O que acontece no seu cérebro quando você exagera no açúcar
Jamais houve tamanha consciência dos malefícios do consumo excessivo de açúcar, um dos causadores da obesidade; veja por que evitar
atualizado
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Na história da humanidade, jamais houve tamanha consciência dos malefícios do consumo excessivo de açúcar, um dos causadores da obesidade. Ainda assim, a situação vai de mal a pior: nos últimos 30 anos, as taxas da doença entre crianças e adolescentes quadruplicaram no mundo, além de dobrarem entre os adultos.
É estimado que mais de um bilhão de pessoas sejam afetadas pela obesidade, condição potencialmente letal, já que pode ser porta de entrada para outros 45 problemas de saúde.
As diretrizes internacionais recomendam limitar o consumo de açúcar adicionado a menos de 10% da ingestão calórica diária. Para entender o problema que a substância representa, basta imaginar que todo alimento que consumimos, ainda que não contenha açúcar adicionado, irá ser transformado no organismo até virar glicose.
Logo, adicionar açúcar aos alimentos representa uma sobrecarga, como um aditivo energético. Além de não ter valor nutricional, as pessoas acabam substituindo refeições saudáveis por alimentos ricos em açúcar e sem qualidade, expondo-se a doenças como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, síndrome metabólica e outras.
Muito se fala da correlação entre o açúcar e obesidade, mas pouco se discorre sobre o desfecho desse consumo na saúde cerebral. O órgão, bem se sabe, está sempre alerta, e as dietas ricas em açúcares refinados afetam diretamente seu bom funcionamento.
O açúcar promove aumento da inflamação e do estresse oxidativo, assim, a função cerebral também é prejudicada — e pode gerar até mesmo um agravamento dos sintomas de transtornos do humor, como a depressão.
Para entender melhor, basta lembrar que a serotonina é um neurotransmissor que ajuda a regular sensações como sono, apetite e humor, além de inibir a dor. Ao todo, 95% desse neurotransmissor é produzido a nível gastrointestinal, e está forrado com centenas de milhões de células nervosas e neurônios.
O intestino não apenas ajuda a digerir os alimentos, como também orienta as nossas emoções. Com uma alimentação rica em açúcar, esse microbioma é afetado, gerando consequências drásticas não apenas na saúde intestinal, como em seu grau de inflamação, impactando o humor e a energia.
Estudos robustos já revelaram que uma dieta ocidental, rica em industrializados e pobre em nutrientes, está interligada ao aumento da ansiedade. Também não é novidade que o açúcar, para diversos indivíduos, se trata de uma substância viciante, resultando em um desequilíbrio no sistema de recompensa cerebral e fazendo com que você deseje cada vez mais e mais, levando a perda do autocontrole.
Pesquisas realizadas com ratos pelo Connecticut College, por exemplo, mostraram que biscoitos recheados ativam mais neurônios no centro de prazer do cérebro dos ratos do que a cocaína.
Além disso, uma pesquisa conduzida em Princeton, de 2008, verificou que os ratos podem se tornar dependentes de açúcar, e que essa dependência pode estar relacionada a vários aspectos do vício: ânsias, compulsão alimentar e abstinência.
Outra área do cérebro impactada negativamente por dietas ricas em açúcar é o hipocampo, nosso “centro” de memória. Pesquisa de 2017 publicada na revista Scientific Reports revelou que indivíduos com níveis elevados de consumo de açúcar tinham 23% mais chances de serem diagnosticados com um transtorno mental do que aqueles com o menor consumo.
Logo, elevados níveis de açúcar prejudicam a saúde mental de forma generalizada. A glicose sanguínea, quando aumentada, prejudica os vasos sanguíneos do organismo.
Estudos de longo prazo com diabéticos mostraram danos cerebrais progressivos, levando a déficits no aprendizado, memória, velocidade motora e outras funções cognitivas.
Por isso, a reeducação alimentar é fundamental. Educar o paladar para satisfazer nosso desejo por doces por meio do consumo de frutas e alimentos benéficos à saúde é extremamente fundamental. Evitar alimentos com açúcar adicionado não é um mero “atalho” para um shape perfeito, mas, sim, para uma saúde integral, de dentro para fora.
(*) Thaiz Brito é nutricionista pós-graduanda em Nutrição Esportiva Clínica