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Dieta flexível promete trincar a barriga sem abrir mão das guloseimas

Popular nos EUA, a dieta começa a trazer para o Brasil a ideia de que não existe comida boa ou ruim: é tudo uma questão de cálculo

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Ovos de Páscoa Veganos Renata Dias
1 de 1 Ovos de Páscoa Veganos Renata Dias - Foto: Fernando Veler/Divulgação

Como chapar a barriga comendo sorvete e ovo de Páscoa todos os dias? A “dieta flexível”, a mais nova moda das redes sociais, especialmente do Instagram, promete responder essa pergunta de um milhão de dólares.

Basta uma busca pela hashtag #flexibledieting (dieta flexível, em português) na rede para uma horda de sarados segurando potes de Nutella e vasilhas recheadas de cereal açucarado pularem na sua tela.

Parece bom demais para ser verdade. “E é”, resume a advogada Valeska Bruzzi, carioca abrigada em São Paulo e uma das maiores “garotas propaganda” do tal método na rede. Além de consumidora assídua de queijo quente (aquele ultraprocessado) e pão de mel, Valeska também exibe a barriga trincada dos sonhos de muita gente que passa os dias a ovo e alface.

Ao contrário de priorizar tudo o que é zero e light, como muitas dietas tradicionais preconizam, a tal da dieta flexível, muito mais popular nos Estados Unidos do que aqui, se baseia na contagem dos macronutrientes – proteína, carboidrato e gordura – necessários para se alcançar objetivos.

Dentro dessa lógica, nenhum alimento é proibido ou “engorda”, desde que você não ultrapasse suas quantidades máximas. Portanto, se quiser economizar na batata doce durante o dia para se acabar em uma barra de chocolates à noite, a escolha é sua.

 

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E certifique-se de observar se o alimento tem outros pontos positivos além da baixa caloria

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No caso de Valeska, por exemplo, a dieta flexível foi a corda que a resgatou de um transtorno alimentar impulsionado por hábitos restritivos, que excluíam completamente do cardápio alimentos como carboidrato, óleos vegetais e até grãos.

“Isso restringia muito minha vida social. Até salada era problema porque os temperos precisavam ser todos naturais. Imagina comer em um restaurante self-service. Era uma missão impossível. Só andava com marmita”, conta a advogada.

Ela conta ainda que, embora o corpo estivesse mais do que ótimo, a saúde não se refletia na cabeça. Com tantos “não pode”, Valeska desenvolveu compulsão alimentar, problema que a levou a sair da cama de madrugada para ir buscar chocolate na rua – ela fala disso abertamente no Instagram.

Tinha pânico de carboidrato. Não comia um prato de arroz e feijão há anos, nem sabia o que era isso. A dieta flexível me ajudou a entender que comida é comida, não existem comidas boas e ruins.

Valeska Bruzzi, 28 anos, advogada

Há cinco meses com o acompanhamento de um coach especializado no método, ela diz que conseguiu “secar” ainda mais desde que abandonou a fobia por arroz e feijão. Chegou até a publicar uma foto no Instagram comemorando a volta da banana na sua fruteira, mostrando a barriga e tudo. “Falta ovo, mas não falta banana na minha casa”, escreveu.

 

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O “antes e depois” de Valeska Bruzzi: sem carboidratos e com pão de mel de sobremesa

 

Alto lá
O coach que acompanha Valeska e outros atletas comilões do Instagram é Sérgio Alcântara, brasileiro dono da KT Fitness, baseada nos EUA, onde a tal da dieta flexível, ou “IIFYM”, como é chamada nas redes (“if it fits your macros” – “se cabem nos seus macronutrientes”, em português) é popular há mais tempo. “Não coma menos, coma melhor. Aqui, não acreditamos que você deva passar fome para atingir seu peso e objetivos fitness”, preconiza o site.

Mas, segundo Sérgio, a coisa do ovo de Páscoa liberado não é bem assim. As guloseimas geralmente entram na menor parte da dieta: entre 10% e 25% do total de calorias diárias.

Se uma pessoa consome 1,6 mil calorias, por exemplo, poderia deixar entre 160 e 400 para elas sem perder os resultados. “Está longe de ser um método liberal”, explica. “Fazer a dieta flexível sem conhecimento ou ajuda profissional pode atiçar ainda mais compulsões”, acredita.

 

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O discurso é endossado pela nutricionista Mariana Póvoas, outra brasileira residente nos EUA. Tem “gordice” no cardápio sim, mas não é essa farra toda que as redes mostram.

“Liberal não é a palavra. O nome já diz: ‘flexível’”, reforça. “Logicamente, nossa prioridade deve ser sempre a saúde geral e isso só conseguiremos se nossa dieta for baseada em alimentos saudáveis”, esclarece.

De acordo com Póvoas, pelo menos 85-90% da alimentação deve ser o mais natural possível. “De qualquer forma, não faria sentido alguém fazer a dieta flexível e postar só frango, peixe, batata doce e salada porque não teria graça, é o básico!”, comenta.

Para Mariana, nutricionistas e profissionais que criticam a metodologia, na verdade, não a conhecem com profundidade. “Alimentos ‘sujos’ não devem ser a base da alimentação por serem pobres em micronutrientes e ricos em macronutrientes de má qualidade como carboidratos simples e gordura trans. Mas, se você tem uma alimentação saudável baseada em bons carboidratos e proteínas de alta qualidade, incluir esse tipo de comida esporadicamente não fará mal algum”, conclui.

No Brasil, a moda não pegou ainda. Os profissionais mais tradicionais olham com cautela para o tal do protocolo, aflitos de que a ideia de que “tudo bem” comer porcaria todos os dias prejudique os seguidores. “Não existe resultado sem saúde, sem melhora nutricional”, afirma o nutricionista Clayton Camargos.

“Não adianta diminuir a gordura corporal se você ficou hipertenso, se aumentou colesterol. A dieta não tem que ser restritiva e monótona. As guloseimas podem fazer parte da rotina desde que bem calculadas. Até porque ninguém faz dieta a vida inteira com nutricionista ou nutrólogo. O importante é que se aprenda nesse período o ‘ato saudável’. E esse método não ensina isso”, acredita.

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