Pai solo, carioca quebra tabus de adoção tardia na web: “A vida mudou”
Neste Dia dos Pais, o Metrópoles conversou com o pedagogo Erasmo Coelho, que compartilhou sua experiência com a adoção tardia e monoparental
atualizado
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O conceito de mãe solo tem sido muito debatido nos últimos anos devido às mulheres que enfrentam corajosamente o desafio de criar seus filhos sozinhas. Embora seja mais comum entre elas, há homens que também desempenham o papel de pai solo. É o caso de Erasmo Coelho.
Morador do interior do Rio de Janeiro, Erasmo, de 41 anos, decidiu fazer uma adoção tardia para criar e educar uma criança. Ao Metrópoles, o pedagogo conta que iniciou o processo de forma virtual, em 2020. Em maio de 2021, a adoção foi concluída e ele se tornou pai de Gustavo, à época com 11 anos.
“A partir do momento que eu me tornei pai do Gu, minha vida mudou. Passei a me deixar em ‘segundo plano’ e dar prioridade ao meu filho. O fato dele ser meu filho por vias adotivas é um detalhe, não o vejo como um filho adotivo, ele é meu filho que sempre sonhei. Ele nasceu pra ser meu filho”, diz.
Em suas redes sociais, Erasmo compartilha o seu dia a dia com Gustavo, mostrando um pouco da rotina como pai solo. Além disso, o carioca se dedica a produzir conteúdos informativos sobre a adoção monoparental tardia. Ao todo, ele possui mais de 86 mil seguidores apenas no Instagram.
Desafios da adoção
Ser pai solo é uma realidade que tem crescido nos últimos anos. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2020 revelou que, no Brasil, cerca de 8,4% das famílias são chefiadas por homens solteiros, divorciados ou viúvos – o que pode incluir situações de adoção monoparental.
A decisão de criar um filho sozinho traz consigo desafios únicos, muitas vezes devido às expectativas associadas aos papéis de gênero na parentalidade. Assumir a responsabilidade de educar uma criança não foi uma tarefa simples para Erasmo. No entanto, ele afirma que a preparação prévia foi crucial em sua jornada.
“Antes da adoção, eu fazia parte de grupos de apoio, assistia vídeos, lia muito e escrevia sobre cada etapa, o que me ajudou muito. O difícil, às vezes, é ser aquele que chama a atenção, dá uma bronca e que, ao mesmo tempo, precisa chamar, sentar e orientar”, relata o carioca.
Erasmo também relembra o momento em que Gustavo chegou em casa. Segundo o carioca, o jovem, que morava em São Paulo, não sabia ler e nem escrever — ele o alfabetizou —, tinha momentos de revoltas e a autoestima baixa. Foi preciso cuidado e paciência para viver esses momentos com o filho.
“É uma sintonia muito grande”
Para conseguir estar mais presente na vida de Gustavo e oferecer o apoio necessário, Erasmo o colocou na escola ao lado de onde trabalha. Além disso, optou por falar abertamente sobre o processo de adoção sem tabus, medos ou preconceitos.
“Eu sempre disse que tudo que o fizesse mal, era para ele pôr para fora. Eu sempre ouço sem recriminar ou criticar e deixo claro que sou grato a Deus pela vida de seus genitores. Se não fosse eles, eu não teria a possibilidade de ser seu pai. Eu nunca tentei ‘apagar ou negar’ sua história anterior, eu não tenho esse direito”, explica.
Questionado sobre a relação entre os dois, o pedagogo responde que é uma sintonia muito grande, afinal, ele é seu melhor amigo. “Nossa relação de pai e filho é boa, claro que há momentos que preciso ser firme, orientar, corrigir, mas é maravilhoso ser pai do Gustavo. Ele me fez um homem melhor”.
Apoio e suporte
Apesar dos desafios de ser pai solo, Erasmo conta ao Metrópoles que seus pais e sua irmã são uma grande rede de apoio. Ele também recorre ao suporte de grupos que atuam na preparação dos pretendentes e na troca de experiências após o processo.
Para o Dia dos Pais, o carioca planeja passar um dia agradável em família. “Esse será o 4° ano que vou passar o Dia dos Pais com ele. Já estamos preparando algo, como fazer um churrasquinho, ir ao cinema, ao shopping. Mas se não for possível, o mais importante já temos: o amor um pelo outro”, finaliza Erasmo.