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Readequação vocal para pessoas trans: saiba o que é e quanto custa

Ao Metrópoles, o otorrinolaringologista Guilherme Catani dá detalhes de como a cirurgia é feita, quais os riscos e quanto custa

atualizado

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voz - transsexualidade
1 de 1 voz - transsexualidade - Foto: Getty Images

O processo transsexualizador é um divisor de águas na vida de um pessoa transsexual. Mas assumir a forma física com a qual você realmente se identifica também é sinônimo de enfrentar uma série de mudanças que impactam a saúde física e mental.

A transformação engloba desde a troca de roupas até o uso de hormônios que interrompem ou estimulam o crescimento de pelos, ou até mesmo as cirurgias transsexualizadoras. A voz, porém, sempre pareceu um problema para pessoas transgênero.

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Além disso, trata-se de um movimento que tem como um dos principais objetivos lutar por direitos, por novas formas de identificação e contra qualquer tipo de discriminação
Segundo integrantes da comunidade, a sigla representa posicionamento de luta, resistência e orgulho
A letra L faz menção às lésbicas, ou seja, mulheres que se relacionam com mulheres
A letra G refere-se a palavra Gay, utilizada para descrever homens que se sentem atraídos por outros homens. Assim como no caso de pessoas lésbicas, não precisa ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do mesmo sexo para se identificar como gay
A letra B representa os bissexuais, pessoas que se relacionam tanto com pessoas do mesmo gênero quanto do gênero oposto
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A sigla LGBTQIAPN+ é utilizada para representar pessoas que são lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, intersexo, assexuais, pansexuais e não-binárias, por exemplo, em uma só comunidade

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Além disso, trata-se de um movimento que tem como um dos principais objetivos lutar por direitos, por novas formas de identificação e contra qualquer tipo de discriminação

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Segundo integrantes da comunidade, a sigla representa posicionamento de luta, resistência e orgulho

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A letra L faz menção às lésbicas, ou seja, mulheres que se relacionam com mulheres

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A letra G refere-se a palavra Gay, utilizada para descrever homens que se sentem atraídos por outros homens. Assim como no caso de pessoas lésbicas, não precisa ter tido, necessariamente, experiências sexuais com outras pessoas do mesmo sexo para se identificar como gay

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A letra B representa os bissexuais, pessoas que se relacionam tanto com pessoas do mesmo gênero quanto do gênero oposto

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A letra T refere-se aos transsexuais, transgêneros e travestis, que não se identificam com o gênero pelo qual foi determinado ao nascimento

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A letra Q faz alusão às pessoas Queer, termo inicialmente utilizado de forma pejorativa, mas que acabou sendo adotado pela comunidade de forma a abraçar todos que não se encaixem dentro da heterocisnormatividade

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A letra I representa as pessoas diagnosticadas como intersexo. O termo é utilizado para descrever pessoas que nascem com características genéticas e físicas diferentes das definições biológicas comuns

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A letra A faz menção às pessoas assexuais, que não sentem atração sexual por outras pessoas, mas podem sentir interesse afetivo e namorar, por exemplo

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A letra P refere-se aos pansexuais, pessoas que desenvolvem atração física e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero

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A letra N representa os não-binários, ou seja, que não se identificam com um gênero específico ou que não têm gênero

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O símbolo + é utilizado para abranger pessoas não-cis que não se consideram trans ou não-binárias, por exemplo, e por todas as outras orientações que não são hétero

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Em entrevista ao Metrópoles, a ginecologista Giani Cezimbra conta que a voz, em muitos casos, pode representar  um “problema” sem solução. “Quando se passa pela fase da adolescência, mudanças hormonais acontecem e características do sexo começam a aparecer com mais força”, disse.

