de pé promovendo os ideais modernistas, o Metrópoles perguntou para especialistas e elencou seis dos prédios mais bonitos da cidade.
107 norte, bloco G
Uns dos prédios mais icônicos de Brasília, os blocos quadrados da 107 norte foram projetados por Mayumi Watanabe de Souza Lima e Sérgio de Souza Lima. A dupla fez questão de usar pré-moldados, que faziam muito sentido com a quantidade de concreto usada no resto das construções da cidade. Os pilotis também são diferentes e ficam ao redor do edifício.
203 sul, bloco K
O professor Marcílio Mendes Ferreira é responsável por vários prédios em Brasília, e todos têm em comum o respeito e adequação aos ideais modernistas. No bloco K, chamam atenção os cobogós da parte traseira e os brises de concreto na frente do bloco.
107 sul, bloco B
O trabalho de Oscar Niemeyer foi além dos prédios da Esplanada dos Ministérios. Na primeira quadra a ser construída em Brasília, o arquiteto criou um dos clássicos da cidade: os prédios com longos corredores forrados de cobogós.
308 sul, bloco F
Um dos prédios mais emblemáticos da capital fica na quadra-modelo e oferece aos moradores um belo jardim criado por Burle Marx e um espelho d’água. O bloco F foi projetado por Marcelo Campello e Sérgio Rocha e tem vidros na fachada que cobrem todos os apartamentos: a parte de baixo é pintada para garantir a privacidade.
Colina UNB, bloco C
Os prédios da chamada Colina Velha, na UnB, foram projetados pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o famoso Lelé. Além da arquitetura única, com instalações elétricas e hidráulicas aparentes, são as plantas dos apartamentos que chamam atenção: os maiores tem 144m² e os quartos e salas são flexíveis.
Colina UNB, bloco J
A Nova Colina também tem seu charme. Os prédios de seis pavimentos projetados pelo arquiteto Paulo Marcos de Paiva Oliveira têm o tradicional uso do concreto. São dos poucos edifícios construídos depois dos anos 1980 a serem considerados pela sua arquitetura. Uma crítica comum aos prédios mais novos é a falta de imaginação. “Acha-se engenharia, mas arquitetura como poesia é difícil encontrar. Parece que os prédios são iguais, homogêneos, monótonos”, afirma o professor Benny.