Isso quer dizer que a pessoa do sexo masculino desenvolve, por exemplo, pelos no rosto, o pomo-de-adão e também uma voz mais grave. No caso das pessoas de sexo feminino, os pelos no rosto não aparecem e a voz ganha características mais agudas. “Reverter isso na fase adulta, só com hormônio, nem sempre traz resultados satisfatórios”, salienta Cezimbra.

A voz é uma grande questão para pessoas transexuais

Autoaceitação

A estudante de direito Laura Madel conta que passou por sua transexualização nos últimos dois anos e enxergou isso como uma forma de enfrentar a si mesma:

“Durante a pandemia, tive o privilégio de ficar em casa e eu acabei sendo forçada a enfrentar isso. Eu não conseguia mais deixar de lado qualquer questão quanto à minha identidade, tinha que conviver com aquilo o tempo todo”, ressalta.

Ao se entender como uma pessoa transgênero, Laura conta que passou a estudar mais sobre o tema e procurar alternativas para “resolver isso”. De acordo com ela, tudo foi feito com o intuito de encontrar o mínimo de conforto consigo mesma, já que a baixa autoestima era um sentimento comum para ela que, por muito tempo, “sentia que tinha alguma coisa errada”.

Laura Madel - transsexual - cirurgia da voz
Laura Madel, de 23 anos, passou por uma glotoplastia com a intenção de mudar o tom de sua voz

Além da hormonioterapia que traz mudanças para o corpo de um modo geral, a estudante conta que percebeu pouca alteração em sua voz. Parte da sua identidade, a voz é uma característica única de cada ser humano. “Você consegue distinguir uma pessoa pela voz”, comenta Madel. Durante seu processo de descoberta, a jovem relata que enfrentou, além do preconceito quanto à sua identidade de gênero, vergonha da própria voz.

“Minha voz me deixava muito desconfortável. Eu ficava me reprimindo, tentava falar menos, mais baixo e falar rápido para não ter muito contato com a minha voz…”, conta a jovem de 23 anos.

A voz e a identidade

Para a voz, o médico otorrinolaringologista Guilherme Catani conta que nenhum processo transexualizador é igual e não existe ordem dos procedimentos a serem feitos. Pesquisador desse tema há mais sete anos, o profissional foi pioneiro do método de readequação vocal para pessoas trans no Brasil.

“Não existia nada na literatura sobre o tema, até que recebi, em meu consultório uma mulher trans que procurava por essa cirurgia, com a intenção de deixar a voz dela mais feminina e eu não sabia como fazer. Então, passei a estudar sobre o tema e encontrei uma especialização na Inglaterra e fui fazer”, conta em entrevista ao Metrópoles.

Segundo Catani, quando uma pessoa trans chega em seu consultório com o intuito de mudar a voz, há diferentes caminhos a serem seguidos para atingir esse objetivo. “A cirurgia acaba se tornando uma exceção”, explica. O médico conta que, no caso de homens transgênero, a hormonioterapia junto ao trabalho com uma fonoaudióloga, já apresenta resultados satisfatórios.

Foto de Guilherme Catani
Guilherme Catani, pioneiro da cirurgia para readequação vocal no Brasil

“Para mulheres trans, o hormônio não funciona bem. Primeiro, a gente encaminha para a fono e, se não houver o resultado desejado, então tratamos como caso cirúrgico. A testosterona na masculinização da voz funciona bem, mas os hormônios femininos e o bloqueador de testosterona não reverte a voz tão grave”, explica

Esse foi o caso de Laura que, apenas com os hormônios, não atingiu ao tom de voz desejado. “Eu fiz glotoplastia, uma das cirurgias para mudar a voz”, conta. “Ainda que o processo de recuperação seja lento, eu já consigo perceber bastante diferença na forma como lido com a minha voz”, disse.

“Agora eu sou bem mais extrovertida e isso me fez ver que eu não tinha um problema de autoestima, mas uma disforia de gênero mesmo. Eu estou conseguindo me expressar melhor e de forma mais clara o que eu quero. Isso, para mim, tem sido uma experiência proveitosa, conseguir falar o que eu quero sem ter que me intimidar pela minha própria voz”.

O que é a cirurgia?

Em entrevista ao Metrópoles, Catani dá detalhes de como a cirurgia é feita, quais são os seus ricos, onde fazer e se há oferta do procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com um livro recém lançado, ‘O guia de readequação vocal para pessoas trans’, o médico conta em uma linguagem simples e acessível os detalhes da cirurgia.

Quando a pessoa quer passar pela readequação vocal, quais são os passos?

Primeiro a gente vê se ela já chegou a fazer a terapia vocal. Se nunca fez, a gente sugere que ela faça alguns exercícios de voz para ver se com a fono ela só consegue atingir uma voz satisfatória e não precisa da cirurgia. Se ela já passou pela fono e não conseguiu o resultado que deseja, ai fazemos o exame completo, ver como é que está a estrutura da prega bucal.

A gente consegue medir a voz pra ver com que frequência essa voz está vibrando. E aí eu explica o procedimento cirúrgico, dos riscos, os benefícios e é uma decisão em conjunto. Sempre converso com as minhas pacientes, pois é uma parceria que a gente está fazendo. Eu vou fazer o meu melhor e eu quero que você faça o teu melhor no pós-operatório com cuidados que eu vou te orientar.

Como é feita a cirurgia?

No caso do homem trans, a gente usa a chamada tireoplastia, onde são feitas três incisões na cartilagem. Sem encostar na prega vocal e, com isso, a gente consegue deixar a prega vocal menos tensa.

Eu gosto de fazer uma analogia com a corda do violão. Quanto mais esticada a corda do violão, mais agudo é o som. Se a gente solta um violão da presilha das cordas, a voz fica fica mais grave. É a mesma coisa na prega vocal. Então pra deixar a voz mais grave a ideia é soltar um pouquinho a ‘presilha’ e deixar a prega vocal menos tensa e com isso a voz ficar mais grave.

No caso da mulher trans, a gente tem duas possibilidades: a tireoplastia tipo quatro e glotoplastia. A segunda é a que a gente mais tem feito atualmente e a cirurgia consiste em ‘diminuir’ as pregas vocais. Então, diminui o tamanho da prega bucal com suturas e, com isso, a gente deixa a prega mais curtinha, vibrando num som mais agudo.

Esse tipo de cirurgia tem algum risco?

Bom o que a gente fala dos riscos são é a glotoplastia, nesse processo de feminização, pode perder um pouco da potência da voz e ficar um pouquinho sem potência, às vezes, se ela for gritar ou tentar falar um pouco mais alto. Às vezes o grito não vai ser tão alto como era antes.

E em alguns casos, a gente não sabe exatamente o porquê, a pessoa ganha um pouquinho de rouquidão, mas bem leve. A maioria das minhas pacientes acham essa rouquidão charmosa e bem característica da voz feminina, portanto elas não têm queixa dessa rouquidão pois ela não atrapalha a comunicação.

Há algum período ou idade indicada para realizar essa cirurgia?

Não. Qualquer idade esse tipo de cirurgia pode ser feita, eu já operei pacientes com 20 anos e também pacientes com 60.

Qual a média de valor?

Varia entre R$ 20 mil e R$ 25 mil – contanto com internação, anestesista, procedimento cirúrgico e todo o resto.

Onde é possível fazer essa cirurgia? 

Eu sei que não existe profissional que faça essa cirurgia em Brasília e nem Goiás pois atendo muitos pacientes desses estados. Aqui em Curitiba, onde atendo, eu faço e sei que em São Paulo também é possível fazer.

O SUS oferece esse procedimento?

Existe uma previsão legal, existem também cinco centros no Brasil que fazem essa cirurgia pelo SUS. Mas, às vezes, não existe médicos capacitados nesses hospitais e com treinamento para fazer esse procedimento. Mas existe uma previsão legal, sim.

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